Trincão tenta furar a barreira defensiva do santa Clara - Foto: EDUARDO COSTA/LUSA
Trincão tenta furar a barreira defensiva do santa Clara - Foto: EDUARDO COSTA/LUSA

Leão canta vitória mas só ganha num canto desafinado (crónica)

Sporting dominador bem pode queixar-se de não concretizar as inúmeras oportunidades criadas. Santa Clara resistente viu-se em vantagem cedo mas não resistiu até ao fim e bem pode queixar-se de sofrer o segundo golo (Hjulmand depois do empate de Pedro Gonçalves) na sequência de lance irregular aos 90+4’! Contas feitas, o pior de tudo foi o relvado (inadmissível)

Se a vitória do Sporting é justa? Poucas dúvidas restam se olharmos para o que os verdes e brancos produziram em 90 minutos, sobretudo as oportunidades criadas na primeira parte, que poderiam ter levado o bicampeão nacional a ganhar logo para o intervalo. Mas num relvado tão mau e com um bloco tão baixo, o Santa Clara quase conseguiu parar o leão e acaba a poder queixar-se de ter perdido num lance ferido de irregularidade que fez o Sporting cantar vitória quando o disco já parecia riscado.  

Quatro dias depois do empate 1-1 em Turim com a Juventus, na UEFA Champions League, nova viagem longa dos verdes e brancos que aterraram nos Açores para a 11.ª jornada do campeonato com a missão de voltar a pressionar o líder FC Porto, pois a vitória deixaria o leão a dormir ao lado do dragão no trono da Liga – pelo menos por uma noite. Entre o desgaste dos jogos e das viagens, três mudanças no onze promovidas por Rui Borges: Fresneda, Geny Catamo e Luis Suárez nos lugares de Vagiannidis, Geovany Quenda e Ioannidis.

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Mexeu então o treinador leonino na defesa e no ataque. Na frente sem surpresa, o regresso do colombiano para ser a referência atacante da equipa, de volta para o jogo associativo que este sábado muitas vezes foi tentado embora nem sempre com objetividade – porque a barreira defensiva dos açorianos era imensa; porque o péssimo relvado (inadmissível numa Liga que se quer de nível europeu e que acabou por ter influência no resultado…) o dificultava. Na extrema direita a habitual rotação entre moçambicano e português mas na defesa, no mesmo lado, o surpreendente (porque surpreendente foi também a chamada rápida após lesão), ou talvez não (porque Vagiannidis foi o elo mais fraco em Turim…), regresso do espanhol à titularidade.

Mas se o Santa Clara levava a lição estudada para colocar os nervos à flor da pele aos verdes de brancos, 3x5x2 a transformar-se num 5x4x1 muito recuado, viu ainda a sorte bafejar-lhe a entrada em campo após mau alívio de Diomande: bola a embater em Wendel que a segurou, cruzou da direita direitinha para Vinícius fazer golo aos 5’. Outra vez os leões, depois de Nacional e Famalicão no campeonato, Paços na Taça e Marselha na Champions, a concederem 1-0 ao adversário cedo no jogo.

O leão reagiu. Tanto que até aos 32, minuto em que Pedro Gonçalves empatou de cabeça após excelente cruzamento de Geny da direita, houve cinco possibilidades para empatar: Suárez ao lado aos 16’; Pote para grande defesa de Gabriel Batista aos 20’: Geny para outra grande defesa aos 21’: Maxi de cabeça por cima aos 28’; outra vez Pote em boa posição mas com Sidney a resolver aos 29’.

Só dava Sporting. Talvez demasiadas vezes tentando furar em combinações interiores por onde pouco espaço havia, ainda assim capaz de mais duas grandes chances, agora já para a reviravolta, ambas por Suárez (35’ e 38’).

O Santa Clara não pressionava, esperava apenas em zona muito recuada – à espera de bloquear os verdes e brancos no pouco espaço que lhe dava, talvez já nem à espera também de outro erro como o que tinha valido o primeiro golo do jogo…

Rui Borges fez tudo para ganhar

Rui Borges não perdeu tempo a mexer e para a segunda parte tirou João Simões e lançou Ioannidis, com Pedro Gonçalves a passar para zona interior no meio-campo. Sentido único continuou, embora o ritmo das oportunidades nem tanto, com o azar a bater à porta de Pote, lesão a obrigar a nova mexida logo aos 57’: Morita para o meio-campo, o treinador leonino a aproveitar para trocar também Geny por Quenda.

O domínio era inquestionável mas os açorianos começavam a ver o Sporting não ser tão contundente nas oportunidades, nem mesmo já com Alisson em campo – Trincão na direita com Quenda pelas costas. Ioannidis teve na cabeça o 2-1 mas atirou ao lado (87’), imagem do desacerto quer já se apoderava dum leão desesperado com o empate.

Se o desacerto do grego foi imagem desse desnorte final, o falhanço de Diomande (outra vez) aos 90’ só não foi golpe fatal porque Brenner Lucas atirou ao lado. E o de Gonçalo Inácio no minuto seguinte porque Maxi usou da falta para travar o isolado Brenner e sacrificar-se pela equipa com vermelho direto.

Estava o leão perdido, a música a desafinar e a jogar já no desespero. E foi no desespero e num canto desafinado (porque era pontapé de baliza, foi Quenda a atirar para fora por conta do mau relvado, bola a ressaltar para a canela do sportinguista) que Hjulmand cantou golo de cabeça aos 90+4’. Vitória leonina justa pelo que fez em campo, mas manchada porque foi selada num lance manchado de irregularidade.