Dembélé com os portugueses João Neves e Vitinha no PSG
Dembélé com os portugueses João Neves e Vitinha no PSG - Foto: IMAGO

Quando o vencedor da Bola de Ouro foi oferecido ao Benfica

Dembélé foi analisado na Luz em 2015

Não seria como Eusébio, que em 1965 conquistou a Bola de Ouro como jogador do Benfica - os tempos também são outros -, mas as águias podiam estar a celebrar agora a conquista do troféu por um jogador que tinha passado pela Luz. Isto porque Ousmane Dembélé, que esta segunda-feira foi coroado como melhor jogador do mundo, depois de ter ajudado o Paris Saint-Germain a conquistar a Ligue 1, o Troféu dos Campeões (Supertaça), a Taça de França e a Champions League, teve a possibilidade de jogar no Benfica.

Foi há 10 anos, sensivelmente. Em 2015, portanto. De acordo com informações recolhidas por A BOLA, Dembélé foi então oferecido ao Benfica por Vlado Lemic, antigo jogador e empresário sérvio, que atualmente representa o sueco Alexander Isak, por exemplo.

O nome do jogador foi discutido internamente, pela estrutura do Benfica, e o parecer técnico foi unânime: Dembélé tinha um potencial tremendo, embora na altura ainda estivesse a dar os primeiros passos na equipa principal do Rennes, cuja formação tinha integrado cinco anos antes.

As condições financeiras até pareciam favoráveis, pelo menos à primeira vista. Isto porque Dembélé ainda tinha apenas um contrato de formação e entrou em litígio com o Rennes por causa das negociações para assinar o primeiro contrato profissional. O jogador chegou a ameaçar sair, para irritação do presidente do emblema francês, René Ruello.

Ainda assim a tarefa do Benfica não era fácil. Não só pela concorrência de outros clubes, como Salzburgo, Manchester City ou Borussia Dortmund, mas também porque a contratação de Dembélé, apesar do tal diferendo com o Rennes, implicava um investimento algo significativo - entre salários e prémios de assinatura a pagar, inclusivamente a familiares -, ainda para mais tendo em conta que era um jovem de 18 anos. Era também improvável uma integração imediata na equipa principal, que por altura dos primeiros contactos com os representantes do avançado era orientada por Jorge Jesus, que nesse verão foi substituído por Rui Vitória.

O Benfica decidiu não avançar para um eventual negócio e Dembélé até acabou por chegar a acordo com o Rennes, tendo assinado o primeiro contrato profissional em outubro de 2015.

Mickael Silvestre, antigo internacional francês que era então diretor de recrutamento do Rennes, chegou a dizer, alguns anos depois, que houve uma «verdadeira guerra fria entre os representantes de Dembélé e o clube». «A situação estava completamente bloqueada. Tivemos de ser diplomáticos, demorou muito tempo. O Ousmane chegou a deixar o clube, boicotou treinos e um estágio na Alemanha. Foi complicado, mas conseguimos que ele mudasse de ideias e assinasse. No final do mercado de transferências chegou a enviar-me uma mensagem a dizer que estava desagradado com a situação, queria deixar o futebol e ir para o Senegal com a avó. Até me enviou uma fotografia do cartão de embarque», contou o antigo jogador Mickael Silvestre, então diretor de recrutamento do Rennes, à SFR.

Dembélé fez 12 golos e 7 assistências em 29 jogos pelo Rennes, nessa temporada 2015/16. No verão seguinte foi vendido ao Borussia Dortmund por 35 milhões de euros, e logo em 2017 saiu para o Barcelona, protagonizado à época a segunda maior transferência da história do futebol: 105 milhões de euros fixos, mais 40 em variáveis.

O internacional francês esteve seis épocas na Catalunha, com registo irregular, muito por força dos constantes problemas físicos. «Em 25 anos no Barcelona, nunca vi um jogador com tanto talento», chegou a dizer Xavi, que o treinou na equipa blaugrana. «Pode ser o melhor do mundo, mas é preciso trabalhar com ele e exigir-lhe isso. Depende do próprio, da sua mentalidade, que não se lesione...», acrescentou.

Dembélé saiu em 2023 para o Paris Saint-Germain, por 50 milhões de euros, e foi na capital francesa, já sem Messi ou Neymar, que conseguiu chegar ao topo do futebol europeu (e mundial). Campeão coletivamente, premiado individualmente.