Campo de jogos do SC Sanjoanense, em São João da Talha (Foto: SC Sanjoanense)

Tiro de pistola em jogo da distrital preocupa: «Qualquer dia há uma tragédia»

Membro da direção do SC Sanjoanense falou com A BOLA sobre situação preocupante, com duras críticas à Associação de Futebol de Lisboa (AFL)

Este domingo, o Sport Clube Sanjoanense recebeu o Águias da Musgueira num jogo da III Divisão da AF Lisboa que teve de ser abandonado após um tiro que provocou o pânico no campo da equipa de São João da Talha. A BOLA falou com um elemento da direção da equipa da casa, que, mesmo preferindo não ser identificado por questões de segurança, criticou a AFL e explicou todo o contexto em torno desta situação angustiante.   

Segundo este contacto, o Sanjoanense quis adiar o jogo por saber que não ia haver policiamento no mesmo, mas o Águias da Musgueira, após não responder às tentativas de contacto, disse ao adversário para se «desenrascar», porque não ia aceitar o adiamento. E o Sanjoanense ficou com duas opções: perder o jogo por desistência e pagar uma multa, ou gastar 300€ com uma empresa de segurança privada, quando o policiamento costuma custar à volta de 115€. O clube tomou a segunda opção.

Isto é tipo uma máfia, porque ou jogas ou não jogas. Se não jogas e se o outro clube não adiou, tu perdes os pontos e ainda pagas uma multa à AFL.

No encontro, a situação alarmante aconteceu a 17 minutos dos 90’. A fonte contactada por A BOLA contou que os ânimos se exaltaram após algumas trocas de provocações entre adeptos, até que uma pessoa afeta ao Águias da Musgueira «tirou uma pistola e mandou uns tiros para o ar. Foi um pandemónio».

Este não se tratará de um caso isolado, mas sim sintomático da falta de policiamento, segundo este elemento da direção do Sanjoanense, que afeta a distrital de Lisboa. O que motivou críticas à Associação de Futebol do distrito (AFL): «Continuam a deixar que não haja polícia nos jogos e atiram o assunto para cima dos clubes.»

«Estavam lá dezenas de crianças»

«No ano passado, não havendo polícia, automaticamente a AFL remarcava o jogo. Mas desta vez empurraram [o problema] para os clubes. Isto é tipo uma máfia, porque ou jogas ou não jogas. Se não jogas e se o outro clube não adiou, tu perdes os pontos e ainda pagas uma multa à AFL.»

«E a AFL está carregada de dinheiro, basta ver as instalações que compraram há pouco tempo. E quem é que paga? Somos nós, os clubes. Eles têm muito dinheiro e não há polícia [nos jogos], se a polícia acha que deve receber mais têm de lhes pagar mais», afirma, criticando depois a falta de apoios.

Quando há o tiro, começa tudo a fugir para a esquerda e para a direita, até pode uma pessoa cair e começa a ser espezinhada pelos que estão a fugir.

«Todos os jogos em casa custam-nos no mínimo 300€. Isto são clubes em que nós não temos nada. São os sócios que nos apoiam e temos de andar sempre a pedir patrocínios, a pedir favores. Temos as escolinhas de futebol onde vamos recebendo algum dinheiro dos pais. Mas isto não chega, não temos a ajuda de ninguém.»

«O Estado tem de pôr mão nisto»

O problema não afeta apenas o futebol sénior, porque, segundo esta fonte, «há dois anos que não há polícia em jogos das camadas jovens». «É outra vergonha, porque aí é que há mais agressões a treinadores, árbitros. O Estado tem de pôr mão nisto.»

O que a mim me chateia é que isto vai passar impune. Porque foi mais um tiro, mais um jogo. Não morreu ninguém e está tudo bem.

«Isto é vergonhoso. Qualquer dia há uma tragédia num campo de futebol destes. E é triste porque nós temos as camadas jovens a ver os seniores. Estavam lá dezenas de crianças. E aquilo quando há o tiro, começa tudo a fugir para a esquerda e para a direita, até pode uma pessoa cair e começa a ser espezinhada pelos que estão a fugir», diz, reforçando uma ideia que espera não se vir a concretizar: que só existirão mudanças quando se perder uma vida.

«Olhe-se para o tiro. Eles mandaram para o ar, mas e se mandam para a frente?», continua, antes de ainda revelar um ato de vandalismo que afetou um jogador do Sanjoanense: «Um dos nossos atletas tinha ali o carro estacionado, na confusão atiraram uma pedra e partiram-lhe o tejadilho do carro.»

«O que a mim me chateia é que isto vai passar impune. Porque foi mais um tiro, mais um jogo. Não morreu ninguém e está tudo bem», concluiu.