O Rio Ave, o ruído e o discurso de Varandas e até a F1 de que não gosta: tudo o que disse Rui Borges com um ano de Sporting
O Sporting entra em campo na 16.ª jornada do campeonato este domingo, às 20h30 no Estádio José Alvalade, onde recebe o Rio Ave. Rui Borges fez na Academia Cristiano Ronaldo a antevisão do jogo com os vila-condenses.
Bem-disposto, o treinador dos verdes e brancos também falou de mercado, do ruído sobre as arbitragens, das palavras do presidente Frederico Varandas após a vitória sobre o V. Guimarães. Eis tudo o que disse o técnico leonino.
— O Rio Ave sem Clayton fica mais fragilizado?
— Posso dar como exemplo o jogo na Luz, onde o Rio Ave empatou e o Clayton, tal como o André Luiz, não foram titulares… Isso diz bem sobre o que é o Rio Ave. É uma equipa que nos vai criar dificuldades, que fora de portas só perdeu em Moreira de Cónegos. Empatou na Luz, em Famalicão… e isso dita bem da sua competitividade fora. Se achamos que vamos fazer um golo com o passar do tempo, vamos estar enganados. Se não formos sérios e rigorosos... Como disse, é uma equipa muito forte nos duelos, muito competitiva, que joga no contra-ataque e em ataque rápido. Temos de estar preparados com boas transições defensivas. Temos melhorado ao longo dos jogos e dentro dessa perspetiva esperamos estar no nosso normal para ultrapassar uma equipa que tem sido difícil bater fora da sua casa.
— Está satisfeito com os jogadores? Como vieram eles do Natal?
— Estão bem, eles respeitaram. Acho que devem ter comido um bocadinho mas isso também faz parte. Estão tranquilos. O onze não vai ser feiro em relação a rabanadas ou filhós [risos]. Chegaram bem, são grandes profissionais.
— Maxi Araújo vai continuar como extremo?
— Até vou dizer algo que vocês nem sabem, o Maxi está em dúvida, está meio adoentado.
— Debast e Daniel Bragança já podem ser opções?
— Estão no processo de chegar ao melhor nível. O Debast ainda não está com o grupo; o Dani está no processo normal evolutivo de chegar à sua melhor forma física e de confiança também. No momento certo irá dar essa solução, tanto ele como o Zeno. Mas não é para já.
— Hjulmand está em risco porque tem quatro cartões amarelos na Liga… poderá haver gestão?
— O jogo mais importante é o do Rio Ave e ele vai jogar, não há gestão. Na época passada fiz isso uma vez e quase saiu ao contrário, serviu de exemplo... Até foi com Morten também, no jogo com o Gil Vicente. Quando estiver de fora, está de fora e joga outro. A equipa tem dado boa resposta, todos têm mostrado estar presentes e isso deixa-me tranquilo e superconfortável.
O ruído e Varandas
— Frederico Varandas, no final do jogo com o V. Guimarães, disse que o ruído que está a ser feito sobretudo com as arbitragens serve de gasolina para o tricampeonato. Também usa isso para motivar?
— Vocês já têm muita gasolina, não preciso de estar aqui... Os meus jogadores têm gasolina que chegue. Durante estes dias, até nas entrevistas dadas, foi bem notória a ambição de todo o grupo, de conquistar algo muito importante e que ficará na história do clube, que é o tricampeonato. A maior motivação que temos é essa, chegarmos a jogo e os jogadores sentirem que dá resultado, que são felizes a jogar. É essa a nossa maior motivação, voltar a ganhar e ficar na história do Sporting.
— O presidente disse também, a propósito deste tema, que deveria haver castigos mais sérios? Também acha isso em relação aos treinadores?
— Todos temos de fazer o melhor possível para valorizar o nosso futebol e não criar mais ruído. Todos nós, agentes desportivos. Temos de arranjar estratégias, entre todos, os treinadores também, é lógico, para valorizar o futebol português. Vai haver ruído em alguns momentos mas mesmo aí temos de ser inteligentes e valorizar o nosso jogo e os nossos jogadores, treinadores, estruturas...
— O plantel também ouve esse ruído, certamente. Como é que o usa para motivar o plantel?
— A minha forma de motivar é que é natural que todos queiram ganhar aos que ganham... o nosso grupo é bicampeão, é normal que os outros queiram o que conquistámos. É normal que haja o ruído à volta dos bicampeões. O grupo sente isso. Claro que vamos ouvindo e é natural que sirva de motivação mas no meu discurso não uso muito, antes que eles são bons, que são os melhores, os bicampeões! Aqui a ambição é de querer mostrar que queremos continuar a ser os melhores. Estamos focados no que somos capazes de fazer para voltarmos a ganhar e o grupo mostra isso no seu jogo, na comunicação, na ambição. Sabemos que toda a gente quer ganhar aos campeões, isso faz parte. E essa é a nossa maior motivação, perceber que quem está do outro lado, por defrontar quem ganhou, tem sempre mais alguma coisa que dá. Temos de estar sempre no nosso máximo porque somos sempre capazes de dar mais qualquer coisa.
— Nos Açores, Varandas assumiu que não houve penálti… O que pensa sobre a forma como o presidente abordou o tema?
— Foi a opinião do presidente e ele disse-me logo no avião que, para ele, não era penálti. Respeitei e disse que é sempre uma questão de critério. Já vi marcarem, já vi não marcarem. Mais do que eu dizer se é ou não é, já aconteceram as duas coisas. É muito relativo.
— O presidente também disse que o Benfica tem chegado atrasado no fim do campeonato e este sábado Mourinho apontou que os encarnados são quem tem mais títulos, que são como Lewis Hamilton… E que piloto de Fórmula 1 é o Sporting?
— Não vejo Fórmula 1. Vejo o andebol, o voleibol, modalidades em que o Sporting também ganha muito. Não vejo Fórmula 1, não sou fã.
— Mas acha que a intervenção de Frederico Varandas foi importante nesta altura?
— Não vou comentar muito mais. Já falou o presidente, que é o chefe. O que ele disser assinamos. É tudo um grupo, uma estrutura e está sempre toda ligada no dia a dia a tudo o que acontece.
O mercado
— Como define Luís Guilherme, extremo do West Ham que tem sido apontado ao Sporting?
— Não posso definir porque não é meu jogador. Se colocar aqui o meu filho, ele fala de tantos jogadores… Conheço mas não vou falar dele porque não é nosso jogador.
— Conta ter presentes de janeiro logo por altura dos Reis?
— Se entrar alguém será tudo feito de forma bem estruturada e pensada. E será sempre numa perspetiva de futuro… Não é só porque temos lesões, jogadores na CAN, é também na perspetiva do imediato mas sempre numa perspetiva de futuro do Sporting e do plantel nos próximos anos.
— Quando fala no mercado diz coloca sempre um ‘se chegar alguém’. Teme poder não ter reforços? E é extremo, ou extremos, que espera ou podem outras posições ser reforçadas também?
— É uma leitura que temos de ter. Claro que é natural que se fale mais dos extremos pelo baixa do Quenda e pelo Geny estar na CAN… Mas temos tido adaptações que me dão soluções e não estou preocupado com isso. Vamos ver o que poderá dar o mercado e, dentro do que acharmos, será sempre numa perspetiva de futuro. Se tivermos essa capacidade e acharmos que irá acrescentar algo ao grupo, de bom e específico... Então, quem vier tem de perceber que vem para um grande grupo e tem de se saber inserir-se nele. Mas não é algo que me deixe obcecado.
Um ano de Sporting
— Cumpriu um ano no clube, qual foi o dia mais feliz e o mais difícil?
— Muito honestamente, não tive dias difíceis, só dias felizes. Mesmo quando não ganhei ou quando perdemos algum troféu estava feliz no sentido de estar ali a disputar jogos pelo Sporting. Sou muito positivo, olho sempre para as coisas de forma boa. Nem sempre vamos conseguir ganhar tudo, mas mesmo nesses dias fui feliz. É difícil dizer só um dia feliz, o da apresentação foi marcante para mim, para nós enquanto equipa técnica… E os dois dias em que ganhámos, o campeonato, que é o sonho de qualquer treinador, e a Taça de Portugal, porque tinha os meus pais no estádio e viram o filho vencer um troféu importante a nível nacional. Diria esses três.
— Já ganhou prémio de personalidade do ano, o que diz a sua intuição para 2026?
— Sinto-me lisonjeado, parece uma pessoa muito importante e não me acho nada importante... Os troféus fazem parte mas são algo que representa a equipa, não o treinador. Já disse que não sou ninguém nem nada se eles não acreditarem no que digo e peço. Os troféus são fruto do grupo, da estrutura, do nosso trabalho diário e anual. Fico feliz nesse sentido. Acredito muito e confio muito no meu trabalho e vou continuar a acreditar. Há dias que vão parecer menos bons mas agarro-me a eles de forma boa. Sou feliz a fazer o que faço e por estar aqui. As pessoas dizem 'vai correr bem', eu digo 'já correu'. Sou muito positivo e acredito muito nos meus sonhos e desejos. Será um ano muito bom, acima de tudo com muita saúde. Se tivermos saúde, o resto corremos atrás... É correr atrás dos desafios, dos desejos, das perspetivas de vencer, de continuar na história do Sporting. Acima de tudo, peço saúde. O resto aí vamos nós.
— João Simões foi o seu maior desafio a nível individual?
— O maior desafio é dele. É um miúdo muito maduro para a idade que tem. Aos poucos é-lhe reconhecido isso também pelos próprios colegas, olham para ele como um miúdo diferente... Mas tem muito para crescer e ainda vai evoluir. Li que o mister lhe deu uma 'dura' depois do jogo com o Vitória… E dei, perdeu a bola quando não tinha necessidade… Ele viu isso e disse 'peço desculpa mister'. Está pronto para aprender, gosta de aprender e ouvir muito. Vai ter um futuro brilhante pela frente, não tenho dúvidas disso.