Paulo Fonseca: «Shakhtar vai lutar pela pátria»
Paulo Fonseca venceu tudo ao serviço do emblema ucraniano. Foto: D.R.

FC PORTO Paulo Fonseca: «Shakhtar vai lutar pela pátria»

NACIONAL12.12.202308:15

Treinador, que orientou os dragões e os ucranianos no passado, antevê dificuldades para o FC Porto; refere que o Shakhtar Donetsk está mais forte do que no primeiro, mas dá favoritismo aos azuis e brancos

Ninguém mais habilitado do que Paulo Fonseca para falar do FC Porto- Shakhtar Donetsk, o jogo que decidirá, esta quarta-feira à noite, no Estádio do Dragão, a equipa que acompanha o Barcelona nos oitavos de final da Champions League. Atualmente timoneiro do Lille, de França, o treinador está expectante relativamente ao desfecho da partida, mas dá claro favoritismo aos dragões, fruto da sua experiência na competição e, claro está, do fator casa, pois vão estão cerca de 50 mil espetadores no recinto azul e branco.

A BOLA falou com o técnico que passou pelo FC Porto em 2013/2014, onde conquistou uma Supertaça Cândido de Oliveira, diante do V. Guimarães, e também representou o emblema ucraniano durante três temporadas, com um registo de três campeonatos, três Taças da Ucrânia e uma Supertaça também naquele país.

Perspetivando o duelo do Estádio do Dragão, Paulo Fonseca não tem dúvidas em considerar o FC Porto o favorito para a vitória. «Tem uma grande dose de favoritismo, mas desta vez o Shakhtar Donetsk está mais forte do que no último jogo. Não vão ser favos contadas para o FC Porto, ninguém espere isso. Este não é, contudo, o Shakhtar Donetsk do meu tempo, composto por imensos craques, agora tem muitos jogadores da formação, também com muito valor. A entrada do novo treinador Marino Pusico deu um ânimo à equipa e convém não esquecer que já ganharam ao Barcelona. Ou seja, todos os resultados são possíveis neste jogo do Estádio do Dragão, embora, reforço, o FC Porto é mais do que favorito a ganhar e a seguir em frente na competição», salienta.

Paulo Fonseca venceu a Supertaça Cândido de Oliveira pelo FC Porto

EM NOME DE UM POVO

Paulo Fonseca revela que assistiu pela televisão ao encontro do Shakhtar Donetsk frente ao Antuérpia, na última jornada, e ficou impressionado com a qualidade do futebol praticado pelos ucranianos. «Para o FC Porto será diferente do primeiro jogo. Vai ter a vida mais difícil, terá outras adversidades no jogo, pois nessa altura o Shakhtar Donetsk tinha algumas baixas importantes. Só com grande capacidade o FC Porto conseguirá ultrapassar este obstáculo. E há um fator que também terá de ser levado em linha de conta e que se prende com o facto desta equipa não olhar apenas para o plano desportivo, mas sim a luta que defende e o nome do país, que continua a ser diariamente massacrado pela Rússia. Não tenho dúvidas de que na palestra será feita com um apelo ao nacionalismo dos jogadores, vão lutar pela pátria. Aliás, nem é preciso porque eles estão revoltados com a situação que se vive na pátria deles», revela.

O FC Porto precisa apenas de um ponto para seguir em frente na Champions, mas Paulo Fonseca não acredita que Sérgio Conceição transmita essa ideia aos seus jogadores. «Conhecendo o carisma e a personalidade do treinador, jamais o faria. Vai entrar como em todos os jogos para ganhar, procurando fazer uma boa exibição e brindar os adeptos do FC Porto com um triunfo seguro e imaculado. Mas continuo a dizer que o contexto do Shakhtar Donetsk é completamente diferente do que primeiro jogo e ter cautelas é importante para o FC Porto», acrescenta, não acreditando que os jogadores da formação ucraniana fiquem bloqueados com o ambiente adverso que vão encontrar no Estádio do Dragão. «Não creio que isso tenha influência. Já estão habituados a grandes ambientes e não ficam melindrados com o que se passa na bancada. Não será por aí que vão perder o jogo», diz.

COM FUTEBOL APOIADO

Com a sua visão de treinador, Paulo Fonseca não tem a mínima ideia da estratégia que o treinador do Shakhtar Donetsk vai implementar para tentar surpreender o FC Porto, sabendo que apenas a vitória lhe dará acesso à fase a eliminar da Champions. «Não é uma equipa talhada para pressionar na primeira fase de construção, mas quando recupera a bola tem um futebol apoiado e procura desferir o contra-ataque com muita velocidade, apanhando o adversário desprevenido. Joga simples nos processos e quando quer chega com rapidez à área adversária. É uma equipa composta pelos jogadores que foram campeões europeus de Sub-19 e, por isso, tem bastante qualidade», constata. 

TERMINA CONTRATO COM O LILLE

Bem cotado em França, Paulo Fonseca termina contrato em junho e já foi convidado a permanecer no Lille. O treinador não quer para já falar sobre o futuro e deixa a decisão final para junho. Foi convidado há pouco tempo para assumir o Marselha, mas os dirigentes do Lille não permitiram. Já teve convites para rumar à Arábia Saudita, com um ordenado avultado, mas Paulo Fonseca dá prioridade a um projeto desportivo interessante, nunca escondendo o desejo de treinar na Premier League.

Para já continua feliz em terras gaulesas, onde tem feito um excelente trabalho no Lille, clube que não tem o poder financeiro do PSG, Marselha ou Lyon, mas o técnico luso tem-se batido de igual para igual para os adversários mais poderosos da competitiva Liga gaulesa.

DRAMA DA GUERRA

Depois do início da guerra, Paulo Fonseca fez com que os pais, a irmã, o sobrinho e uma tia da esposa, que é ucraniana, viessem viver para Portugal. Residem atualmente em Paços de Ferreira, numa habitação custeada pelo treinador do Lille, mas o drama da guerra não sai da cabeça de Kateryna Fonseca. Todos os dias vê compatriotas serem assassinados e Paulo Fonseca diz que a guerra na Ucrânia já foi esquecida. «Tudo continua igual, todos os dias morrem inocentes e esta guerra em Gaza serviu os interesses da Rússia. Os apoios passaram a ser apenas para Israel e a Palestina. Os ucranianos estão desamparados. Toda a gente subestimou as potências e quem podia lutar r intervir para parar a guerra não o fez. Os ditadores e imperadores fazem o que querem, reforçam a sua ambição. Veremos o que vai acontecer em breve na Venezuela, na Coreia do Norte e em Taiwan», condena.