Gonçalo Feio é ainda muito jovem, mas já tem um legado de bastante relevo na Polónia - Foto: D. R.
Gonçalo Feio é ainda muito jovem, mas já tem um legado de bastante relevo na Polónia - Foto: D. R.

Treinador português brilha além-fronteiras: «Fui para a Polónia estudar Erasmus...»

Da carreira académica ao percurso no futebol profissional: Gonçalo Feio é um dos mais conceituados da atual realidade polaca. Sonhos de carreira bem identificados

Tudo começou em virtude do percurso académico, hoje em dia é um dos treinadores mais conceituados na Polónia. O jovem luso, de apenas 35 anos, tem dado cartas, já conquistou título e projeta-se para uma carreira de grande dimensão. A base, sublinha, será sempre o trabalho. Tudo o resto chegará...

— Tem 35 anos e está há cerca de 15 na Polónia. Chegou para estudar, entrou no mundo do futebol profissional e… ficou. Conte-nos um pouco da sua história.

— É uma história da qual tenho orgulho. O fim ainda não o conhecemos, mas o caminho foi de muito trabalho e sacrifício. Fui para a Polónia em Erasmus, mas estando ligado ao futebol peço para poder observar a academia de um dos maiores clubes, o Legia. Ao fim de dois meses foi-me proposto trabalho e até achei que estavam malucos. As coisas foram-se desenvolvendo… Também dava aulas de português na Polónia para ganhar algum dinheiro. Acabei por realizar aqui grande parte da minha carreira até ao momento. Vim sem conhecer ninguém na Polónia, no que ao mundo do futebol diz respeito, e hoje posso dizer que conheço muita gente, sobretudo, à custa do meu trabalho.

— Depois de algumas épocas a trabalhar nas camadas jovens do Legia Varsóvia, foi convidado a integrar a equipa técnica da equipa principal. Tratou-se do reconhecimento das suas competências?

­— Basicamente, o meu caminho foi sempre o de ter de tomar decisões saindo da minha zona de conforto. Sabia que queria estar no futebol profissional. Nunca pensei que fosse na Polónia, mas era claramente isso que queria. Começar a treinar os sub-10 sem falar a língua é claramente sair da zona de conforto. Depois, passar a ser um dos coordenadores de formação. Em seguida, Henning Berg, uma pessoa incrível que ganhou a Liga dos Campeões no Manchester United, com Alex Ferguson, convida-me para ser analista. Eu tinha 23 anos! Depois disso disse-me que precisava de mim no campo para ser um dos adjuntos. Acho que sou uma pessoa com sorte, ainda que acredite que o trabalho e a preparação propiciam as oportunidades. Abraço desafios sempre de forma muito positiva e ambiciosa, mas reconheço que tive pessoas ao meu redor que me deram a mão. E estou muito agradecido a todas elas. O futebol polaco adotou-me e eu tento retribuir com o que melhor posso, com futebol, emoções e princípios.

— Ainda no mesmo país, teve a oportunidade de ser adjunto no Wisla Cracóvia no Raków, sendo que pelo meio também esteve na Grécia, assumindo as mesmas funções no Xanthi. Esses anos foram determinantes para que se tenha tornado treinador principal?

­— Sim, claramente. Estando no Wisla encontro-me com uma pessoa muito importante, chamado Kiko Ramírez. Foi com ele que também fui para a Grécia. Neste momento, ele faz parte da minha equipa técnica. É uma pessoa que me é muito próximo, é mais um par de olhos. Foi e continua a ser alguém da maior importância para mim. Mas sim, além dos estudos, essas experiências também foram fundamentais para eu chegar aqui da forma como cheguei. Fruto, reforço, de muito trabalho.

Ser agenciado por Jorge Mendes é «motivo de orgulho»

Técnico luso está lançado para grande carreira - Foto: D. R.

— É um treinador agenciado por Jorge Mendes. Esse facto também faz com que tenha horizontes alargados para a sua carreira?

— Para um treinador que construiu o seu caminho fora de Portugal, ter o interesse de Jorge Mendes em agenciar a sua carreira é, claro, um motivo de orgulho. O trabalho tem de continuar a ser meu para poder dar-lhes argumentos do desenvolvimento da minha carreira. Sozinho não se chega a lado nenhum nesta vida.

— Ao longo deste seu percurso na Polónia teve alguns problemas com árbitros, devido a comportamentos tido como menos próprios, e chegou mesmo a ser acusado pelo Ministério Público da Polónia. Sente-se um bom rebelde, ou, por outro lado, entende que tem sido um alvo fácil?

— As pessoas que aprendem com os erros evoluem na vida. Tenho uma forma muito emocional de viver a minha profissão. Reconheço que, por vezes, essa ligação emocional levou-me a cometer erros, que tive, obviamente, de assumir. Mas ganhei os processos no Ministério Público, fui ilibado e são casos arquivados. No entanto, algumas situações levaram-me a aprender e a deixar mais preparado. Sou uma pessoa com uma personalidade forte, com opinião, e isso pode deixar-me mais exposto à atenção mediática. Faz parte. Mas sou treinador de futebol e não quero ser celebridade. Sirvo o futebol e não me sirvo do futebol. Neste momento, sou mediático na Polónia por bons motivos, felizmente, e tudo isso deve-se à minha dedicação ao futebol.

Grécia e França estão no currículo

O polaco mais português da Polónia. Assim pode definir-se Gonçalo Feio. O percurso do treinador luso tem sido quase todo feito naquele país, onde, em várias funções, já conta com passagens por cinco emblemas: Legia Varsóvia, Wisla Cracóvia, Raków, Motor Lublin e, atualmente, Radomiak Radom.

As raízes estão quase todas lá, mas o futuro prevês noutras realidades competitivas bem mais elevados. Com o campeonato português, claro está, à cabeça, mas com Inglaterra sempre no horizonte. Olhando para trás, do currículo constam ainda outros dois países: Grécia (Xanthi) e França (Dunkerque). As experiências foram curtas, é certo, mas reforçaram a ideia de que Feio é um cidadão do mundo...

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