Gonçalo Feito festejou a conquista da Taça da Polónia em 2024/2025 - Foto: D. R.
Gonçalo Feito festejou a conquista da Taça da Polónia em 2024/2025 - Foto: D. R.

'Bebe' de José Mourinho e Jorge Jesus e tem Inglaterra nos sonhos

Gonçalo Feio faz vénia a dois nomes grandes do futebol mundial. Treinar em Portugal está claramente na lista de objetivos, mas Premier League... é Premier League. Taça da Polónia já ninguém a tira do currículo

Após vários anos como adjunto, Gonçalo Feio lançou-se como treinador principal e tem logrado alcançar resultados em todos os projetos. Já subiu de divisão, já venceu uma taça e já disputou competições europeias. Promete.

— A estreia a solo aconteceu na época 2022/2023, ao serviço do Motor Lublin. Pegou na equipa no último lugar do terceiro escalão polaco e subiu de divisão.

— Acabámos por ir ao play-off e subir. Na altura já somava alguma experiência e títulos. Tinha já algum mercado e acabei por escolher o último classificado da segunda divisão, que é o terceiro escalão. Acredito muito no trabalho e na metodologia e depois de várias reuniões percebi que condições iria ter para fazer as coisas à minha maneira. Além do estádio muito bom e com uns excelentes adeptos. Muita gente me perguntou o que é que eu ia fazer, mas eu acreditava muito que as coisas iam correr bem. E correram. Faltavam dois anos e meio para os 75 anos do clube e o desafio do presidente para mim era comemorar essa efeméride na primeira divisão. Eu disse-lhe para ter calma, mas que iríamos tentar chegar ao play-off para lutarmos pela subida à segunda divisão. E acabámos por conseguir, nós, equipa técnica, esse feito. Só em equipa é que se alcançam resultados.

— Depois regressou ao Legia.

— Ao Legia não se diz que não. Ainda para mais depois do que eu tinha vivido lá durante cinco anos. Faltavam sete jogos e o clube estava fora da zona de acesso às competições europeias. Mas acabámos por ser felizes e conseguimos o apuramento europeu.

— Na temporada seguinte, na UEFA Conference League, o excelente percurso só terminou nos quartos de final e diante do Chelsea. E ganhou em Stamford Bridge, algo que mais nenhum treinador português voltou a conseguir até hoje.

— Foi incrível, sim. Mas não fui eu que ganhei em Stamford Bridge, fomos nós. O futebol é um jogo de equipa. Mas também foi agridoce porque uma semana antes perdemos 0-3 com 0-0 ao intervalo. Sabíamos que o Chelsea era o favorito, mas fomos a Stamford Bridge com a ambição de querermos ser a primeira equipa polaca a ganhar em Inglaterra, mas também para competir e deixar a nossa marca. Caímos de pé, diante de uma equipa que acabou por ser campeã do mundo nessa época. Foi uma noite histórica.

Vencer em Stamford Bridge foi incrível. Claro que o Chelsea era favorito, mas foi noite histórica.

— E o ambiente de Inglaterra?

— Quero lá chegar e nesse dia cresceu ainda mais o sonho e a ambição. Quero treinar Premier League. E o Chelsea é o clube da minha geração, devido ao mister José Mourinho, alguém que tanto me inspirou. Ainda hoje continuo a beber também do mister José Mourinho, o maior dos treinadores portugueses. Assim como também aprendi muito com Jorge Jesus, desde logo dos tempos do Belenenses, uma vez que eu passava muito tempo no Restelo.

— Em 2024/2025 vence a Taça da Polónia pelo Legia e qualifica o clube para a UEFA Europa League.

— Muitos jogos, muita competição, muitas vitórias, um título… Esse é o contexto competitivo onde quero realmente estar. Foi uma época muito especial, sem dúvida.

— Recentemente rumou aos franceses do Dunkerque, mas não chegou a ficar lá um mês. Porquê?

— Foi uma decisão minha. Entendi que o que me tinha sido proposto e o que encontrei eram coisas muito diferentes. O caminho que queria seguir e o caminho da instituição era muito diferentes. Rejeitei outros projetos, entre eles em Portugal, mas percebi que não estavam reunidas as condições para fazer o meu trabalho. Assumi isso e fiquei sem clube alguns meses.

— Que projetos em Portugal?

— Acho que não seria muito correto da minha parte dizer nomes de clubes. Tenho muito orgulho de ser português, quero treinar em Portugal e esse momento chegará com naturalidade. Quero que um dia o meu trabalho seja conhecido e reconhecido no meu país.

— Falou-se no Southampton, no Rangers e até em seleções. Sentiu-se valorizado com estas situações?

— Obviamente. O facto de ter viajado para Inglaterra para reunir com o Southampton diz muito. O Glasgow Rangers também tem essa dimensão britânica e competições europeias. Essas coisas acabaram por não acontecer, é futebol. Desta vez não deu, mas tenho de continuar a crescer, competir, ganhar e depois vai dar.

— No Radomiak leva dois jogos e duas vitórias. Estado de graça?

— As coisas têm corrido bem, sim. A equipa tem estado super recetiva, o clube acredita muito em nós. Entendo que esta ambição que demonstramos sente-se no dia a dia. A liga polaca é muito competitiva e nós temos de ter a ambição de nos chegarmos aos grandes. Sonhamos com as competições europeias, algo que o clube nunca conseguiu. Seguimos com ambição, trabalho e humildade.

Entrada a todo o gás no Radomiak deixa adeptos a sonhar

Feio leva duas vitórias consecutivas - Foto: D. R.

O histórico que possui no futebol polaco não deixa margem para dúvidas: Gonçalo Feio é um dos nomes mais respeitados da atualidade e não há clube que não pense no técnico luso cada vez que precisa de olhar para o mercado em busca de um novo timoneiro.

A atualidade de Gonçalo Feio é o Radomiak Radom e os adeptos têm estado em clima de euforia. Assim ficaram quando o português foi anunciado, mais estão depois dos dois primeiros jogos. Com Gonçalo Feio ao leme — ele que sucedeu ao compatriota João Henriques —, o Radomiak logrou duas vitórias consecutivas, batendo o Lechia Gdansk (2-1), fora de casa, e o Cracóvia (3-0), em casa.

Foi, de resto, a primeira vez que o emblema de Radom somou dois triunfos consecutivos na presente edição do campeonato polaco, internamente conhecido como Ekstraklasa. O Radomiak está, agora, no 5.º lugar da tabela classificativa e a mira continua apontada para cima...