António Simões, glória do futebol do Benfica e de Portugal (foto: Miguel Nunes)

Uma nova era com o Benfica no Sangue

António Simões, 81 anos, escreve na primeira pessoa sobre as mudanças que espera ver no clube da Luz e fala das razões pelas quais se revê em Martim Mayer, candidato a presidente e do qual é mandatário nacional

Cheguei ao Benfica muito jovem, ainda menino nos meus 15 anos limpos de maldades e certezas, mas cheio de vontade e respeito pela grandeza do desafio, que é como quem diz, pela grandeza do Sport Lisboa e Benfica. Naquele tempo, chegávamos quase todos assim, despidos de atrevimento e com a cabeça carregada de sonhos e silêncios. Só mais tarde percebi o que era o Benfica.

Martim Mayer, candidato à presidência do Benfica (A BOLA)

Por lá me fiz homem, no meio dos silêncios e dos olhares que educavam e preparavam para a vida, quem os soubesse ler e aproveitar. Grandes homens, os meus companheiros, que nos conheciam pelo respirar, grandes amigos que tanta falta me fazem. Trouxe tudo o que era meu e o que eles me deram, gente boa, séria, livre, solidária e pronta, sempre pronta, para ajudar, para socorrer, para honrar os compromissos e para lutar por algo maior: o Benfica!

Sou assim até hoje, feito desses ensinamentos e dessas solidariedades e cumplicidades, dos mundos por onde andei, do respeito, liberdade e independência que conquistei. Tudo o Benfica me deu, tudo eu tentei retribuir, sem reservas, sem olhares duvidosos, apenas com paixão, dedicação e o sentimento do dever cumprido. Estamos em paz numa cumplicidade que ninguém pode apagar, nem a memória ou sequer, a falta dela. Nada quero do Benfica, para além do que já está inscrito em nós, em mim e nos meus companheiros, eternos na sua glória.

Pela primeira vez na minha vida decidi associar-me a uma candidatura, assumindo o papel de mandatário nacional da proposta liderada por Martim Borges Coutinho Mayer. Faço-o porque acredito num Benfica cada vez maior, na sua evolução e nas suas conquistas. Acredito de alma e coração na sua capacidade de realização, nas pessoas que escolheu para o acompanhar, totalmente livres e independentes relativamente ao passado do clube, assim como na justeza de um projeto que o futuro pede e todos os benfiquistas desejam: pleno de vitórias, afirmação na Europa e reconhecimento mundial.

Faço-o porque estas eleições acontecem num momento ímpar pela responsabilidade das decisões que se aproximam. À cabeça, a negociação da centralização dos direitos televisivos, uma das maiores fontes de receita do clube, onde a candidatura de Martim Mayer foi a única a apontar dois caminhos específicos para assegurar a manutenção ou o crescimento do valor que atualmente recebemos. Depois, pela situação financeira periclitante que o clube tem apresentado, onde cada ano começa com um défice de exploração na ordem dos 70 milhões de euros, o que torna o clube refém da dependência de venda de ativos do plantel de futebol profissional, impedindo-o de gerir de forma independente o futuro da sua equipa de futebol. E, a somar a tudo isso, a urgência de pôr fim a um ciclo de insucesso desportivo, com apenas dois títulos de campeão nacional nos últimos oito anos.

Revejo no Martim, permitam-me que assim o trate, a grandeza humana e as qualidades ímpares do senhor seu avô, Duarte Borges Coutinho, que recordo com saudade e admiração como um dos presidentes mais marcantes e o mais titulado da história do Sport Lisboa e Benfica. E foi com agrado e honra que recebi e aceitei o seu convite para ser mandatário nacional da candidatura 'Benfica no Sangue'. Por nele acreditar, por nele sentir o pulsar das minhas convicções, naquilo que entendo ser o melhor para o nosso clube. Nele irei votar com paixão e esperança renovada.

De forma breve, destaco algumas das linhas de pensamento da sua proposta que projetam um futuro de sucesso para o nosso clube, tais como o aumento da capacidade do estádio para 83 mil lugares, a expansão do Benfica Campus, o regresso do Benfica aos PALOPs, tendo em vista o significativo crescimento de receitas, algo fundamental para o clube, a introdução de métodos de gestão de vanguarda que garantam uma redução significativa dos custos correntes, como a parceria com o Instituto Kaizen. E, no futebol, a introdução do papel central do diretor-geral, com uma visão e preponderância que assegurem uma estratégia de estabilidade de médio e longo prazo, com a garantia de ter a nossa formação, uma das melhores do mundo, como suporte principal, do garante da recuperação de um ciclo vitorioso, com uma identidade e mística que honrem o nosso glorioso passado.

E, por fim, não menos importante, uma gestão de proximidade, com os sócios no centro, numa política de comunicação de proximidade e abertura, ao nível dos pergaminhos da história desta instituição centenária, onde atletas, ex-atletas, sócios, casas e demais protagonistas do presente e passado do Benfica possam unir-se para um futuro de glória e orgulho.

Ser presidente do Sport Lisboa e Benfica é transportar dentro de si as paixões de uma parte da nação, todos os sonhos dos Benfiquistas, os seus desejos e ambições, e a responsabilidade acrescida de os concretizar.

«Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens», escreveu Florbela Espanca num dos seus mais belos poemas, que gosto de reler com a vontade de dele me apropriar pelo sentimento do ser Benfiquista que em mim acorda, na alma e no coração, no serviço e no servir. Ser presidente do Benfica é ser mais alto do que a tentação de utilizar o clube para fins próprios e desajustados da glória e decência de que somos feitos. É ser maior do que a vontade e a tentação de utilizar toda ou qualquer estratégia que fomente o discurso fácil e eleitoralista, baseado em argumentos menos nobres e desadequados aos valores, à identidade e à grandiosidade do nosso clube.

A poucas semanas destas eleições, fundamentais para a história do clube, um certo desassossego vai crescendo no pensamento e na alma de milhares de benfiquistas, entrelaçado na ânsia de uma escolha acertada e na desilusão do fracasso que nenhum deseja. Não querendo repetir alguns erros do passado, inscreve em nós o acrescento de responsabilidade da decisão mais correta, porque para a nação benfiquista vencer não é tudo, é a única coisa!

Estas eleições pedem o desassossego das grandes noites europeias, que fechavam Lisboa mais cedo, porque jogava o Benfica. O País mobilizava-se, aquém e além-mar, naquele nervosismo dos vencedores, e a cidade corria para o Estádio da Luz ansiosa que o jogo começasse. Era o Inferno da Luz. Apelo a todos os sócios do Benfica que se mobilizem como se de um desses dias se tratasse e participem massivamente neste ato tão importante e decisivo.

Por tudo isto, o momento é solene para todos os benfiquistas que irão eleger o próximo presidente do Sport Lisboa e Benfica. Espero e desejo que o façam de forma livre, sem reservas e com a paixão que tanto nos caracteriza. Viva o Benfica!