«Temos um treinador no sítio certo à hora certa»
— Durante o seu mandato o Famalicão tem trocado várias vezes de treinador. Consegue encontrar razões objetivas para esse facto?
— Consigo. O Famalicão, que hoje está mais maturado, é um clube desafiante e difícil de ser trabalhado. Pelo modelo de jogadores que tem, sempre jovens. O Famalicão é sempre o plantel mais jovem da Liga, uma equipa que estará sempre em construção, mas com a necessidade de ganhar fim de semana após fim de semana, e isto cria sempre algumas frustrações inerentes à não concretização de objetivos. O facto de termos mudado tantas vezes de treinador, nomeadamente em outubro, novembro, dezembro, altura em que o mercado também não oferecia tanta escolha, também nos levou a cometer alguns erros, não só na escolha do treinador, mas principalmente na ferramenta que dávamos ao treinador para trabalhar versus os seus objetivos. Reconheço que uma grande fatia da responsabilidade é nossa e não dos treinadores.
— Mas ao entrar um treinador com a época a decorrer, com um plantel que não foi por ele construído, fazia com que o presidente tivesse obrigatoriamente de retirar-lhe algum grau de exigência?
— Não, porque os treinadores nos clubes, na minha opinião, servem para treinar. A construção dos plantéis será naturalmente em consonância, em alinhamento, até numa perspetiva de jogo, de jogador, de perfil. E a forma como nós entendemos que deve ser construído o plantel, o facto de ser o treinador A ou o treinador B não é a principal questão que o vai avaliar. A verdade é que este treinador, o Hugo Oliveira, está a viver um período bom, mas um período que os seus antecessores não tiveram, uma vez que nós temos uma estabilidade maior, houve muito menos mudanças. Se calhar os anteriores treinadores pagaram uma fatura de um clube em crescimento. Sou muito grato ao João Pedro Sousa, ao Ivo Vieira, ao Armando Evangelista, ao Rui Pedro Silva, porque reconheço que o trabalho deles foi, de alguma forma, prejudicado pelo momento em que estavam. Ficaram todos meus amigos e às vezes digo-lhes a brincar que estiveram no sítio certo na hora errada. E acredito que o Hugo Oliveira está no sítio certo na hora certa, em que há muito mais tranquilidade e muito menos mutação do plantel.
— Que balanço faz do trajeto dele?
- Muito positivo. A escolha do Hugo Oliveira é um bocadinho na senda do João Pedro Sousa ou até do Rui Pedro Silva, um era assistente do Marco Silva e outro do Nuno Espírito Santo. Conhecíamos bem o Hugo, já falávamos com ele há algum tempo. Não necessariamente para vir treinar o Famalicão, mas sabíamos da ambição do Hugo em ser treinador. Entendemos que reunia, com a sua experiência e também com a sua vontade, ferramentas suficientes para fazer bem no Famalicão. O Farioli também começou como adjunto. Outros começaram logo como principais, como o Rui Borges ou o Ruben Amorim, por exemplo. Há vários caminhos para chegar a treinador principal. Entendemos, nas várias reuniões que tivemos com o Hugo Oliveira, que era um tipo que estava absolutamente apetrechado, do ponto de vista técnico, mas também do ponto de vista pessoal. Pela motivação, pela força, pela capacidade que nele tinha de pôr em prática tudo o que foi absorvendo ao longo dos anos. Somos um clube que também obriga a ter um treinador com uma vertente didática muito grande, alguém que precisa de vir aqui e não só trabalhar, mas também ensinar. Ele percebeu que o nosso grande foco assenta em dois pilares: o jogo e o jogador.
— Mas também precisa ter um presidente que não seja resultadista, que tenha essa compreensão…
— Mas eu sou resultadista. O treinador sabe que eu sou resultadista, sou adepto, sou um tipo de bancada, sou um tipo de campo. Porque, e sejamos muito claros, no futebol vivemos em competição. E é das indústrias do mundo em que ninguém consegue ter 18 fábricas boas. Uma fábrica é campeã, duas fábricas vão à Champions, uma fábrica vai à Europa e duas ou três fábricas descem. Enquanto ali à frente encontramos a indústria dos têxteis, que pode ter 18 fábricas boas. Ou seja, essa história de fazer isto muito bem, mas sem resultados é talvez uma das grandes definições de inutilidade, que é fazer uma coisa na perfeição e que não serve para nada.
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