Leonardo Lelo e Ricardo Horta foram 'discriminados' por Roberto Martínez — Foto: IMAGO
Leonardo Lelo e Ricardo Horta foram 'discriminados' por Roberto Martínez — Foto: IMAGO

Novo arranque

Ecos da Pedreira é o espaço de opinião quinzenal de Diogo Costa, médico interno de Psiquiatria e associado do SC Braga

Para os apaixonados por um clube de futebol, as pausas para as seleções podem ser um período de algum aborrecimento, fruto da impossibilidade de ver a sua equipa a jogar. Para as equipas, e nomeadamente para o SC Braga, que em Portugal é o que mais jogos realizou em 2025/2026 (24), este pode ser visto como um momento de descanso, tantas vezes necessitado, sobretudo para os jogadores que acabam por ficar de fora dos convocados das suas seleções. Para aqueles que entram nessas listas, a possibilidade de representar as suas nações será certamente um motivo de orgulho tremendo.

Não me alongando, parece-me haver, em Braga, dois nomes que podem ter sido, de certa forma, discriminados na última convocatória da Seleção Nacional. Falo de Ricardo Horta, um jogador que foi definido por Roberto Martínez como «taticamente e tecnicamente um sonho para qualquer treinador» e que, desde tais declarações, não mais foi convocado pelo próprio, e de Leonardo Lelo. Este último, com passagem na Seleção sub-21, conta já nesta temporada com sete assistências e um tento apontado. Além disso, é, à data de hoje, e a par de Pedro Gonçalves, o jogador da Liga com mais passes para finalização (30).

Apesar de tudo isto, o selecionador nacional, privado dos dois atletas que habitualmente fazem parte do seu lote de jogadores convocáveis para essa posição, optou por convocar mais dois laterais-direitos, perfazendo um total de quatro para esse lado e zero para a esquerda. Esta é uma decisão reveladora da inflexibilidade das ideias de um profissional que tenta ser mais um treinador do que um selecionador. Incompreensível ao ponto de termos visto a Seleção Nacional terminar o jogo com a Arménia, no Dragão, com um quarteto defensivo composto por (da direita para a esquerda): Matheus Nunes, Rúben Neves, Renato Veiga e Nélson Semedo.

E ainda no campo da lógica, ou da sua ausência, não mereceria o capitão do SC Braga, jogador com maior número de assistência na fase de liga da UEFA Europa League, que conta já com 13 envolvimentos em golos na temporada, um espaço na convocatória da Seleção? Acaba por ser de difícil compreensão a nomeação, com direito a estreia, de Carlos Forbs, habitualmente suplente na Seleção sub-21, quando outros (Mora, Quenda…) já integraram a lista de convocados sem a possibilidade de entrar em campo.

Redirecionando o foco, nas últimas semanas tem-se vindo a vincar a imagem de um SC Braga forte, competente e preparado para os embates com equipas de maior calibre. Uma exibição impositiva no Dragão, inferiorizando um adversário que estaria em vantagem física, deixa boas perspetivas de futuro, apesar do desfecho negativo. A derrota em casa frente ao Genk foi particularmente enganadora, mas em nada belisca a excelente campanha europeia realizada até ao momento, mantendo em aberto as possibilidades de passagem à próxima fase da UEFA Europa League. Já no regresso a casa, na receção ao Moreirense, um SC Braga fatigado realizou uma exibição de serviços mínimos, conseguindo o principal objetivo de amealhar os três pontos, com vista à recuperação na tabela classificativa.

No domingo, a uma hora que se saúda positivamente (apesar da pouca contribuição meteorológica), o SC Braga defrontou o Nacional para a Taça de Portugal, repetindo-se o confronto de pior memória da temporada até ao momento. A resposta, em novo arranque pós-paragem de seleções e com alguma rotação, foi altamente positiva, com 3-0 ao intervalo. Na segunda parte, de forma difícil de explicar, a equipa complicou o seu próprio trabalho e transformou um jogo confortável e bem conseguido, num jogo algo caótico, ao qual acabou por conseguir resistir.

Segue-se agora um período crítico, com desafios europeus intercalados com o regresso do campeonato. Mediante a estabilidade, confiança e tranquilidade que se têm evidenciado, existem razões para que os ânimos e as expectativas estejam altos. No final de contas, e recuperando a ideia elencada no meu texto do passado dia 30 de setembro, nos últimos tempos, em Braga, o copo parece estar meio cheio… e que assim continue.