Intensidade digna de registo, equilíbrio a rodos, boas ocasiões... faltaram os golos - Foto: Rodrigo Antunes/LUSA
Intensidade digna de registo, equilíbrio a rodos, boas ocasiões... faltaram os golos - Foto: Rodrigo Antunes/LUSA

Artistas? Os treinadores. Que bela lição estratégica! (crónica)

Nulo não terá sido do agrado dos adeptos, mas pensando o jogo é constatar a qualidade de João Nuno e Vasco Botelho da Costa. Guarda-redes (des)ajudaram

Nem sempre um nulo significa que o jogo tenha sido desinteressante. Além do ritmo interessante que as duas equipas apresentaram ao longo da maior parte do desafio, houve oportunidades claras de golo de parte a parte, mas Renan Ribeiro e André Ferreira tinham cadeados bastante resistentes nas respetivas balizas.

Mas se no terreno de jogo não houve arte nem engenho para o que nó fosse desatado, honra seja feita aos treinadores, que deram uma autêntica aula estratégica.

João Nuno e Vasco Botelho da Costa adotaram sistemas táticos similares — ambos dispuseram as equipas em 4x3x3, com a nuance de que no meio-campo os tricolores jogaram em 2+1 (com Alex Sola à frente de Paulo Moreira e Oumar Ngom), ao passo que os cónegos alinharam em 1+2 (com Stjepanovic atrás de Benny e Alanzinho) — e essa questão estratégica justificou muito do equilíbrio que marcou este encontro.

Os minhotos conseguiram, numa primeira fase, saltar bem à pressão, condicionando a saída de bola dos lisboetas, facto que obrigou o último reduto estrelista a bater longo várias vezes. E, nesse momento, os forasteiros tinham mais facilidade em recuperar a posse. Do outro lado, nota para o belíssimo trabalho, sobretudo, de Paulo Moreira e Oumar Ngom, dupla de médios que queimou todas as linhas e impediu, na maior parte das vezes, que os artistas dos forasteiros (nomeadamente Alanzinho e Benny) pudessem construir de frente para o jogo.

Apesar desta lição apresentada pelos técnicos e que foi devidamente assimilada pelos intérpretes, houve, naturalmente, falhas de parte a parte. Ou, noutros casos, rasgos individuais que, por norma, não são anuláveis. Jovane Cabral (6' e 21') podia ter feito melhor, tal como Guilherme Schettine (13' e 37').

Sidny Cabral também ousou a meia distância (18'), o mesmo sucedendo com Dinis Pinto (23'). Mas o grande momento da primeira parte foi protagonizado por Diogo Travassos, que, na recarga a uma defesa de Renan Ribeiro, cabeceou para uma enorme intervenção do guarda-redes brasileiro.

Os duelos voltaram a ser uma imagem de marca na etapa complementar, mas Diogo Travassos (64'), Luís Semedo (67'), Kiko Bondoso (69') e Gilberto Batista (89') ameaçaram para o Moreirense. Cenário idêntico construído por Jovane Cabral (52'), Oumar Ngom (55'), Ianis Stoica (72') e, novamente, Oumar Ngom, já na compensação, com um cabeceamento à barra.

Não houve artistas no relvado, houve craques nos bancos. E dividiu-se o mal pelas aldeias...

O melhor em campo: André Ferreira (Moreirense)
À imagem do seu adversário de posto específico, também não foi muitas vezes colocado à prova, mas quando foi, respondeu presente. Eficaz na meia distância de Jovane Cabral (6') e Sidny Cabral (18'), voou, em pleno relvado, para travar a investida de Ianis Stoica (72'). O extremo romeno fletira da esquerda para o centro, remata cruzado e bem colocado, mas o camisola 13 dos cónegos tocou o céu.
A figura: Renan Ribeiro (Estrela da Amadora)
Sem ter tido uma noite de trabalho por aí além, acabou por ser determinante no ponto conquistado. Seguro entre os postes, nomeadamente nos lances de bola parada, teve de aplicar-se a fundo aos 37 minutos e... a dobrar: primeiro travou, com alguma dificuldade, dada a violência do disparo, a tentativa de Guilherme Schettine, na recarga brilhou após cabeceamento de Diogo Travassos.

As notas dos jogadores do Estrela da Amadora:

As notas dos jogadores do Moreirense:

João Nuno (treinador do Estrela da Amadora)

Foi um jogo muito repartido. O Moreirense também tem qualidade. Nós tivemos sempre uma postura muito correta e fomos competitivos. Estivemos sempre ligados e acabámos por cima. Penso que o resultado se ajusta, mas a haver um vencedor penso que teria de ser o Estrela da Amadora, pelas oportunidades criadas. Não foi o resultado que queríamos, mas estou satisfeito com a atitude competitiva da equipa.

Vasco Botelho da Costa (treinador do Moreirense)

Foi um jogo com mais luta do que aquilo que nós gostamos. Fomos sempre muito intermitentes nos diferentes momentos. Honestamente, sinto que a semana passada esteve ainda um bocadinho presente nas nossas cabeças. Não é algo que é gravíssimo, até tento em conta o perfil de jogadores que temos, mas não consigo dizer que merecíamos a vitória, porque fomos sempre muito intermitentes. E o Estrela da Amadora também se bateu bem, é uma boa equipa e tentou muitas coisas diferentes a que nós conseguimos dar resposta. O empate ajusta-se.