Tiago Silva criticou o 'timing' das declarações do presidente do Vitória de Guimarães, considerando uma tentativa de denegrir a imagem dos jogadores que saíram

Tiago Silva: «Vaidosos? Foram os que garantiram os resultados que fizeram com que se mantivesse no cargo»

Médio português, de 32 anos, respondeu às palavras de António Miguel Cardoso, presidente do V. Guimarães. Mudou-se há poucas semanas para o Qatar e contou tudo sobre a forma como saiu do clube minhoto

A BOLA esteve à conversa com Tiago Silva que se mudou para o Al-Rayyan, do Qatar, e explicou tudo sobre a sua saída do Vitória de Guimarães. O médio respondeu às palavras proferidas por António Miguel Cardoso, presidente dos conquistadores, revelando que saiu magoado, mas que não descarta um eventual regresso ao emblema da cidade berço.

A tua mensagem de despedida do Vitória de Guimarães deu a entender que não era aquilo que pretendias, neste momento. A saída estava mesmo planeada para esta temporada?

- Nunca tive vontade de sair do Vitória, nunca mesmo. Quando saí do Olympiacos tinha 28 anos e assinei cinco com o clube com o propósito de terminar lá. Pensava para mim mesmo que aos 33 anos ia acabar a carreira, num emblema de grande dimensão, para depois desfrutar da família e não me foi permitido que isso acontecesse. Desde o início que tentaram quase empurrar-me dali e muitas pessoas dentro do clube me diziam para ter atenção, pois o presidente queria que eu saísse. Sei que não é bonito de se dizer, no entanto já foi dito também coisa que não se devia dizer, ainda por cima num dia em que nem sequer se devia ter falado de outros assuntos, sem ser sobre o Vitória e o aniversário do clube. Por isso, esta é a altura ideal para falar sobre isso.

Então, António Miguel Cardoso não pretendia que continuasses a representar o clube?

- Primeiro tenho de dizer que sempre me senti muito acarinhado pelos adeptos e sempre senti um carinho enorme pelo clube que é o meu clube. Ainda continua a ser. Transmiti várias vezes àqueles perto de mim que o Vitória ia estar comigo, mesmo quando saísse. Estavam a acontecer coisas que deviam. Não me senti desejado, nem valorizado, e é chato quando a pessoa que manda no clube não nos quer. Neste mercado de transferência acabei por sair, porque pedi. Não me sentia bem e parecia que estava a mais e transmiti isso ao presidente, dizendo-lhe que não pretendia continuar pois sabia que ele não me queria lá. Ele dizia que eu atrapalhava o crescimento dos mais novos, porque resolvia os problemas por eles. Estas são as palavras dele. Não sei até que ponto isto faz sentido, mas para mim não fazia sentido nenhum. Era apenas mais um dos argumentos que foram usados para tentar justificar a minha saída.

Como recebeste as tais palavras dirigidas aos jogadores no dia do aniversário do V. Guimarães?

- Essa questão dos vaidosos… Senti-me atacado, porque realmente eu era e sou vaidoso, sendo que sinceramente não vejo problema nenhum nisso. Éramos todos, porque tínhamos motivos para isso, pois conseguimos a melhor classificação de sempre do Vitória na Liga e fizemos aquela caminhada histórica na Liga Conferência. Criamos grupos incríveis, formamos jogadores sensacionais. Ao meu lado jogaram Dani Silva, Tomás Handel ou André, todos jogadores com muita qualidade e, se calhar, o Manu também, permiti que muitos deles fossem vendidos e dessem muito dinheiro ao clube. Por isso, não sei até que ponto não posso ser vaidoso dentro do clube. Nunca fiz nada sozinho, como é óbvio, mas sinto que tive um papel importante em tudo isso. Depois levarem isso para o lado negativo, não gostei. Senti-me mal, senti-me atacado. Podia ter falado mais cedo, logo quando saí e decidi não fazê-lo, porque não queria desestabilizar o grupo. Acho que foi inapropriada a forma como foi feito, no dia em que foi feito e o timing utilizado. Depois de uma vitória com o Estrela da Amadora, sendo que é um campo no qual é sempre muito difícil jogar e do empate com o SC Braga que é sempre um dérbi aceso, tendo em conta que o clima não estava bom, parece que o empate foi quase uma vitória e aproveitaram-se destes fatores para falar, prejudicando a imagem dos jogadores que saíram que, talvez, foram os que garantiram os resultados que fizeram com que se mantivesse no cargo. Para mim é de uma ingratidão gigante e tenho pena de ter de estar a falar sobre este assunto, mas havia muitos mais que ainda podia abordar.

Saí muito magoado! Muito magoado com uma pessoa só!

Como viveste o momento em que deixaste de pertencer ao lote de capitães? O que se passou exatamente?

- Tudo situações ridículas que foram mexendo comigo, coisas que iam acontecendo sem justificação nenhuma. A verdade é que depois de me tirarem a braçadeira, de forma completamente injustificada. Aliás, não diria assim pois tentaram justificar, mas com argumentos que não cabem na cabeça de ninguém e isso tudo mexeu muito comigo. Para se ver o grau de incoerência, passados dois meses foram falar comigo pois queriam que voltasse a ser o capitão, dizendo que tinha sido um erro e que eu tinha mostrado um comportamento exemplar. Mas foi assim que me comportei sempre, estava tudo igual. Aconteceram muitas coisas que não deviam ter acontecido comigo e não só, porém só vou falar de mim, porque não sou advogado de ninguém. Saí muito magoado! Muito magoado com uma pessoa só! De resto é o clube do meu coração que vou apoiar sempre. As pessoas sabem que fiz a formação no Benfica que tinha um carinho especial pelo Benfica. Mas, consegui pela primeira vez na minha vida dividir, senão superiorizar o amor que tinha pelo Benfica por outro clube que é o Vitória. Neste momento, sou muito mais vitoriano que benfiquista e não tenho problema em esconder isso. Não devo nada a ninguém. Neste momento sinto-me vitoriano. A minha cresceu na cidade de Guimarães, o meu filho adora o clube e até lidou um pouco mal com o facto de ter saído. Ele sempre me disse que não queria sair dali, mas não era de Guimarães, era do Vitória. Isso mexe muito comigo.

Então não está totalmente descartado um possível regresso?

- De maneira nenhuma. Disse isso ao presidente na altura, quer dizer ao presidente não porque nunca teve a coragem de me comunicar nada. Delegava alguém, portanto disse isso a essa pessoa, pela qual tinha muito carinho e ela sabe do que estou a falar, sendo que perdi todo o respeito. Fiz várias coisas por respeito a essa pessoa que não devia fazer, abdiquei de muita coisa, perdi muita coisa no clube e depois essa pessoa não teve o mesmo respeito por mim, quando me comunicou que ia deixar de ser capitão. Na altura, disse-lhe que só voltava a usar a braçadeira quando eles já não tivessem na direção ou na presidência. O meu choque é com o presidente, e nunca o escondi ao próprio, pois uma vez lá tivemos uma reunião e disse-lhe que sabia que ele não gostava de mim e que não adiantava dizer o contrário. Não gosta por vários motivos, mas não me quero alongar sobre isso. Na minha cabeça está tudo esclarecido, só não está tudo bem porque o presidente continua a tentar denegrir a nossa imagem. Mas, estou resolvido com o clube. Claro que gostava de ter saído doutra forma. Voltando à pergunta, se for possível gostava de voltar ao Vitória. Agora, não sei quando, mas só se estiver em condições para isso, porque não quero ser um empecilho. Quero ir se for para acrescentar, senão não vou.