André Villas-Boas e Francesco Farioli no dia da apresentação do italiano como sucessor de Anselmi
Villas-Boas com Francesco Farioli - Foto: FC PORTO

Villas-Boas e a evolução no FC Porto

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O último ano do FC Porto foi muito difícil em todos os aspetos. Financeiramente foi um enorme desafio e uma corrida contra o tempo. Foi preciso criar condições para cumprir com as suas obrigações e, em simultâneo, ganhar folga para desportivamente poder investir e corrigir erros cometidos ao longo do ano.

Aprender com os erros

Com o curriculum e conhecimento de André Villas-Boas, e de toda a sua estrutura futebolística, ninguém esperava que, no primeiro ano, se cometessem tantos erros na vertente desportiva. Parece-me que o maior equívoco foi a contratação de Anselmi e o despedimento precoce de Vítor Bruno.

Percebo que Anselmi era encantador nas palavras, mas a realidade é que no relvado a evolução foi sempre negativa. Com o treinador argentino a equipa era confusa, desorganizada e os jogadores não evoluíam. Quando se comete um erro, o mais importante é ter a capacidade de percecioná-lo e de o corrigir de uma forma célere. Foi o que fez André Villas-Boas e a sua equipa.

Depois da última hipótese dada a Anselmi no Mundial de Clubes, a decisão passou pela saída do jovem técnico e pela sua substituição por um treinador que tivesse o perfil pretendido. 

O perfil

O pior que uma estrutura pode fazer depois de errar na contratação de um treinador é perder as suas convicções. Dito isto, mesmo com um ano muito negativo e com muitas críticas, André Villas-Boas procurou encontrar o treinador com as características que queria para o seu projeto desportivo.

Ao contrário de Rui Costa que apenas procurou um perfil ganhador na contratação de Mourinho, Villas-Boas procurou alguém que tivesse a capacidade de criar uma forma de jogar intensa, agressiva, com olhos na baliza adversária e que pudesse potenciar os jogadores à disposição. A escolha foi Francesco Farioli, que tinha acabado de fazer uma época muito bem conseguida no Ajax, mas que tinha falhado por completo na reta final onde se decidiu temporada. 

Virtudes de Farioli

O jovem treinador italiano tem algumas características muito específicas e visíveis. Tem a capacidade de rapidamente implementar a sua forma de jogar, ou seja, consegue em curto espaço de tempo apresentar uma dinâmica coletiva muito própria. Coletivamente as suas equipas são agressivas e intensas. Têm movimentos simples e padronizados. Procura encontrar equilíbrios entre os jogadores que compõem o onze. Prepara os jogos sempre com os olhos na baliza adversária.
Por fim, tem outra característica que é menos falada, mas que tem muita importância: tanto no Nice (liga francesa) como no Ajax (liga dos Países Baixos) as suas equipas têm as defesas menos batidas do campeonato.

Este ponto é muito relevante porque Farioli tem conseguido praticar um futebol intenso, mas sempre com o equilíbrio e cuidado defensivo.


Um dos pontos que mais apontam a Farioli é o facto de no final das épocas as suas equipas caírem de rendimento. Aconteceu no Ajax e no Nice. Uma das explicações pode estar na forma como o técnico italiano pretende que as suas equipas joguem, sempre com muita intensidade e agressividade.

Desta forma, uma das grandes incógnitas é perceber se o FC Porto terá a capacidade de manter a consistência que tem vindo a demonstrar ao longo de toda a época ou se o erro apontado a Farioli se vai repetir na fase das decisões.

Uma semana para testar

A próxima semana pode ser o primeiro teste à gestão de Farioli. Em sete dias tem mais três jogos de grau de importância elevado. Depois de sete vitórias em sete jogos, com 16 golos marcados e apenas um sofrido, Farioli parte para este contexto com uma equipa motivada e unida. O melhor exemplo foi a forma como todos festejaram o golo da vitória sobre o Salzburgo.

A principal missão do treinador italiano passa por conseguir gerir o esforço físico dos jogadores sem colocar em causa os resultados. Esta gestão ganha maior importância porque o último jogo desta sequência é frente ao rival Benfica. Este ano este jogo ganha ainda uma dimensão especial. Existe uma enorme expectativa por parte dos adeptos portistas depois da vitória em Alvalade.

Adicionalmente, uma vitória do FC Porto poderá fazer com que o seu grande rival — Benfica — fique ainda mais pressionado, porque pode ficar mais longe da liderança e por todo o contexto eleitoral que está a atravessar. Por fim, uma derrota e uma exibição menos conseguida, poderá fazer com que a desconfiança regresse ao Dragão.

Por todos estes motivos, e tendo em conta o perfil e a forma de trabalhar de Villas-Boas, acredito que este desafio vai ser preparado ao pormenor, porque se trata de uma oportunidade de reforçar a confiança azul e branca e em simultâneo aumentar a desconfiança no grande rival.

A valorizar: João Simões
A carreira de profissional de futebol é incerta e de curta duração. João Simões é profissional, mas consegue conciliar a sua carreira com a formação académica. Entrou na universidade com média de 15 valores. O que o João está a fazer não é fácil, mas é possível. O João deve ser um exemplo utilizado para mostrar aos mais jovens que devem seguir os seus sonhos, mas sempre com foco no futuro. O futuro prepara-se no presente. Parabéns, João!
A valorizar: César Peixoto
Perdeu, com o Benfica, na Luz (1-2), mas com uma grande exibição. Personalidade, qualidade e confiança.