Gianni Infantino, presidente da FIFA, presente no sorteio dos 'play-offs' - Foto: Imago
Gianni Infantino, presidente da FIFA, presente no sorteio dos 'play-offs' - Foto: Imago

Futebol só para ricos

'Remate de letra' é o espaço de opinião semanal de Hugo Vasconcelos, editor de A BOLA

É uma traição monumental da tradição do Mundial, ignorando a contribuição dos adeptos para o espetáculo.

Football Supporters Europe, comunicado em reação ao preço dos bilhetes do Mundial

Seguir todos os jogos da seleção inglesa no Mundial de 2026 custará, se optar pelos bilhetes mais baratos e a equipa dos três leões chegar à final, 5920 euros. A isso, terá de juntar acomodação (e os hotéis estão inflacionados) e voos (cada vez mais caros).

Para outras seleções será um bocadinho mais barato (porque a FIFA introduziu um sistema de bilhética dinâmico, cobrando mais para os jogos das seleções em relação às quais se antecipa maior procura), mas não muito, até porque os preços disparam a partir dos oitavos de final, e aí será irrelevante quem joga.

A indignação de adeptos, e das suas associações, por todo o mundo ainda não mereceu, da parte da FIFA, qualquer resposta. Mas vai cair em orelhas moucas. Para a entidade que rege o futebol mundial, não são os adeptos que vão a Vilnius ver um Lituânia-Portugal da qualificação que importam — são aqueles que não seriam apanhados nem mortos num Lituânia-Portugal, em Vilnius ou em qualquer outro lado, a não ser que fosse da fase final dum Mundial.

Mas ao contrário do que parece, os adeptos não estão de mãos atadas. Podem, e devem, ficar em casa. E atendendo ao que se viu no último Mundial de Clubes, não será com os fãs locais, a estes preços, que os estádios vão encher. Bancadas vazias, sem ambiente, são péssimas para o espetáculo ainda mais lucrativo, o da televisão. E talvez assim a FIFA aprenda que o futebol não pode ser (só) para ricos.