Avançado de 39 anos conta situações inusitadas provocadas pela fauna no continente asiático

«Um dia cheguei a casa e tinha a cozinha num alvoroço. Foram os macacos»

João Moreira representou o DPPM FC, clube detido pelo príncipe herdeiro do país, em 2013, na primeira de inúmeras experiências do outro lado do mundo na carreira. A qualidade das condições de trabalho não evitou encontros inusitados com a vida selvagem

Destino Aventura é a rubrica em que A BOLA dá a conhecer os jogadores espalhados pelos cantos mais remotos do mundo. João Moreira, avançado dos Northen Rovers, recorda os altos e baixos de uma experiência no Brunei, em 2013.

No Brunei representou o DPMM FC, clube detido pelo príncipe herdeiro. Como é que surgiu este desafio?

Através de um empresário português. Não sabia onde ficava o país. Ele disse que eram valores fora do normal e que o clube tinha um príncipe. Depois pesquisei um pouco e fui à aventura. Para não estar a treinar sozinho antes da pré-época, treinei-me no Almansa, perto de Albacete, na terceira divisão espanhola.. Estive dois meses a ganhar ritmo e cheguei ao Brunei numa boa forma física. Foi mais fácil suportar a carga porque a pré-temporada lá foi só correr. Nada de bola. Durante semana e meia, foi correr e subir montanhas porque diziam ‘tens de subir a montanha porque ficas com as canelas mais fortes’.

Como é que foi viver num contexto mais distante da realidade europeia pela primeira vez?

Gostei bastante. A única diferença era que eram muçulmanos, havia muitas regras para cumprir.

Isso interferia no vosso dia a dia?

Havia os momentos de rezar durante o treino. Eu vou à igreja num sábado ou num domingo de manhã, eles iam todos os dias. Soava a buzina, paravam o treino e iam rezar, depois voltavam.

A influência do príncipe sentia-se no dia a dia do clube?

As condições eram excelentes. Os campos estão inseridos num resort de polo, de alta qualidade. Ele [príncipe] estava presente diariamente, nos treinos. Só não havia muito contacto, era uma figura superior. Às vezes convidava-me lá para ir à sala dele e era mais próximo, perguntava quantos golos ia fazer. Considerava-o uma pessoa normal, apesar das diferenças.

Qual foi o intruso mais estranho que já teve em campo?

 Sem dúvida, no Brunei. Abelhas. Foi uma loucura. No meio de um jogo, do nada, aparece um enxame gigante, tivemos de ficar todos no chão.

Teve algum episódio mais inusitado por causa da fauna e flora?

Tive uma situação com macacos. O meu condomínio era no meio da floresta e primeira coisa que o diretor do clube me disse foi ‘quando saíres de casa, fecha as janelas. ‘ Estava um calor danado, tinha de entrar ar. Um dia saí e quando cheguei, tinha a cozinha num alvoroço. Uma loucura, portas abertas, parecia um assalto. Só levaram comida, não levaram nada de valor. Nos dias seguintes, fiquei lá à espera. Abri as janelas e vi dois macacos, à espera do momento certo. Noutra situação, chego a uma praia, colada à floresta, bonita, com areia amarela, e está uma serpente virada ao contrário. Parecia morta. Eu atrevido apanhei um ramo e fui picar a cobra. Ela saiu disparada, a sorte foi que tive reflexos. Também no Brunei fui fazer um tour de canoa por um canal que dava a volta à zona oeste e levei a minha família. O guia aponta para a água, super castanha, não se via o fundo nem peixes. Mas estava um crocodilo ao nosso lado. Depois, passámos na cidade velha e estavam miúdos a tomar banho no canal com o crocodilo ali ao lado, como se nada se passasse.