As contas de Rui Costa
Verdade seja dita: se a campanha para a presidência do Benfica nem sempre tem sido rica em ideias e projetos, Rui Costa aproveitou a entrevista concedida ao jornal A BOLA, hoje publicada nas diferentes plataformas, para deixar uma promessa concreta: colocar o passivo na fasquia que herdou, o que significa uma redução de 100 milhões de euros nos próximos quatro anos.
Uma intenção audaz — sobretudo se tivermos em conta que tenciona avançar, ao mesmo tempo, com o Benfica District e com a Cidade do Benfica —, mas que reforça a ideia de que Rui Costa encara as contas como trunfos, até pela comparação que faz com os números apresentados recentemente pelo FC Porto de André Villas-Boas, que foi intervencionado pela UEFA há não muito tempo.
Embora tenha feito nome a calcular passes e não balancetes, Rui Costa parece agora mais confortável a olhar para a vertente financeira do que para a realidade desportiva. Apresenta justificações para o aumento do passivo e traça um plano para o recuperar, insiste na ideia dos 500 milhões de euros de receita e garante que o sucesso do próximo exercício está assegurado, mas torna-se mais vago quando é preciso explicar treinadores despedidos, contratações falhadas ou títulos que fugiram para os rivais.
É nesse campo que muitos sócios e adeptos do Benfica ainda esperam que Rui Costa faça a diferença, sobretudo em comparação com os outros candidatos, mas só com a contratação de José Mourinho conseguiu condicionar os opositores, pelo menos em contexto de campanha.
Nesta entrevista concedida ao jornal A BOLA, a menos de um mês de um ato eleitoral que será sempre histórico, Rui Costa manifesta uma preocupação legítima com a estabilidade diretiva do Benfica. O processo de revisão dos estatutos não foi perfeito, mas permitiu que o clube assumisse mudanças muito importantes para o futuro. É justo dizer que o Benfica ficou mais democrático, mas isso não pode ser sinal de fragilidade. Agora, mais do que nunca, é preciso pensar duas vezes antes de chumbar contas para contestar uma Direção, ainda para mais tendo em conta a representatividade existente nas Assembleias Gerais.
O Benfica pode dar o exemplo também nesta matéria, se decidir encarar a urgência de questionar todo o conceito desatualizado de filiação, mas esse será sempre um tema extremamente sensível, ainda para mais no rescaldo de umas eleições tão marcantes.