Aursnes mudou o paradigma do futebol português
As primeiras impressões do campeonato, decorridas duas jornadas, são boas. Francesco Farioli mudou num ápice o FC Porto, tendo já feito esquecer o período dantesco de Martín Anselmi, que, por mais argumentos que apresente, não consegue convencer ninguém.
A contratação do treinador argentino foi um fiasco e a decisão de André Villas-Boas de nem o deixar começar a nova época foi, de facto, a melhor. Fica na história como um erro de casting, assim ao jeito da promoção de João Pereira no Sporting. Frederico Varandas foi rápido a reagir e ainda foi a tempo de se sagrar bicampeão. Veremos como resulta a era Farioli, que, naturalmente, teve de começar em aceleração.
No Dragão, foi rei morto, rei posto e o italiano teve de mudar praticamente tudo em muito pouco tempo, mas, como já escrevi, os primeiros sinais são muito animadores. O FC Porto está muito melhor, tem uma ideia de jogo clara e promete intrometer-se verdadeiramente na luta pelo título.
Quem ficou no plantel já joga o dobro, sejam eles Nehuén Pérez ou Alan Varela, ou mesmo o triplo, casos de Pepê e Samu! Quem chegou também veio para acrescentar. Alberto dá outra vertigem à direita, Bednarek é um líder — sintomática a ação em Barcelos, acalmando Diogo Costa, quando este exagerou no diálogo com o árbitro —, Borja Sainz mostra-se um ala muito comprometido, revelando um papel decisivo no equilíbrio do 4x3x3, e Froholdt é um achado.
O médio dinamarquês foi o jogador que mais me impressionou neste arranque de Liga. Admito que não o conhecia e os 20 milhões de euros investidos na contratação de um jovem de 19 anos pareceram-me um risco, mas confesso que, hoje, já estou mais inclinado para dizer que Froholdt foi uma pechincha!
O dinamarquês é um verdadeiro box-to-box. Forte, dinâmico e agressivo. Inteligente, disciplinado e solidário. Numa palavra: craque.
Mais uma contratação em cheio no futebol nórdico, na linha de Aursnes e Hjulmand, também eles craques da cabeça aos pés. Considero mesmo que o norueguês está a ser decisivo na mudança de paradigma do futebol português. Basta olhar aos números do lateral/médio/extremo — jogue onde jogar, o rendimento é constante e sempre elevado — no Benfica: 42 jogos na 1.ª época, 55 na 2.ª e 53 na 3.ª. Agora, já leva 5. Totalista, claro.
Aursnes só não joga, seja quem for o treinador, se estiver lesionado ou castigado. Chegou no verão de 2022 e a todos convenceu. Um ano depois foi a vez do Sporting contratar uma garantia de fiabilidade: Hjulmand.
O médio dinamarquês também se impôs de forma impressionante. Tanto que já é o capitão. Dois anos em Alvalade e 96 jogos (49 e 47), sempre a um nível altíssimo. De resto, a maior preocupação dos leões, neste momento, é perdê-lo. Diz tudo, não diz?...
O mercado inflacionou, está cada vez mais difícil comprar bom e barato e o Brasil foi já chão que deu uvas. O futebol no outro lado do Atlântico está muito caro e não é por acaso que Sporting (Matheus Reis e Alisson) e FC Porto (Pepê e William Gomes) só têm dois jogadores brasileiros cada no plantel e no Benfica não há nenhum.
A bússola aponta agora para os países nórdicos. Pelo menos a do meio-campo —Schjelderup e Harder têm talento mas ainda não me convenceram — e tanto sportinguistas como benfiquistas devem estar agora a lamentar-se de Hjulmand e Aursnes devido à contratação de Froholdt.
O dinamarquês dos leões deixou o compatriota rumar ao FC Porto e o norueguês, que, como contou Bruno Lage, tem como «uma das funções e também atributos o scouting, pois conhece todos os jogadores do Norte da Europa» deve ter tido aqui um dos poucos erros. Ou ninguém o ouviu, já que o treinador das águias também admitiu que «às vezes até lhe é pedida a opinião»…