Futebol só para ricos
É uma traição monumental da tradição do Mundial, ignorando a contribuição dos adeptos para o espetáculo.
Football Supporters Europe, comunicado em reação ao preço dos bilhetes do Mundial
Seguir todos os jogos da seleção inglesa no Mundial de 2026 custará, se optar pelos bilhetes mais baratos e a equipa dos três leões chegar à final, 5920 euros. A isso, terá de juntar acomodação (e os hotéis estão inflacionados) e voos (cada vez mais caros).
Para outras seleções será um bocadinho mais barato (porque a FIFA introduziu um sistema de bilhética dinâmico, cobrando mais para os jogos das seleções em relação às quais se antecipa maior procura), mas não muito, até porque os preços disparam a partir dos oitavos de final, e aí será irrelevante quem joga.
A indignação de adeptos, e das suas associações, por todo o mundo ainda não mereceu, da parte da FIFA, qualquer resposta. Mas vai cair em orelhas moucas. Para a entidade que rege o futebol mundial, não são os adeptos que vão a Vilnius ver um Lituânia-Portugal da qualificação que importam — são aqueles que não seriam apanhados nem mortos num Lituânia-Portugal, em Vilnius ou em qualquer outro lado, a não ser que fosse da fase final dum Mundial.
Mas ao contrário do que parece, os adeptos não estão de mãos atadas. Podem, e devem, ficar em casa. E atendendo ao que se viu no último Mundial de Clubes, não será com os fãs locais, a estes preços, que os estádios vão encher. Bancadas vazias, sem ambiente, são péssimas para o espetáculo ainda mais lucrativo, o da televisão. E talvez assim a FIFA aprenda que o futebol não pode ser (só) para ricos.