O medo inglês e o Benfica
Roger Schmidt (Foto: IMAGO)

O medo inglês e o Benfica

OPINIÃO03.02.202407:00

Acusações pendentes terão gerado receio num mercado em que as águias bateram recorde

O mercado «pariu um rato». Nem seria preciso recorrer a números para se perceber que esta janela de transferência foi das menos entusiasmantes dos últimos anos, a nível global. Os números mostram a dimensão da diminuição de investimento daquela que era, ano após ano, a liga que mais dinheiro investe. A Premier League fechou a torneira em janeiro e, dados da Delloitte, refletem: menos €837 milhões investidos versus janeiro de 2023. 

No total, os clubes da Premier League gastaram no mês passado €117 milhões, longe dos €2,7 mil milhões do mercado de verão(!); em 2019, a China foi quem mais investiu em janeiro, mas desde o verão de 2011 que na Europa não havia outro líder que não a Premier League nos gastos em transferências. 

Este inverno, a Ligue 1, de França, liderou no âmbito UEFA com €190 milhões. Curiosa mesmo é a introdução de um fator, na explicação da Delloitte, para o refreio inglês: o medo. Os clubes bateram o recorde de investimento no verão, mas são também as acusações pendentes sobre Everton e Nottingham Forest, após incumprimento com regras financeiras da PL que pode ter causado receio nos restantes. 

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Quem não teve medo de ir ao mercado foi o Benfica, que como A BOLA contou, investiu mais do dobro do recorde anterior em janeiro. Para quê? Para ficar com um plantel que, do meu ponto de vista, é melhor e mais equilibrado do que aquele que iniciou a época — está um lateral-direito curto, ainda assim — e já a perspetivar saídas de Di María e Rafa Silva no verão, com a chegada de dois «projetos» argentinos.

A SAD da Luz deu a Roger Schmidt mais condições para que o treinador consiga fazer evoluir a equipa de 2023/24 para o patamar exibicional e de resultados de 22/23. É essa a expectativa também porque Schmidt recebeu outros dois jogadores em janeiro: Bah e Neres, fundamentais no título que as águias defendem. 

Num olhar ao último mês dos rivais do Benfica: o Sporting continua constante, como já escrevi, o FC Porto evoluiu mais uma vez. Se Rúben Amorim teve o desafio de manter os leões ligados à corrente, Sérgio Conceição tem feito o que quase sempre faz: desenvolver a equipa azul e branca ao longo da época, melhorando-a. Por uma vez não o terá conseguido, mas é mais norma do que exceção no caso do FC Porto de Conceição. 

O Benfica não estava, nem está, tão mal como alguns poderão dizer, mesmo que existam mais minutos ao longo da época iguais aos 40 iniciais da Reboleira. O jogo que Schmidt preconiza há anos é um futebol sem medo, de uma pressão alta que funcionou melhor em 22/23 que 23/24, que colocava a equipa mais longe da própria baliza e mais perto do golo. Schmidt foi tentando, mas não sei se o técnico já percebeu porque isso não sucede, o que, ao fim e ao cabo, é a sua tarefa. Mas que tem todas as condições para chegar à solução, isso, a partir de agora, parece-me inegável.