Treinador deixa elogios à exibição das águias em casa do Chelsea, que venceu com um autogolo de Richard Ríos

«Há perder e perder»: Mourinho tira notas positivas do Chelsea-Benfica

Técnico considera que a exibição de Stamford Bridge foi a melhor das águias desde o seu regresso

A análise de José Mourinho, na sala de imprensa de Stamford Bridge, à derrota do Benfica com o Chelsea (1-0), em jogo da segunda jornada da UEFA Champions League::

Que análise faz ao encontro?

Penso que é a mesma de todos. Acho que o Benfica fez um grande jogo. Disse aos jogadores que uma derrota é uma derrota. Ter jogado bem não nos dá nenhum ponto, mas há perder e perder, e perder assim não pode ser um ataque à nossa confiança, ao nosso crescimento. Pelo contrário, tem de ser uma base de construção. O Chelsea é a melhor equipa das quatro que defrontei, com todo o respeito pelas outras, e este é o melhor jogo que o Benfica faz. Consistente, sólido, equilibrado taticamente e emocionalmente. Cria oportunidades, tem ótimas saídas, controla uma equipa muito difícil. O Benfica fez um jogo muito conseguido. Vamos com frustração, mas acho que é uma base de construção importante.

Sente que tirou algo do jogo?

Sem dúvida. Tivemos ocasiões. O golo talvez seja o único erro defensivo que cometemos. O Dedic e o Ríos defenderam a mesma zona, e deixaram o Garnacho aberto. A equipa esteve estável, confiante. Na fase final tentei lançar jogadores frescos, tentei um segundo avançado, vi o Malo Gusto em dificuldades, mas o Maresca mudou para um jogador ainda melhor. O plantel do Chelsea é isto. Fiz quatro jogos em dez dias. É jogar, recuperar, viajar. Não tem existido tempo para treinar, mas hoje estou muito feliz. Fico com o rendimento. Gostei.

Gostou da receção dos adeptos do Chelsea?

Sim, mas isso não me alimenta. Alimento-me de vitórias, não de recordações. O que alimentaria seriam os três pontos. Claro que agradeço, ouvi os adeptos. Vivo aqui ao lado, como disse, e cruzo-me com adeptos do Chelsea todos os dias. A relação será eterna, e espero voltar com os meus netos. Faço parte da história do Chelsea e o Chelsea faz parte da minha história.

A que se pode agarrar a equipa. O que aprendeu, já pensando no jogo do Dragão?

Temos de colocar a bola lá dentro. Sem isso não ganhas. Tens de ser defensivamente sólido, equilibrado. O Chelsea tinha mais velocidade no banco. Era importante controlar tudo isso. Tivemos as nossas oportunidades. Ainda não vi no monitor, não sei se são grandes ou não, mas tivemos oportunidades. Na parte final tento dar nova energia, com o Schjelderup na esquerda e o Ivanovic pela direita, embora ele tenha dificuldade nas alas, mas o Lukebakio já estava em quebra. Os jogadores foram fantásticos, até porque tínhamos os três médios com amarelo. Fizemos tudo bem menos ganhar o jogo, marcar golo. Não quero dizer parvoíces, mas creio que o João Pedro deveria ter sido expulso antes, por um lance com o Otamendi. Se tivesse saído ali segundo amarelo não me espantava nada, e se eles já estavam em dificuldade, podiam ter colapsado, como já aconteceu com o Brighton. Mas não tenho certeza.

Chegou aqui ao Chelsea há 20 anos. Quão forte continua a ser o seu desejo de continuar a ganhar jogos, a conquistar troféus?

É maior ainda. Quando cheguei, ninguém esperava nada de mim. Havia muitas interrogações, se ia conseguir ou não. Deixei o Manchester United depois de ganhar títulos, deixei o Tottenham depois de chegar a uma final, deixei a Roma depois de chegar a duas finais. Comigo nunca é suficiente. Gosto de me desafiar, de estar na vanguarda todos os dias. Tenho uma família fantástica, que me motiva para trabalhar. Estou desesperado para ganhar o próximo jogo.

Quais são as hipóteses do Benfica, com zero pontos em dois jogos, e com o calendário que tem? Disse que o Leandro Barreiro parecia o avó no banco. Sente falta de jogadores com mais maturidade, que possam mexer com o jogo?

Ter um banco super jovem também tem as suas belezas. Também tem os seus desafios. Todos os grandes jogadores foram jovens, a dado momento. Estou sempre contente por lançar jovens, mas a sua pergunta tem alguma lógica. O Malo Gusto estava em dificuldade e entrou o James. O Garnacho foi rendido pelo Gittens. Estamos um bocadinho limitados. Mas com o Bah e o Manu já estaríamos a falar de dois jogadores potencialmente para jogar, que dariam um equilíbrio maior. Temos três meses para pensar em falar no mercado, para reforçar o grupo. Temos aqui jovens com muita capacidade. O sorteio foi muito difícil para o Benfica. Perdemos os três pontos obrigatórios, que eram os do Qarabag. Vamos jogar novamente fora, com o Newcastle, com mais uma equipa de Premier League. Mas foi olhos nos olhos com o Chelsea. Subindo os níveis de confiança, e com trabalho, podemos competir contra essa gente. É muito difícil, mas vamos ponto a ponto, ver se conseguimos ser qualificados. Acredito que conseguimos.

O Benfica sente falta de Akturkoglu?

Já não está aqui. O Benfica fez um bom trabalho ao contratar o Lukebakio. Não fez pré-época, teve uma lesão, está a entrar na equipa. Encontrou um adversário difícil, como o Cucurella, mas é um bom jogador, e está a adaptar-se.

Esta exibição foi uma prova de personalidade que transmite confiança?

A mudança de dois para três dias de intervalo é significativa. Quando entras num ciclo assim, está cientificamente provado que nunca entras em recuperação completa, jogas com fadiga. Este terceiro dia deu uma determinada frescura, e o apoio dos adeptos fez-se sentir muito. Stamford Bridge tem uma boa acústica e os azuis não se fizeram ouvir. O Benfica conseguiu criar um ambiente dominador de fora para dentro e os jogadores sentiram-se confortáveis, até pela forma como o jogo decorreu. Depois é preciso aumentar os níveis de confiança. Começo a compreender o Ríos, precisa de espaço para jogar, tem chegada, pode aparecer em zonas de finalização. Até ele, que tem sido um bocadinho criticado, pelo número que tem nas costas, da transferência, fez um jogo positivo. É uma demonstração de capacidade, fizeram um bom jogo. Não posso dizer que estou contente, mas retiro muitas coisas positivas.

Foi o melhor jogo do Benfica desde que chegou? Confirma a ideia de que a equipa está mais confortável nestes jogos em que não é favorito? Já sabe algo da lesão de António Silva.

O António saiu lesionado mas saiu do campo a caminhar. Está recuperado. Mas quando há tonturas em campo, o mais importante é o homem. Mas nem foi dramático, pois é das poucas posições em que temos uma alternativa de corpo, pronto a jogar, como o Tomás. Nem se pode chamar concussão, penso que vai recuperar. Não somos uma equipa com grande presença na área, e quando jogamos contra equipas muito baixas, que se metem lá atrás, o Benfica está mais habituado a circular com muito passe lateralizado, procura pouco a profundidade. Talvez seja um pouco por aí. Mas hoje estivemos muito sólidos defensivamente, sem dar hipóteses ao adversário em transição, ao contrário do que aconteceu com o Gil Vicente. Talvez seja um pouco por aí. Mas é um bom sinal para a Champions.