Os pilotos portugueses adoram o Dakar e, claro, a edição de 2026 não será diferente. Estão inscritos 27 lusos e, entre estes, há um nome que se destaca: João Ferreira. Aos 24 anos, depois do 8.º lugar no ano passado, volta à luta, agora com um Toyota Hilux T1+, ao lado navegador Filipe Palmeiro, determinado em subir na hierarquia mundial. O campeão nacional de todo-o-terreno regressa assim à Arábia Saudita, em janeiro, com o número 240 na classe Ultimate.

«O desporto motorizado é muitíssimo caro, seja carros ou motas»

João Ferreira confessa que a chegada de um grande patrocinador foi determinante para aumentar expectativas, mas também responsabilidade para não defraudar expetativas

— Como é que chegou ao Dakar? Influência do seu pai?

— Foi. Comecei no desporto motorizado com 9 ou 10 anos, nos karts. Antes disso, nunca tinha feito outra coisa, só karting e todo-o-terreno. Desde pequeno, sempre acompanhei o Todo-o-Terreno com o meu pai, primos e amigos, porque em Leiria, onde vivo, o desporto motorizado é muito presente, sobretudo o todo-o-terreno. Em 2009 ingressei nos kartings, onde estive até 2018. Depois, já com carta de condução, quis dar um passo em direção ao mundo dos adultos. No final de 2018 participei, por brincadeira, nas 24 Horas de Fronteira — uma corrida de resistência com o meu pai e mais três pilotos — e gostei da experiência. Em 2019 ingressei no todo-o-terreno, começando nas categorias básicas, praticamente com carros de origem, e desde então tem sido uma evolução contínua.

— E foi fácil?

— Não, não diria fácil. Todo o desporto tem o seu tempo de adaptação. No karting, era só eu e o carro; no todo-o-terreno, tens alguém ao lado a indicar o caminho, tudo muito diferente. Mas devagarinho fomos evoluindo. O meu pai ajudou-me muito e nunca colocou pressão negativa; sempre foi uma pressão positiva, motivadora. Inicialmente, era só um hobby.

— Em que momento percebeu que isso podia tornar-se uma atividade profissional? Estudou Engenharia…

— Engenharia Eletromecânica. Ainda estudo, não concluí a matrícula. Eu diria que foi em 2022, quando participámos no Campeonato de Portugal de todo-o-terreno com um carro de topo da categoria T1 e também no Campeonato da Europa de Bajas. Em sete provas em Portugal ganhámos seis, e na que não ganhámos ficámos em segundo. Fomos Campeões Europeus. Foi aí que percebi que podia ir além do hobby. Foi um momento tenso convencer os meus pais de que valia a pena tentar o Dakar, mas felizmente perceberam e desde então temos crescido juntos nesta aventura.

— É uma modalidade cara? Exige um grande investimento?

— Sim, o desporto motorizado é muitíssimo caro, seja carros ou motas.

— Foi ‘paitrocínio’?

— No início, sim. Nos karts e no todo-o-terreno iniciei totalmente com apoio dos meus pais. Felizmente, fomos conseguindo alguns apoios pequenos e, em 2024, tive a honra de integrar a família Repsol, um grande patrocinador que já venceu várias vezes o Dakar.

— Isso dá alguma tranquilidade para se focar apenas na competição?

— Sim, por um lado é tranquilizador perceber que o trabalho de anos está a ser reconhecido. Por outro, acrescenta pressão: tens a responsabilidade de representar uma grande marca. E eu quero e tenho que retribuir com resultados.