Vamos todos surfar a onda?
Yolanda Hopkins não chegou sozinha ao circuito mundial de surf, não se tornou sozinha a primeira mulher portuguesa a entrar na elite. A algarvia, 27 anos, voou para o Brasil atrás de um sonho que há muito começou a construir.
Quando conseguiu um lugar nas meias-finais do Saquarema Pro, no Rio de Janeiro, prova das Challenger Series (CS) de acesso à Liga Mundial de Surf (WSL) garantiu os pontos necessários para assegurar uma das sete vagas que abrem as portas do Championship Tour (CT) mas também que, finalmente, o seu sonho se irá concretizar, provando que não foi construído em cima de castelos de areia.
Agora, parte da sua vida vai mudar.
Para melhor, seguramente, porque mesmo que vá sofrer, que muitas vezes não vença, lá diz o ditado quando não se ganha, aprende-se. Nunca se perde. E Yoyo sabem bem o que isso é.
Há uma semana na Ericeira, quando falámos, disse que tinha a certeza que era o seu ano e que o seu lugar era no CT. Mais do que palavras, mostrou-o em cima da prancha, onde tinha de ser. Agora, vai viver uma nova realidade, um mundo que, até hoje, somente Tiago Pires e Frederico Morais tinham experimentado com a bandeira de Portugal às costas, de continente em continente.
Durante os dias, vamos todos surfar esta onda, agarrados à Yolanda Hopkins. Mas, depois, será ela sozinha, com a sua bandeira e o encantador sotaque algarvio a desbravar mares, já antes navegados, mas onde, neste caso, há muito mais marinheiras do que marés.
Nessa altura, quando estiver sozinha num distante e longínquo canto do Mundo, continuemos todos a surfar a onda da Yolanda, cada um como puder e, já agora, quem puder com muito pois todo o apoio que conseguir será pouco.
A solidão do mar não é uma miragem com cheiro a maresia, é uma realidade exigente. Apesar do lado romântico que o surf encerra no imaginário da maioria, o alto rendimento para esta atleta olímpica é solitário, com pranchas às costas, longas viagens e a melhor concorrência do Mundo à sua espera.
O surf português está de parabéns; os dirigentes políticos, locais, governamentais que acreditaram numa modalidade que, há não muitos anos, era olhada de soslaio também; Frederico Teixeira, chefe de operações da Liga Mundial de Surf (WSL) para a Europa, África e Médio Oriente também porque seguramente não se esquece dos primeiros anos em que montava estacas no MEO Rip Curl.
Mas, sobretudo, a Yolanda está onde merece.