Guardiola e Bernardo Silva
Guardiola e Bernardo Silva - Foto: IMAGO

Bernardo Silva: Guardiola, a influência de Moutinho e os nomes dos cães

Médio português recorda momentos marcantes da vida e carreira em entrevista à BBC

Bernardo Silva, no Manchester City desde 2017, está perfeitamente integrado o clube inglês, tendo sido destacado recentemente pelo treinador Pep Guardiola como um dos melhores que já treinou - e já leva mais de 400 jogos. Conquistou seis títulos da Premier League com o clube, mais do que alguma vez imaginou. Em entrevista à BBC, jogador falou sobre a experiência de trabalhar com Guardiola, os jogos que mais o marcaram e o sonho de vencer um Mundial, além de recordar vários momentos de uma vida dedicada ao futebol, que começou com travessuras em casa.

«Ser jogador foi uma escolha fácil, porque sempre foi a minha paixão. Desde que me lembro, andava sempre com uma bola em casa, mesmo que a minha mãe ficasse um pouco chateada com o meu pai por eu partir alguns quadros ou jarras. A bola andava sempre comigo, era a minha grande paixão», recorda, reforçando que a família sempre esteve dividida entre Benfica e Sporting.

«O lado da família do meu pai é de uma equipa, o da minha mãe é do outro lado da cidade: sim, a equipa do meu pai é o Benfica, a da minha mãe é o Sporting. Joguei 12 anos no Benfica, dos sete aos 19 anos. Agora estou há nove no City. Sou adepto do Benfica, que é o maior clube de Portugal. Ia aos jogos com o meu pai. Desde pequeno que o meu sonho era jogar naquele clube, por isso fiquei muito feliz. Tive a sorte de ter essa oportunidade, de aprender com os melhores treinadores de Portugal e de ter acesso às melhores instalações desde muito cedo no Benfica», nota.

«O lado da família do meu pai é de uma equipa, o da minha mãe é do outro lado da cidade: sim, a equipa do meu pai é o Benfica, a da minha mãe é o Sporting

Benfica, Man. City e o mentor Moutinho

Questionado sobre a maior influência na carreira e no jogador que é hoje, aponta dois clubes: «É difícil dizer. Diria que se divide entre o Benfica e o Man. City, pelo tempo que lá passei. No Mónaco foram três anos e, embora tenha sido muito feliz, foram apenas três anos. No City já levo nove. Mas penso que o Benfica me moldou dos sete aos 19 anos. Deram-me não só o conhecimento futebolístico, mas também me formaram um pouco como homem. Tornaram-me mais duro e mais forte. No Man. City alcancei tudo o que sonhei e mais ainda. Sempre sonhei ganhar a Premier League, mas nunca imaginei ganhar seis. O Man. City deu-me mais do que eu esperava em criança, honestamente.»

Sempre sonhei ganhar a Premier League, mas nunca imaginei ganhar seis. O Man. City deu-me mais do que eu esperava em criança, honestamente

Por outro lado, falou de colegas de equipa ou treinador que o tenham moldado. «O Pep é, obviamente, uma grande influência para mim enquanto treinador. Em relação a jogadores... quando cheguei ao Mónaco, tive a sorte de encontrar o João Moutinho, um jogador português que, para mim, é um dos mais inteligentes que já jogou pelo nosso país. Ele foi um mentor para mim e, de certa forma, também um treinador, porque aprendi muito com ele.

João Moutinho é um dos mais inteligentes que já jogou pelo nosso país. Ele foi um mentor para mim e, de certa forma, também um treinador, porque aprendi muito com ele

Bernardo ouviu o que o Pep disse sobre si recentemente, que é um dos melhores jogadores que já treinou. «Sim, vi isso e fico feliz por ele pensar assim, porque os jogadores que ele treina não são propriamente maus! Penso que sou o jogador com mais jogos sob o comando do Pep, por isso é óbvio que ele tem um carinho especial por mim, por já estarmos juntos há tanto tempo. Mas, como disse, a influência do Pep em mim é enorme. São nove anos e aprendi imenso», conta, explicando aqueles momentos em que parece que, mesmo após uma vitória, está zangado: «Muitas vezes, as pessoas pensam que ele está a queixar-se de nós, mas é apenas a sua maneira de ser, muito apaixonado e a gesticular bastante com os braços. Na maioria das vezes, ele está apenas a falar de um pequeno detalhe que quer que melhoremos.»

Ao recordar os momentos mais marcantes da sua carreira, a escolha do melhor jogo é imediata: a final da Liga dos Campeões de 2023, conquistada frente ao Inter de Milão. No entanto, até as derrotas deixam memórias fortes: «O jogo contra o Tottenham nos quartos de final da Champions [2019], em que fomos eliminados, foi um jogo fantástico de se participar.»

O momento mais difícil, contudo, foi a eliminação nas meias-finais de 2022 contra o Real Madrid. «Foi mais duro do que a final perdida contra o Chelsea [2021]. Aquela contra o Real Madrid, quando eles marcaram dois golos nos últimos minutos, foi difícil de aceitar», confessa, «fomos muito superiores a eles nos dois jogos, exceto durante cinco minutos. Deitámos tudo a perder. Foi uma experiência muito frustrante.»

Bernardo Silva considera que a equipa do Manchester City da qual fez parte foi, possivelmente, «a melhor de sempre no futebol inglês». Os números falam por si. «Em sete anos, ganhar seis Premier Leagues, um 'Treble', um quádruplo doméstico, fazer 100 pontos... não é normal», afirma, sublinhando que tal sucesso não pode durar para sempre.

A folga ideal e os nomes dos cães

Para Bernardo Silva, a melhor forma de se desligar da pressão do futebol é estar com a família. «A minha filha e a minha mulher ajudam muito. Quando chego a casa e as vejo, mesmo depois de uma derrota, esqueço-me das coisas. A minha filha tem quase dois anos e meio. Quando tenho um dia de folga, ela consome todo o meu tempo e energia», diz.

E como seria um dia de folga ideal? «Se estivesse em Portugal, iria à praia ou à piscina, para relaxar», diz. Em Manchester, o clima nem sempre ajuda. «Num dia normal aqui, pego nos meus dois cães, o John e o Charles, e vou passeá-los com a minha mulher num parque, para apanhar um pouco de ar fresco. O John é por causa do John Stones, há muito tempo. O Charles veio do País de Gales e, na altura, pensei no Príncipe Charles. Queria também um nome inglês, pois já tinha o John, por isso escolhi Charles», explica o jogador.