Mundial: Vieira e Pontes são os primeiros a marchar em Tóquio
É já esta sexta-feira, a partir das 23h30, que João Vieira promete marchar para mais um recorde, 26 anos depois da estreia em Mundiais.
O marchador do Sporting vai estabelecer um novo recorde quando cumprir aquela que será a 14.ª presença da carreira em Mundiais — deixa para trás o espanhol Jesús Ángel García, que disputou 13 edições entre 1993 e 2019 —, este em Tóquio, onde Portugal tem a maior comitiva de sempre: 32 atletas.
A presença em Tóquio-2025 atesta que Vieira é à prova de contrariedades, tendo assegurado, em declarações à Federação Portuguesa de Atletismo, já no Japão, que o espírito é o mesmo com que chegou estreante a Sevilha-1999. «Com a mesma alegria e espírito da primeira, da segunda e da terceira e de todas as outras. Para fazer o melhor», disse o atleta de 49 anos, que detém o recorde de mais velho medalhado em Mundiais, com a prata conquistada em Doha-2019, nos 50 quilómetros marcha, então com 43 anos e 221 dias.
«É a medalha da minha carreira, com 43 anos ainda estive aqui, estou feliz por todas as pessoas que trabalham comigo e continuam a acreditar», afirmou, na altura.
Dificilmente imaginaria que seis anos depois ainda cá estava, mas agora nem sequer exclui a hipótese de estar presente nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028!
«A minha marca é a resiliência ao longo de todos estes anos, marchando atrás dos objetivos apesar da idade», explicou o primeiro português a entrar em ação no Japão.
Devido ao calor que se faz sentir na capital, as provas de marcha, 35 quilómetros, — Joana Pontes compete à mesma hora — foram antecipadas para evitar as horas de maior intensidade térmica.
Nesta edição dos Mundiais, nos quais Portugal já conquistou 23 medalhas ao longo de 20 edições, sete das quais de ouro, a última por Pedro Pichardo em Oregon-2022, que volta a representar a Seleção Nacional no Japão, pela primeira vez, Portugal terá um representante no lançamento do disco masculino, Emanuel Sousa, o recordista nacional, e apresentará uma estafeta masculina nos 4×400 metros, graças à excelente prestação na final dos mundiais de estafetas. Também os 1500 metros masculinos terá, pela primeira vez, três representantes portugueses — Isaac Nader, Nuno Pereira e José Carlos Pinto.
A comitiva portuguesa está recheada de medalhados nos últimos três anos: Pichardo, campeão mundial de triplo salto, em Eugene-2022, e vice-campeão olímpico em Paris-2024 e vice campeão europeu em Roma-2024; as medalhadas de bronze nos Europeu de Roma-2024, Agate de Sousa, no comprimento, e Liliana Cá, no disco.
E já este ano, em pista coberta, Salomé Afonso, vice-campeã europeia de 1500 m e medalha de bronze em 3000 m; o bronze nos 1500 m de Isaac Nader e o bronze no lançamento do peso de Auriol Dongmo.
«Temos atletas de grande nível, iguais aos melhores»
O presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Domingos Castro, não quis dizer com quantas medalhas sonha nos Mundiais que hoje começam, mas assumiu que tem na cabeça não regressar a Portugal de mãos a abanar. «Esta convocatória para Tóquio reflete a qualidade e o empenho dos nossos atletas e podem ter a certeza que tudo faremos para que seja uma participação de excelência. Obviamente, que vamos com a convicção que podemos conseguir bons resultados no que diz respeito à conquista de medalhas, mas para mim as medalhas são apenas o reflexo da confiança, do trabalho e o valor inegável de um desporto que une e eleva», disse, em declarações à agência Lusa.
Aos atletas mostrou-se orgulhoso: «Não me canso de dizer isto, nós temos atletas de grande nível em Portugal. Iguais ou equivalentes aos melhores. Por isso as perspetivas são iguais para todos. Contudo, como ex-atleta, sei que nem tudo sai perfeito. É preciso estar bem, que tudo esteja bem preparado para aquele dia, e às vezes isso não acontece! Entra aqui o fator sorte e as boas disposições. Mas eu estou confiante, vejo a malta bem disposta, o que é bom sinal, e por isso o que eu lhes peço é que façam o seu melhor, porque não há ninguém que queira o melhor que eles próprios. Por isso, se não conseguirem é porque não foi possível.»
Primeiro-ministro visitou a comitiva portuguesa
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, encontrou-se, na embaixada de Portugal em Tóquio, com alguns dos atletas que vão participar no Campeonato Mundial de Atletismo, no último ponto de agenda em Tóquio da visita oficial ao Japão, que termina hoje.
O primeiro-ministro falou com o presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Domingos Castro, que recordou uma frase que lhe foi dita por Montenegro, de que, no Governo, que teria de ser maratonista. «Tem de fazer corrida de fundo. E Portugal está muito bem cotado. Temos hoje razões para estar otimistas relativamente ao futuro», elogiou o chefe do Governo, acrescentando que a maneira como Portugal é visto «melhorou muito nos últimos anos».
Domingos Castro concordou, mas aproveitou para pedir apoio para a sua federação e as outras. «Em nome da FPA e de todas as federações, até porque sou vice-presidente do Comité Olímpico de Portugal [COP], liderado por Fernando Gomes, que é um presidente de excelência, apelo a que, no Orçamento do Estado, tudo o que sejam valores do IPDJ e das apostas desportivas venha para as federações e para as nossas modalidades, sobretudo as olímpicas, porque, com esse apoio, podemos ir muito mais além», justificou o dirigente que, curiosamente, foi o primeiro atleta português, em masculinos, a ser medalhado em Campeonatos do Mundo, com a conquista da medalha de prata na prova dos 5.000 metros, em Roma-1987, poucos dias depois de Rosa Mota se ter sagrado campeã mundial na maratona.