Foi na rádio que Rui Almeida começou a carreira de jornalista
Foi na rádio que Rui Almeida começou a carreira de jornalista - Foto: IMAGO

A minha amiga rádio

Livre e Direto é o espaço de opinião semanal de Rui Almeida, jornalista

Comecei a minha carreira profissional, há 40 anos, no rádio. A magia das ondas hertzianas democratizou-se na década de oitenta do século passado, e transformou-se na maior oportunidade para uma geração de jovens comunicadores que viram no meio e na sua dimensão o palco ideal para os primeiros (e segundos, e terceiros…) passos na profissão. Que, para todos (ou quase) era e sempre foi muito mais do que isso. Foi uma paixão, foi uma forma de vida e a matriz de um comportamento transversal perante si próprios e perante a sociedade.

O rádio mudou as vidas de muitos jornalistas da minha geração, e continuou a manter patamares de absoluta distinção para os demais media, sabendo adaptar-se às inovações tecnológicas, contornar as dificuldades operacionais, penetrar em todas as potenciais camadas de auditório e continuar a demonstrar, todos os dias e a todas as horas, a sua magia e o seu encanto. Nos sistemas de comunicação das estruturas profissionais de futebol, não espantou que, em determinado momento e em face das necessidades de comunicação evidentes, a televisão tivesse assumido algum protagonismo, logo após a criação dos sites oficiais, aproveitando o advento e a projeção da internet, que, importa recordar e sublinhar, é um fenómeno historicamente recente.

Quanto aos principais emblemas portugueses, a Benfica TV (mais tarde redenominada BTV) e a Sporting TV apressaram-se a ocupar uma posição nuclear na capacidade de unir ideais e telespetadores, e de se tornarem veículos basilares dos planos de comunicação dos dois grandes de Lisboa. Com alguma disponibilidade financeira, conseguiram, até, cativar profissionais de topo (os casos de Hélder Conduto, da RTP para a Luz, e de Sérgio Sousa, da Sport TV para Alvalade, são apenas dois dos mais marcantes exemplos), e garantir, assim, credibilidade e qualidade nos seus recursos humanos, enquanto muitos outros clubes optaram pela utilização da plataforma digital para, com projetos adequados a esse mais específico meio e contidos, do ponto de vista orçamental, chegarem igualmente mais longe no espaço e mais perto no coração, com mensagens que, a partir de determinada altura, passaram a constituir rotina para todos os intervenientes no processo, de dirigentes a treinadores, de jogadores a jornalistas, de adeptos a seguidores digitais.

Mas o rádio, ainda que por vezes afastado das luzes da ribalta e do protagonismo de outrora, manteve-se nos hábitos de consumo e, no espetro desportivo, sempre teve uma dimensão e uma aceitação que dele fizeram uma espécie de recurso dourado nos sistemas de difusão de informação.

Esta foi uma semana sui generis para a comunicação de dois dos principais clubes portugueses. O FC Porto fechou, finalmente, o circuito que, de há alguns anos a esta parte vinha desenvolvendo com o Porto Canal, assumindo em pleno a antena que, em boa verdade, já geria e na qual tinha uma determinante influência, do ponto de vista editorial. Também os azuis e brancos (tal como os rivais lisboetas), recorreram, em tempos, a Rui Cerqueira (saído de um importante período de carreira em rádio e televisão, no grupo RTP), para alicerçar o seu projeto com a qualidade e o talento requeridos.

Porém, esteve na Luz o verdadeiro epicentro e novo capítulo desta história de plataformas de comunicação dos principais clubes nacionais: o surgimento da Benfica FM, estação de rádio 24/7, projeto (quase) pioneiro em Portugal e que reconverte a importância do meio, dando-lhe as asas que o universo de associados e adeptos dos encarnados, um pouco por todo o mundo, será capaz de dinamizar e multiplicar.

É, finalmente, o entendimento de que a plataforma rádio pode ser essencial na ligação entre símbolo e seguidores, entre emblema e ouvintes, criando laços exatamente na mesma medida dos que foram apanágio radiofónico nos idos de várias décadas do século XX. Isto é, quarenta anos depois, volta a magia da voz, da mensagem auditiva, da capacidade de penetração de um meio quente, simples, direto, eficaz, ponto por ponto e de reação direta e imediata por parte do destinatário da comunicação.

A criação da Benfica FM é muito mais do que o surgimento de um canal de comunicação de um dos maiores clubes portugueses. É a confirmação da necessidade encontrada numa ligação perene, efetiva e afetiva, forte e permanente, entre emissor e recetor, servindo uma causa e tornando mágicas e interpessoais as relações entre emissor e ouvinte, ainda por cima reforçadas por um elo inquebrável e normalmente apelativo, como o do desporto e do futebol em geral, e da identidade clubística em particular.

Emerge uma figura na nova emissora (que, como é evidente, terá no patamar digital o seu campo prioritário de implantação e desenvolvimento): Óscar Cordeiro, um dos mais talentosos jovens jornalistas portugueses, que, depois de algum tempo em Inglaterra, regressa ao país para coordenar a equipa de informação da nova frequência da Luz. É a garantia (tal como nos exemplos que atrás citei), de qualidade e peso no projeto, mesmo que — o que é inevitável — fique agora definitivamente conotado com o universo benfiquista.

O caminho do rádio na comunicação do desporto, em Portugal, não vai, certamente, restringir-se ao canal da águia. A vitalidade perene do meio e as suas características únicas de ligação com os potenciais recetores vão, seguramente, criar de novo raízes e fidelizar ouvidos noutras latitudes e com outros

Cartão branco
Excelente a jornada europeia para os representantes portugueses, apesar da derrota do Sporting na Baviera. Aliás, os leões, tal como Benfica, FC Porto e SC Braga, também atuaram a um bom nível, apenas ultrapassado pela pujança de um Bayern de outro campeonato. Os pontos conquistados e, sobretudo, as exibições assinadas por benfiquistas, portistas e bracarenses, deixam a perspetiva de apuramento (pelo menos) para o play-off de ligação com os oitavos de final e, acima de tudo, conseguiram apagar alguns momentos recentes menos conseguidos nas competições da UEFA.
Cartão vermelho
São preços para gente rica, incomportáveis para o cidadão normal, adepto do futebol e que, eventualmente, terá feito algumas poupanças para, no próximo verão, cruzar o Atlântico e aterrar num qualquer estádio do Mundial-2026. Os preços anunciados pela FIFA para os encontros da sua maior competição são proibitivos. E não falo apenas da final de 19 de julho (com o ingresso mais barato a superar os três mil euros). Para o Portugal-Uzbequistão, por exemplo, qualquer bilhetinho para uma bancada superior (bem distante do relvado), custa mais de 500 euros… Tenho muita expetativa em relação ao que a FIFA vai conseguir (ou não…), nas dezasseis cidades-sede do seu próximo grande evento…