Regresso a casa do 'Special One' e vida complicada na Champions: tudo o que disse Mourinho
José Mourinho está de volta a Stamford Bridge para defrontar o Chelsea ao serviço do Benfica na UEFA Champions League e abordou vários temas, incluindo esse regresso a casa, mas também o facto das águias terem perdido o jogo teoricamente mais fácil, em casa com o Qarabag, o que complica as contas na competição, afirmando ainda que não aceitava um empate a zero em Londres.
- Que tipo de jogo é que espera?
- Eu acho que muito mais do que os 20 minutos vão ser cruciais. Estou à espera de duas equipas que querem ganhar, obviamente que não acredito que o Chelsea jogue outra coisa se não para ganhar. Jogam em casa, perderam o primeiro jogo, e por uma questão de cultura de clube e também pela identidade que quero dar à equipa progressivamente, também não haverá estádio ou adversário que nos fará pensar de outra maneira. Se temos de defender bem para ganhar o jogo, obviamente que temos de defender bem para ganhar o jogo, mas do ponto de vista emocional e tático é tentar ganhar o jogo. Perderam, mas perderam em Munique com um calendário muito mais acessível do que nós. O nosso é mais complicado, os que perdemos foram pontos que pensámos que íamos somar, e vamos ter de ir à caça de pontos em todos os sete jogos que temos pela frente. É muito mais difícil o Chelsea em Stamford Bridge, o Real Madrid na Luz ou o Newcastle em Newcastle, honestamente não consigo dizer qual é mais fácil, mais difícil, o mais possível sacar os pontos. Amanhã temos de ir por eles.
- O que valoriza mais neste regresso a casa para a Champions?
- Sim, estou em casa, mas já joguei aqui com Tottenham, Manchester United, Inter na Champions e durante 90 minutos, nem eu pensei por um segundo onde estava, com quem estava a jogar, de modo algum. Por isso, como dizem eles, I’m not a blue anymore [já não sou um azul], sou vermelho e quero ganhar. As sensações de chegar aqui não foram assim tão profundas, porque eu vivo mesmo aqui. Quando estou em Londres passo praticamente aqui cada dia, não senti assim muita coisa. E conheço-me bem, muitas vezes joguei contra anteriores equipas e já vim aqui com três clubes diferentes, o Benfica será o quarto. É um estádio onde não sentirei nenhum tipo de antagonismo, penso eu, o que também não me faria mal nenhum, mas não penso. Mas temos objetivos diferentes e eu consigo-me isolar desse contexto, sem problema.
- Que passos é que o Benfica tem de dar para alcançar estatuto europeu?
- Dimensão europeia não significa pensar em ganhar a competição europeia no imediato. Estamos tão longe disso, até porque a competição acabou de começar, que pensar até nos faz mal. Agora estamos numa fase em que cada ponto é fundamental, num formato em que todos nós temos pouca experiência. Conheço o formato porque no ano passado joguei UEFA Europa League, mas é um formato um bocadinho estranho, porque é uma classificação com tantas equipas que não jogas contra. Não tens como controlar o teu destino contra essas equipas, cada ponto é fundamental e acho que ninguém me levará a mal se disser que, olhando para o calendário do Benfica, os três pontos com o Qarabag seriam aqueles que, à partida, a base de construção e depois um ponto aqui, três pontos ali, e o apuramento chegará. Estamos numa situação mais complicada em função disso, mas temos de partir para cada jogo com a intenção de os conseguir.
- Sente que o Benfica pode alcançar algo de especial neste jogo?
- O trabalho foi não trabalho, mas esse trabalho não trabalho era a coisa que os jogadores mais precisavam. Finalmente tiveram três dias entre jogos, desde que eu cheguei os três jogos que nós fizemos foram sempre com três dias entre jogo e quando isso começa a acumular, nós chegámos ao último jogo com o Gil Vicente em grandes dificuldades, alguns jogadores mesmo com luzes vermelhas nos dados que temos após jogo. Finalmente temos três dias de não trabalho, trabalho de organização tática para o jogo de amanhã é mais passivo do que ativo em campo, hoje até gostaria de ter treinado no Seixal e não foi possível por logística. E o treino de hoje tinha duas opções: uma, o treino é aberto, vocês estão lá e não posso treinar taticamente, a segunda opção era só 15 minutos com vocês, mas aberto para as câmaras que estão aí, que fui eu que as pus há muitos anos, o que significaria que o treino seria na mesma aberto. Portanto hoje o treino é de ativação sem muito trabalho tático, mas penso que os jogadores têm muita concentração em tudo o que falamos, analisamos. Foi o trabalho que fizemos ontem, hoje e vamos continuar amanhã, para tentar estar o melhor possível. Acredito mais no trabalho de campo, não tem comparação possível, mas princípios de organização vamos ter e quando isso acontece com os jogadores focados temos boas possibilidades de discutir o jogo, contra uma grandíssima equipa.
- Gostava de ter Pedro Neto no Benfica?
- Claro que gostava, Pedro Neto é um dos melhores alas do mundo. O Roberto Martínez na Seleção Nacional é um privilegiado porque tem não só Pedro, mas cinco ou quatro jogadores de perfil semelhante. Nós aqui não temos tanto deste perfil, obviamente que gostaria de ter o Pedro, mas está numa realidade completamente diferente a nível económico e é para esquecer, simplesmente desejar como sempre o melhor, que não tenha lesões que nos últimos anos foram impeditivas de um crescimento mais rápido, que amanhã não tenha obviamente um grande jogo, mas desejo-lhe o melhor e agradeço as palavras dele.
- O Benfica nunca conseguiu vencer o Chelsea e o Mourinho só numa ocasião foi feliz, amanhã acredita que pode acabar com este registo?
- Não me parece que o Benfica tenha jogado tantas vezes assim, se estivéssemos a falar de dez jogos, nove derrotas e um empate, mas acho que estamos a falar de um par de jogos. 4? A final europeia perde no prolongamento, mas eu não me agarro muito a este tipo de números. Normalmente as equipas portuguesas não têm grandes resultados com as equipas inglesas, porque as equipas inglesas não fortes. É o pragmatismo da coisa, são fortes, intensidade maior, mais tempo de jogo útil, porque em Portugal há muita paragem, muita equipa que em vez de jogar prefere que o adversário não jogue. Portanto as equipas inglesas têm um nível acima da nossa em diferentes níveis, mas claro que eu acredito, claro que eu acredito.
- Assinava 0-0 antes do jogo?
- Não assinava, ia para jogo, sim. Se calhar aos 88' assinava três vezes, mas depende do jogo. Digo sempre que o empate é ótimo se o adversário for muito melhor que tu. Se o Chelsea nos dominar, não conseguirmos criar nada, o empate assina-se com grande alegria. Antes do jogo começar e sem ser eliminatória, acho que qualquer ponto é um ponto que serve neste tipo de formato, porque te ajuda a atingir o primeiro ou segundo objetivo. Neste momento não assinava, vamos jogar.
- É mais difícil nesta altura um clube português vencer a Champions?
- Os formatos mudam. A primeira vez que joguei Champions como assistente do mister Bobby Robson, ainda havia eliminatórias primeiro, depois a fase de grupos a quatro, depois eram meias-finais a uma mão no campo da equipa que tivesse acabado em primeiro lugar no grupo. Nessa meia-final foi Barcelona-FC Porto, em Barcelona, e Milan-Mónaco, em Milão. Depois passamos para outro formato, depois outro e agora este. Quando fui campeão europeu a primeira vez, estamos a falar de grupos de quatro, depois oitavos de final, quartos de final. Depois houve alturas com uma equipa por país, depois alargou-se para dar de comer a mais gente e a federações mais importantes. Agora estamos num formato em que ainda estou a aprender, mas percebo a pergunta, porque há muitos tubarões a nível económico. O Benfica é um gigante, equiparo ao nível histórico e social aos maiores clubes da Europa, muito maior do que clubes que economicamente são maiores. Uma coisa é a dimensão do clube, cultura e história, outra coisa é o poderio económico e neste momento há clubes muito poderosos economicamente na Europa. Mas podemos competir com eles no jogo. É por isso que não assino um empate amanhã... não assino nada, vamos jogar, divertir, competir e vamos tentar ganhar.
- Lukebakio vai jogar de início?
- Vai jogar de início. Não sei quanto tempo, no outro dia fez 60', veremos a intensidade que o jogo pede amanhã e como se vai adaptar a uma intensidade diferente. Mas vai começar. Guardá-lo para 30' quando pode jogar mais do que 30... vamos metê-lo em jogo e depois logo se vê quanto tempo vai durar.
- Pode ir ao Dragão com quatro pontos de atraso, esta pode ser uma semana decisiva?
- Faça-me essa pergunta amanhã, depois do jogo.
- Disse que não era azul, mas sim vermelho, mas vai ser para sempre um blue?
- Claro que sim, serei sempre um blue. Faço parte da história deles e o Chelsea faz parte da minha história, ajudei o Chelsea a ser maior e também me ajudaram a ser maior. Quando disse que não sou mais blue, estou a falar do trabalho que tenho de desempenhar amanhã. Mas em relações às fotografias, não há muitos clubes que façam isso, parece que há um medo do que aconteceu no passado. Parece que querem apagar as pessoas que fizeram história no clube e isto mostra que o Chelsea é um grande clube.
- Espera voltar a treinar o Chelsea?
- Nunca sabemos o futuro. Depois de 25 anos, esperava voltar a Portugal para a Seleção Nacional e não para o Benfica e estou de volta ao Benfica. Por isso, não tenho projetos de carreira, não tento pensar no que pode acontecer. O mais importante é dar o melhor nos clubes, onde quer que estejas. Agora estou muito, muito feliz no Benfica, já são muitos anos de futebol e carreira, o Benfica é um gigante e é uma grande responsabilidade, mesmo para um treinador como eu, por várias razões, algumas delas eu guardo-as. Sabes como eu sou, eu adoro [o jogo] e até ao início do jogo será o meu Chelsea, durante o jogo será o meu Benfica.
- A última vez que cá estiveste foste assobiado...
- Não, não, o que aconteceu foi que um adjunto do Chelsea se atirou a mim e eu reagi, e as pessoas pensavam que eu estava a reagir ao golo sofrido. Não era o caso. O treinador era o Sarri, foi top na minha reação, o Chelsea também e eu também, porque o Chelsea queria despedir o adjunto e eu disse que não, não por uma coisa que aconteceu durante o jogo, deixem o homem em paz porque no banco todos podem fazer coisas de m... Nada aconteceu e penso que os adeptos me assobiem, pelo menos nas ruas pedem-me sempre autógrafos e fotografias, portanto... [risos].