Prova dos nove também se faz em tons de vermelho (crónica)
Não há volta a dar, este é um Porto que só sabe ganhar. Mudam as peças (muitas), mas não muda a vontade nem uma certa estrelinha que geralmente acompanha as equipas que sabem muito bem o que querem. Mesmo tendo pela frente um Estrela que tem uma proposta interessante de futebol e que colocou os dragões em sentido durante muitos períodos do jogo, a prova dos nove (tantos os triunfos em outros tantos encontros oficiais) fez-se no laboratório de Francesco Farioli, com a partida resolvida novamente nos últimos suspiros e por um ponta de lança adaptado chamado Rodrigo Mora.
Melhor início seria impossível
Foram decisões duplamente a pensar no vermelho: oito entradas no onze relativamente à equipa que iniciou a goleada em Arouca e tendo em mente o clássico com o Benfica de domingo, no Dragão, para o qual deverão avançar muitos jogadores que ficaram no banco ou que entraram só no decorrer da partida.
E o início não podia ter sido mais positivo: ainda as equipas se estudavam mutuamente e William Gomes encontrava um espaço à entrada da área dos sérvios, colocando a bola em Deniz Gul que, possante, rodou e foi travado já na área por Tebo Uchenna. Penálti que o mesmo Gomes converteu com eficácia, decorria o minuto 8.
Era o arranque que muitos dos jogadores menos utilizados precisavam. Menos pressão significa mais clarividência e Gul teve-a, não só nas tentativas de se associar aos médios e extremos, como nos muitos movimentos em profundidade que nem sempre foram bem correspondidos pelos colegas.
Foi aqui, aliás, que o Estrela Vermelha começou a explorar as debilidades do adversário: graças à excessiva dependência dos lançamentos de Bednarek e, principalmente, de Prpic, o FC Porto foi-se tornando previsível e permeável perante o futebol apoiado, maioritariamente construído a partir do lado direito do Estrela Vermelha, com destaque para as iniciativas do ex-Benfica Radonjic. Arnautovic, apesar dos 36 anos, não sabe jogar mal e Kostov é um jovem talento que vai pedir outros palcos muito em breve; Pablo Rosário ia somando más decisões, Rodrigo Mora, atuando como médio interior, não defendia com o rigor necessário e foi justamente numa falta do jovem portista que nasceu o golo do empate, por Kostov, na sequência de um livre cobrado pelo ex-V. Guimarães Tomás Handel: excelente gesto técnico no remate, numa segunda bola, aproveitando também a apatia defensiva de Ángel Alarcón.
E entra Froholdt...
Foi uma experiência nova para este FC Porto: deixava pela primeira vez de estar no comando e aqui e ali tremia, o que se explica pela falta de entrosamento e a diferença de qualidade entre titulares e candidatos a tal estatuto. O último quarto de hora da primeira parte foi dividido, com ligeiro ascendente sérvio, mas sem materializar o volume de jogadas.
Farioli percebeu e mexeu ao intervalo. Entrou Froholdt e Alberto Costa e o dragão ganhou imediatamente mais consistência. E mais tarde adquiriu poder e talento com Borja Sainz, Gabri Veiga e Pepê, uma espécie de regresso ao plano A, mas com uma diferença: Rodrigo Mora a ponta de lança (o falso 9). E foi nessa posição, que na sequência de uma jogada de contra-ataque e aproveitando um adversário demasiado partido (e ingénuo) que Mora fez explodir o Dragão, que acabou o jogo com um cântico dirigido ao Benfica. Venha de lá esse clássico.