Para Skye (e Gyokeres) é sem limite

'Para lá da linha' é uma opinião semanal

Skye Stout, de apenas 16 anos, assinou na semana passada contrato profissional com o Kilmarnock FC. Seria, num mundo mais normal, uma inócua notícia de transferências nas divisões inferiores no futebol feminino na Escócia, que não passaria do canal da Mancha, quanto mais chegar a Portugal.

Mas chegou, porque Skye, de apenas 16 anos, repita-se, foi alvo de bullying no post em que o clube anunciou a sua chegada. É má jogadora? Que exagero, apurar isso aos 16 anos. Não, tem acne. E, por isso, homens e mulheres adultos acharam por bem empregar o seu tempo a deixar na internet comentários maldosos, insultuosos.

Foi de tal maneira que o clube cedeu e se viu obrigado a apagar o post relativo à contratação. É pena, porque assim devolveu à sombra, de onde nunca devia ter saído, quem fez os comentários maldosos. Já escrevi aqui antes sobre o bullying contra jovens atletas, que muitas vezes até vem dos pais, mas quando as críticas são paralelas ao desempenho - recordando que se continua a falar de crianças - é bem mais grave.

O Reino Unido é exemplo positivo em muita coisa, bem evidente no castigo exemplar que o homem que proferiu insultos racistas contra o jogador Antoine Semenyo no Liverpool-Bournemouth, que abriu a Premier League, recebeu: insultou numa sexta-feira, na segunda já estava impedido de entrar em qualquer estádio do país.

Para contrabalançar os limites claramente ultrapassados, uma conta de promoção do futebol jovem no Reino Unido pediu apoio para a jovem, com várias figuras de destaque a responder e a desejar boa sorte a Skye, como Jamie Carragher, e vários clubes, como o Chelsea, o Bordéus e o Lyon femininos.

Depois, no primeiro jogo pelo novo clube, a resposta foi sem palavras: marcou um golaço de livre.

Quem se livrou dos trolls foi Viktor Gyokeres. A máscara já apareceu no sábado, a jogar no conforto do Emirates, na goleada por 5-0 ao Leeds. Depois de um início tímido na casa do Manchester United – a falta de pré-época, com a ‘greve’ que fez no Sporting, se calhar teve algo a ver – foi brindado como toda uma série de ‘memes’ que até gozavam com o seu peso.

Mostrou aos adeptos, em casa, o que o levou de Alvalade até lá, com um golo à Gyokeres, e também aos haters que se calhar se precipitaram um pouco. Que limites haverá para ele?