«Novo estádio é fundamental para o Famalicão»
— Falemos do modelo de negócio do Famalicão, que, visto de fora, até parece simples…
— O modelo de negócio do Famalicão tenta cumprir as mais básicas regras de fair play financeiro. Ou seja, operar sendo sustentável, com a esfera e a balança entre a receita e a despesa muito equilibradas. Olhando para Portugal hoje, as receitas que um clube como o Famalicão tem são a televisão, a sua operação quotidiana, bilhetes, sponsors, apostas, Liga, que, grosso modo, gerará um milhão e meio de euros, mais um fundo da UEFA. Operamos na ordem dos 6 milhões de euros de receita-base. E 6 milhões de euros de receita-base não dão, hoje, para competir na primeira liga portuguesa. Leva-nos ao caminho de uma receita que eu considero ordinária. Admito que muita gente a considera extraordinária, que é o mercado, os jogadores. E nós vamos ao mercado fazer o equilíbrio que o Famalicão precisa entre a sua receita e a sua despesa. Acho que a nossa grande mais-valia em termos de mercado assenta num ponto que nós começámos a construir na Liga 2, em que dissemos ‘vamos construir um clube de primeira na segunda’. E esse clube de primeira na segunda levou a que todo o processo de construção do jogador e do jogo dentro de portas seja feito por muitos profissionais. Temos um departamento médico forte, de rendimento, de performance, de comunicação, de scouting, de tudo o que está ligado à equipa e ao clube. Isso visa potenciar não só o jogador do Famalicão, mas também a marca Famalicão. E hoje o Famalicão consegue ter no seu campo de receita números bem assinaláveis e absolutamente suficientes para a sua despesa, a ponto de até dar lucro. O ano passado o lucro foi cerca de 8 milhões de euros de operação.
— Permita-nos falar de Gustavo Sá, a joia da coroa do Famalicão. Tem contrato até 2029 e uma cláusula de rescisão de €50 M, mas há muitos ‘tubarões’ no seu encalço. Até quando conseguirá segurá-lo?
— O Gustavo Sá é um reflexo da maturidade de que lhe falava há pouco, do crescimento do Famalicão. Obviamente, há três épocas o Gustavo Sá de hoje não poderia ficar no Famalicão mais de uma época. Hoje consegue ficar, porque o Famalicão cresceu, cresceu muito à volta do Gustavo Sá também. Cresceu muito à volta de um jogador que já tem muitos anos a jogar, de um jogador extraordinário, um capitão de equipa. Acredito que brevemente alguém baterá a porta pelo Gustavo, como já bateram. Mas até hoje o Famalicão foi sempre sedutor para o Gustavo Sá continuar. E o Gustavo Sá é muito sedutor para nós. Lá atrás tivemos dificuldades em segurar o Pote, o Ugarte…
— O clube tem, hoje, outra capacidade de reter talento?
— Temos outra capacidade de reter talento e somos também desafiantes para o jogador ir ficando até aparecer algo verdadeiramente importante. Se calhar lá atrás, e isso acho que o Centro de Treinos também nos deu muito, o jogador vivia mais em impaciência, mais à espera da saída. O Famalicão hoje é uma empresa absolutamente sustentável e saudável. Dentro desta empresa saudável que é o Famalicão, a seu tempo acontecerá com o Gustavo Sá alguma coisa que até hoje não aconteceu e vivemos todos muito em paz com isso, sendo que para nós é uma alegria tê-lo aqui.
— Qual é o segredo, afinal?
— O primeiro desafio é na porta de entrada, com o departamento de scouting, a direção desportiva, as equipas técnicas, tendo uma boa capacidade de escolha no recrutamento, e depois fazerem um bom trabalho para trabalhar a porta de saída. E esse bom trabalho no Famalicão é feito por todos os departamentos. Dividimos o trabalho em dois: um até o jogador entrar, com os contratos, o recrutamento, o scouting, e um depois de o jogador entrar, com o departamento médico, a nutrição, o planeamento, o rendimento, a logística, para quando o jogador atingir o nível em que entendemos estar capaz de jogar na equipa A ele fazê-lo. Um jogador que joga hoje na equipa A do Famalicão, podem ter a certeza absoluta, é um jogador de um nível muito alto.
— Como está o dossiê do novo estádio?
— O estádio para nós é fundamental. O estádio que temos hoje é como se tivéssemos umas botas de pedra calçadas que não nos permitem evoluir. Quando a Quantum Pacific chegou ao Famalicão, em 2018, o compromisso foi que a autarquia ia fazer um estádio novo e a Quantum Pacific investiria na SAD. A Quantum Pacific investiu na SAD. Hoje, o Famalicão está ao nível que toda a gente sabe e veio de onde toda a gente também sabe. Nesse momento, o município fez um anúncio do estádio, mas sete anos passaram e continuamos com o mesmo estádio. Dois ou três concursos passaram, a Covid também passou, várias coisas passaram e a verdade é que nós temos o estádio igual. Hoje sei que até ao final do ano há um concurso em aberto. Não sei dizer se vem alguém ou não a concurso, porque é um concurso internacional e naturalmente terá as suas regras de sigilo como qualquer outro. A minha expectativa e o meu otimismo já foram maiores. Quando o concurso foi para terreiro estava muito otimista, pensando que rapidamente iam aparecer soluções. Por isso, o tema estádio é fundamental para nós, mas é um tema que vamos ter de falar na primeira semana de janeiro, porque está um concurso em aberto e que pode ter um concorrente que pode ganhar e pode fazer um estádio.
— Que lotação preconiza para a nova obra?
— Na ordem dos 10 mil lugares. À boa maneira de um estádio apto a jogar competições europeias, mas que transmita a sensação de jogarmos sempre em casa. Isso era algo fundamental para nós. Não pretendemos um estádio que tenha muita gente, ou que esteja cheio três ou quatro vezes por ano. Pretendemos um estádio que esteja sempre cheio com os nossos. É um estádio construído para os adeptos do Famalicão e para os famalicenses. Pretendo que no novo estádio a regra seja a que hoje já aplicamos. Não importa se vem cá o Benfica, o Porto ou o Sporting, o estádio estará sempre cheio de adeptos do Famalicão.
— Neste quadro, a relação com a autarquia é fundamental. Como é que estão as coisas, de facto, e não no papel, com a autarquia?
— Confiamos que a autarquia quer uma solução para o estádio. Todos os sinais que nos são transmitidos, quer pelo anterior presidente, Paulo Cunha, quer pelo atual presidente, Mário Passos, são de que o compromisso é o de que vamos ter um estádio novo. Isto será o resultado. Até lá está a ser feito um caminho que na minha opinião está a demorar demasiado. Eu não tenho a mínima dúvida de que vamos ter um estádio novo. Acredito que há uma vontade firme neste mandato do presidente de Câmara, porque foi assim que ele assumiu, agora, no seu programa eleitoral, e o presidente da Câmara de Famalicão é um homem de palavra. Por isso, não acredito que ele pusesse nos outdoors um estádio novo e nós não venhamos a ter um estádio novo. Conhecendo-o bem e sabendo que isto é um compromisso dele, acredito que vai acontecer. Porque é fundamental para o Famalicão, mas também é fundamental para a cidade. A cidade de Famalicão é uma cidade que está em franco crescimento. É uma cidade que tem um nível de evolução habitacional, de pessoas, de estradas, de tudo e mais alguma coisa, está a crescer. Por isso, ter um equipamento como o estádio municipal, que será um equipamento âncora na cidade, também é muito importante para o seu progresso.
Artigos Relacionados: