Rayan não engana
No jogo da segunda mão das meias-finais da Copa do Brasil entre o Vasco da Gama e o Fluminense, o atacante Rayan, 19 anos e primeira época entre os profissionais cruzmaltinos, pegou na bola aos 90+3’ e, num rasgo individual, passou, no drible e na força, por três rivais até ser derrubado.
O lance, até esse momento, já o colocaria numa prateleira diferente da maioria dos ponta de lança. Mas o que, de facto, o distinguiu veio depois.
Rayan levantou-se em milésimos de segundo, colocou a mão na bola e bateu a falta num ápice, apanhando o árbitro e, mais importante, os defesas do Flu de surpresa, todos eles habituados a que, numa jogada do tipo, a vítima ficasse rolando no relvado, a contorcer-se com dores e a pedir cartão.
Descobriu logo um companheiro na ponta, que cruzou para Vegetti finalizar e fazer um golo decisivo para o apuramento do Vascão para a final.
E isso, sim, coloca o atacante que o Football Observatory nomeia entre os 10 teenagers mais promissores do mundo (ao lado de Quenda e Mora), numa prateleira não apenas diferente mas sim exclusiva.
No Gigante da Colina desde os 11, Rayan foi uma das figuras de dois títulos estaduais sub-17 e de dois títulos estaduais sub-20 ganhos pelo clube, além do Sul-Americano sub-17, de 2023, e do Sul-Americano sub-20, já em 2025.
Todos os anos saem do Brasil rumo à Europa potenciais craques — uns confirmam as expectativas, outros nem tanto. Este ano foi Estevão, no ano anterior o potente Endrick, que teve agora de dar um passo atrás, antes foi Vítor Roque, devolvido ao futebol brasileiro via Palmeiras, ou Reinier, idem, via Atlético Mineiro.
E já o início da colaboração com A BOLA como correspondente no Brasil há 15 anos, este mesmo colunista, armado em olheiro, listou as cinco joias seguintes do futebol local e errou o alvo em umas quantas.
Falou em Leandro Damião, ponta de lança forte mas habilidoso já então na seleção, aos 21, mas que se eclipsou no futebol japonês. Dedé, patrão da defesa do Vasco aos 22, que esteve mais tempo lesionado do que apto a jogar ao longo da carreira e, por isso, nem do Brasil saiu. Ganso, 21 anos, camisa 10 à moda antiga, tão à moda antiga que não se adaptaria ao ritmo moderno do Sevilha, de La Liga e da Europa. Um moleque de 18 anos chamado Marcelinho, por se ter formado na escolinha de Marcelinho Carioca, ídolo corintiano, que, já nos profissionais do São Paulo, mudaria o nome para Lucas, ou Lucas Moura, com bela carreira no PSG e no Tottenham.
E, claro, Neymar, já classificado como uma espécie de Djokovic pronto para tirar do trono a médio prazo os eternos Messi (Federer) e CR7 (Nadal). Neymar era mais (talvez muito mais) talentoso do que Rayan, mas já naquela altura, quando sofria faltas, ficava horas a fio no chão.