«Um dia cheguei a casa e tinha a cozinha num alvoroço. Foram os macacos»
Destino Aventura é a rubrica em que A BOLA dá a conhecer os jogadores espalhados pelos cantos mais remotos do mundo. João Moreira, avançado dos Northen Rovers, recorda os altos e baixos de uma experiência no Brunei, em 2013.
— No Brunei representou o DPMM FC, clube detido pelo príncipe herdeiro. Como é que surgiu este desafio?
— Através de um empresário português. Não sabia onde ficava o país. Ele disse que eram valores fora do normal e que o clube tinha um príncipe. Depois pesquisei um pouco e fui à aventura. Para não estar a treinar sozinho antes da pré-época, treinei-me no Almansa, perto de Albacete, na terceira divisão espanhola.. Estive dois meses a ganhar ritmo e cheguei ao Brunei numa boa forma física. Foi mais fácil suportar a carga porque a pré-temporada lá foi só correr. Nada de bola. Durante semana e meia, foi correr e subir montanhas porque diziam ‘tens de subir a montanha porque ficas com as canelas mais fortes’.
— Como é que foi viver num contexto mais distante da realidade europeia pela primeira vez?
— Gostei bastante. A única diferença era que eram muçulmanos, havia muitas regras para cumprir.
— Isso interferia no vosso dia a dia?
— Havia os momentos de rezar durante o treino. Eu vou à igreja num sábado ou num domingo de manhã, eles iam todos os dias. Soava a buzina, paravam o treino e iam rezar, depois voltavam.
— A influência do príncipe sentia-se no dia a dia do clube?
— As condições eram excelentes. Os campos estão inseridos num resort de polo, de alta qualidade. Ele [príncipe] estava presente diariamente, nos treinos. Só não havia muito contacto, era uma figura superior. Às vezes convidava-me lá para ir à sala dele e era mais próximo, perguntava quantos golos ia fazer. Considerava-o uma pessoa normal, apesar das diferenças.
— Qual foi o intruso mais estranho que já teve em campo?
— Sem dúvida, no Brunei. Abelhas. Foi uma loucura. No meio de um jogo, do nada, aparece um enxame gigante, tivemos de ficar todos no chão.
— Teve algum episódio mais inusitado por causa da fauna e flora?
— Tive uma situação com macacos. O meu condomínio era no meio da floresta e primeira coisa que o diretor do clube me disse foi ‘quando saíres de casa, fecha as janelas. ‘ Estava um calor danado, tinha de entrar ar. Um dia saí e quando cheguei, tinha a cozinha num alvoroço. Uma loucura, portas abertas, parecia um assalto. Só levaram comida, não levaram nada de valor. Nos dias seguintes, fiquei lá à espera. Abri as janelas e vi dois macacos, à espera do momento certo. Noutra situação, chego a uma praia, colada à floresta, bonita, com areia amarela, e está uma serpente virada ao contrário. Parecia morta. Eu atrevido apanhei um ramo e fui picar a cobra. Ela saiu disparada, a sorte foi que tive reflexos. Também no Brunei fui fazer um tour de canoa por um canal que dava a volta à zona oeste e levei a minha família. O guia aponta para a água, super castanha, não se via o fundo nem peixes. Mas estava um crocodilo ao nosso lado. Depois, passámos na cidade velha e estavam miúdos a tomar banho no canal com o crocodilo ali ao lado, como se nada se passasse.