Luís Suárez não deixou que 2025 fosse embora sem marcar um golo de cabeça - Foto: SÉRGIO MIGUEL SANTGOS
Luís Suárez não deixou que 2025 fosse embora sem marcar um golo de cabeça - Foto: SÉRGIO MIGUEL SANTGOS

Sporting em modo rolo compressor na despedida de um ano de ouro (crónica)

Vitória incontestável de um Sporting de tração à frente, armado com um 4x4x2 que foi, primeiro, água mole em pedra dura e depois, debilitadas as defesas do adversário, passou a enxurrada de futebol atacante. O Rio Ave manteve-se 'organizadinho' na primeira parte, mas, realmente, nunca colocou problemas sérios aos donos da casa...

No último jogo antes do ‘réveillon’, o Sporting justificou o champanhe que vai beber para dar as boas-vindas a 2026, e fez com que as passas (do Algarve) ficassem para o Rio Ave, incapaz de travar a vertigem ofensiva da equipa de rui Borges. Aos vilacondenses, que se mantiveram ‘compostos’ defensivamente durante a primeira parte, sendo apenas batidos num lance de bola parada – e logo o mais clássico de todos, canto ao primeiro poste de Maxi Araujo, desvio de João Simões, a ‘pentear’ a bola, e golo ao segundo, com a barriga, de Luís Suarez – faltou-lhes 30 metros, um mal que afligiu o nosso futebol durante várias décadas, mostrando-se inofensivos para a baliza de Rui Silva.  

Sporting em 4x4x2

Mas valerá a pena, a propósito deste jogo, gastar algumas linhas com o que se viu das movimentações leoninas. A começar pela capacidade para dar trabalho aos centrais, através da colocação na frente de Ioannidis e Suárez, dois pesos-pesados que lutam como se não houvesse amanhã, e provocam erosão na defesa contrária. Mas quem tem dois pontas-de-lança precisa de municiá-los, e o jogo interior de Maxi Araujo e Trincão criou condições para a dupla greco-colombiana nunca se sentisse desamparada, ao mesmo tempo que o jovem João Simões começa a dar sinais de dominar a ‘arte’ de chegar à área contrária, o que aumentou ainda mais a pressão sobre o Rio Ave. Para que o ramalhete fique completo falta falar do equilíbrio que Hjulmand dá à equipa e da profundidade conseguida com Vagiannidis e Mangas, que souberam aproveitar os corredores sempre que (e muitas vezes foram) Trincão e Maxi derivaram para o meio.  

O Rio Ave logrou opor-se a tudo isto, com danos mínimos durante a primeira parte, devido a um pouco ambicioso 5x4x1, que de vez em quando dava uns ares de 5x3x2, e muito raramente de 3x4x3, provavelmente a ideia original de Sotiris Sydailopoulos.  

Maxi e Suárez

Mas, se os leões terminaram os primeiros 45 minutos com um 1-0 que era uma espécie de vantagem aos pontos num combate de boxe, conseguiram, ao mesmo tempo, debilitar o adversário, colocando-o a jeito para o KO que haveria de aparecer entre os 53 e os 61 minutos. 

Autor de um ‘hat-trick’ (e marcou um golo de cabeça!!!), e assinando uma exibição consistente, em que demonstrou entrega e raça, mas também atributos técnicos e grande espírito coletivo, Luís Suárez teve uma noite para mais tarde recordar. Mas quem foi o mais influente na manobra dos leões, foi Maxi Araujo. Aos 25 anos, o internacional uruguaio continua a evoluir e a deixar promessas de ainda estar longe daquilo que pode fazer. As incursões que realizou da esquerda para o meio – por vezes, aventurando-se até na direita – tiveram o condão de criar desequilíbrios numéricos e foram razão para boa parte da desarticulação dos forasteiros na metade complementar. E, para lá desta circunstância posicional, foi sempre capaz de meter intensidade alta em todas as ações e assinou um golo que tem muito que se diga. Verdadíssima, que o passe de Suárez para as costas dos centrais foi magistral; mas o movimento em diagonal de Maxi, a receção dificílima que realizou, a forma como contornou o guarda-redes e, finalmente, a frieza com que, com escasso ângulo, colocou a bola no fundo das redes à guarda de Miszta, fizeram do 2-0 o momento futebolístico mais sublime da última noite de futebol, em 2025, no estádio José Alvalade. 

'Pró' ano há mais

Galeria de imagens 28 Fotos

Quando, aos 61 minutos, Luís Suárez, após mais uma (a enésima) recuperação de Hjulmand, recargou com sucesso um remate de Trincão e colocou o ‘placard’ em 4-0, pouco se tinha perdido se Carlos Macedo tivesse dado o jogo por concluído. Sendo verdade que do lado do Sporting ainda houve tempo para dar minutos ao irrequieto Allison, e à promessa Flávio Gonçalves, e para dar descanso ao duplo-pivot; e do lado do Rio Ave (nunca se percebeu por que razão, para uma estratégia como a que o técnico grego gizou para Alvalade, André Luís foi preterido, e o jovem - ainda muito ‘verde’ - Zoabi, escolhido) para tentar manter a equipa tão fresca quanto possível, pese embora os danos causados pelo sismo de grau 10 que arrasou a equipa durante oito minutos fatais, fossem irreversíveis, a verdade maior é que a partir desse momento as coisas que sucederam deveram-se mais ao voluntarismo individual (vulgo querer mostrar serviço) do que a qualquer motivação coletiva. O que tinha de ser visto estava visto e o que o Sporting tinha para mostrar foi muito. A equipa é capaz de jogar bem usando diferentes desenhos, há rotinas que começam a consolidar-se, e Rui Borges deverá vir a ter, nos próximos meses, alguns ‘problemas bons’, quando puder contar, por exemplo, com ‘Pote’, Catamo e Quenda. O Sporting despediu-se de 2025 em clima de festa e parece ter razões para sonhar com um ‘Feliz Ano Novo.’