Lançou Catamo, não foi multado em Luanda e desafiou chineses
- Já foi selecionador de Moçambique. Os Mambas ainda têm hipótese de um apuramento histórico para o Mundial. O que representaria isso para si?
- Seria uma grande felicidade. Desde logo porque sou português mas nasci em Moçambique. Depois por ter sido selecionador de Moçambique. Serei sempre Mamba. Ficaria feliz também pelos jogadores e pelo povo se Moçambique conseguir esse feito histórico. O Chiquinho Conde tem feito um grande trabalho. Considero-o um amigo. É uma boa pessoa...
- Fica feliz pelo sucesso de Geny Catamo?
- Claro que sim. Quando assumi a seleção, chamei o Geny logo na primeira convocatória. Fui até muito criticado, o que é natural, porque era muito menino. E porque, por razões burocráticas, poderia ter problemas na viagem de ida e volta entre Portugal e Moçambique.... Fiz até diligências pessoais junto do embaixador em Maputo para que Catamo pudesse deslocar-se sem problemas entre os dois países. Lancei o Geny na seleção de Moçambique , não foi favor, foi trabalho dele. Já o conheço desde os 15 anos, acompanhei a sua evolução. E quando um jogador está pronto, tenha 16 ou 17 anos, há que apostar nele sem problema. Lancei o Geny porque estava pronto e felizmente correu bem. Ficamos sempre felizes por um jogador em quem apostámos estar a ter sucesso, como acontece com o Geny na seleção e no Sporting.
- Que melhores recordações guarda de Moçambique?
- Acima de tudo a forma como o povo ama a seleção e a paixão que tem pelo futebol. E, claro, as amizades que ficaram.
- Em Angola foi treinador do Interclube, que é clube que representa a Polícia Nacional. Calculo que nunca tenha sido multado...
- [risos] É verdade, é verdade... Mas conduzia sempre com cuidado e respeito pelas regras, embora conduzir em Luanda seja complicado. O Interclube tem uma enorme dimensão em várias modalidades. Tem um estádio próprio, o que em Angola é muito importante. Um clube que mistura um lado familiar com o institucional por ser o clube que representa a Polícia. Foi uma ótima experiência profissional. Contei com adjuntos angolanos de quem tenho o melhor a dizer, como o Túbia, o Milói ou o Fernando Pereira. A nível de dirigentes e staff, também estou grato pela forma como me receberem a fizeram tudo para me ajudar. Angola é sempre um bom país para trabalhar. A seleção tem crescido, há cada vez mais clubes a crescer e ganhar dimensão fora de Luanda.
- Primeiro Moçambique, depois Angola, agora Marrocos. África é cada vez mais a sua aposta?
- Não, tem sido mais coincidência do que aposta. Sou um treinador do Mundo, aberto a qualquer desafio. Gostava muito de voltar a trabalhar em Portugal, veremos o que o futuro nos reserva, mas estou aberto a tudo.
- Já se começa a vencer o preconceito de que em África só trabalha quem não tem mais nada em mãos?
- Sem dúvida e basta ver a quantidade de bons treinadores que tem aceitado trabalhar em África, em clubes ou, essencialmente, seleções. É verdade que nem todos oferecem as melhores condições, mas isso pode até ser um desafio de crescimento para um treinador. Mas sim, já é possível encontrar bons projetos em África, trabalho de qualidade e com profissionalismo. Porque, no fundo, trabalhe onde trabalhe, tenha as condições que tiver, serei sempre profissional.
China: 'demasiado' obedientes...
- Tem ainda uma passagem pela China...
- Mais uma grande experiência. Estava a construir uma seleção.... Muitos torneios, muito scouting... Estive um ano. O modernismo e tradição caminham lado a lado. As pessoas são muito simpáticas. O problema maior é a poluição em Pequim.
- E encontrou talento?
- As crianças, na China, estão habituadas a seguir orientações e ordens. O que torna tudo mais fácil para os treinadores. Mas também tem contras, já que o futebol é tomada de decisão no momento. Logo, parte do meu trabalho era levá-los a tomar decisões por eles próprios.