José Mourinho fechou as duas balizas
É dos livros: qualquer treinador quer defender a sua baliza e atacar a do adversário. No fundo, como diria La Palisse, marcar mais golos do que o oponente. De preferência — segundo a maioria dos técnicos — ganhar por 1-0 em vez de ganhar por 5-4. A equipa soma os mesmos três pontos, mas os equilíbrios serão diferentes. Interessante para os treinadores, menos entusiasmante para os adeptos.
Vejamos os golos, marcados e sofridos pelo Benfica, nas últimas quatro épocas. 2022/2023 (Roger Schmidt): 131-40 em 55 jogos, médias de 2,38 e 0,73. 2023/2024 (Roger Schmidt): 114-54 em 56 jogos, médias de 2,04 e 0,96. 2024/2025 (Roger Schmidt e Bruno Lage): 145-58 em 60 jogos, médias de 2,41 e 0,97. 2025/2026 (Bruno Lage e José Mourinho): 15-5 com Lage em 10 jogos, médias de 1,50 e 0,50; 8-3 com Mourinho em seis jogos, médias de 1,33 e 0,50.
Esta época, como se vê, primeiro com Bruno Lage e sobretudo agora com José Mourinho, há muitos menos golos. Marcados e sofridos. Em 2022/2023, 2023/2024 e 2024/2025, cada jogo do Benfica teve, em média, sempre pelo menos três golos, entre marcados e sofridos. Esta época, os números caíram: 2,00 com Lage e 1,83 com Mourinho.
O mesmo se passa com outra métrica interessante: o chamado expected goals, ou xG, que significa, de forma simplista, golos esperados. Mede a qualidade das oportunidades de golo criadas por uma equipa ou jogador num jogo. Cada finalização recebe um valor entre 0 e 1, que representa a probabilidade de o remate terminar em golo.
Vejamos o que se passa no Benfica desde 2022/2023, época em que os encarnados, sob o comando de Roger Schmidt, foram campeões pela última vez.
Nos 45 jogos dessa temporada avaliados sob a perspetiva do xG (sem Taça de Portugal, Taça da Liga e eliminatórias da Liga dos Campeões), o Benfica teve uma média de 2,41 expected goals marcados e 0,77 sofridos.
O valor mais elevado relativamente à baliza adversária foi de 4,9 xG na receção ao Portimonense, na jornada 15 da Liga (escasso 1-0 para tanta oportunidade criada). Os mais baixos foram frente ao V. Guimarães (0-0), na ronda 8 da Liga, e no Dragão (1-2), na jornada 27, ambos com 0,5 xG.
Relativamente à defesa da baliza de Trubin, os piores jogos foram com equipas de nível semelhante: vitória sobre a Juventus (4-3) na fase de grupos da Liga dos Campeões e o empate em Alvalade (2-2) na jornada 33 do campeonato, ambos com 2,4 xG. Ou seja, a baliza do Benfica, como se vê pelos dois resultados, esteve sempre em muito perigo.
Os melhores jogos neste aspeto foram o triunfo sobre o Boavista, no Bessa (3-0), na jornada 4 da Liga e a vitória na receção ao Maccabi Haifa, na fase de grupos da Champions, ambos com xG de 0,1. Ou seja, Trubin teve duas noites bem descansadas.
Na época seguinte, ainda com Roger Schmidt do princípio ao fim, os números foram piores: média de 2,09 xG marcados e 1,19 sofridos nos 47 jogos avaliados. O que poderá ter contribuído para a perda do campeonato para o Sporting, embora os xG dos leões não tenham sido muito diferentes: 2,14 e 0,77.
O treinador alemão esteve depois no Benfica nos quatro primeiros jogos de 2024/2025, com média de 1,53 xG marcados e 0,55 xG sofridos. Baliza de Trubin pouco exposta, mas, mesmo assim, três golos sofridos: 0-2 em Famalicão, 3-0 e 1-0 na Luz frente a Casa Pia e Estrela da Amadora, e 1-1 em Moreira de Cónegos.
Rui Costa mexeu no comando da equipa e reentrou, cinco anos depois, Bruno Lage. Com 43 jogos avaliados pela métrica dos golos esperados, obteve médias de 2,29 ofensivos e 1,01 defensivos — números próximos, por exemplo, dos obtidos no campeonato ganho por Roger Schmidt.
Ponto alto ofensivo: 5,4 xG na vitória na Luz sobre o Boavista (3-0). Ponto alto defensivo: vitória na Luz sobre o Atlético de Madrid (4-0) e empate em casa com o Bolonha (0-0) na fase de liga da Champions; e ainda os triunfos sobre o Rio Ave na Luz (5-0) na jornada 5 da Liga e a vitória em casa do Nacional (2-0) na jornada 8, sempre com xG defensivos de apenas 0,2.
Esta temporada, o Benfica teve dez jogos avaliados por esta métrica: oito da Liga e dois da Champions — cinco com Bruno Lage e cinco com José Mourinho. Lage apresentou média de 1,84 xG ofensivos e 1,04 defensivos. Pior do que na época passada, em que os números foram de 2,29 e 1,01, embora a amostra seja ainda muito pequena.
Com Mourinho, as balizas ficaram bem menos expostas — tanto a do Benfica como a do adversário: 1,40 xG ofensivos e 0,74 defensivos.
Vejamos, jogo a jogo, a sequência de xG ofensivos do Benfica de Mourinho: 2,3 (Aves SAD, fora), 2,5 (Rio Ave, casa), 1,2 (Gil Vicente, casa), 0,9 (Chelsea, fora) e 0,1 (FC Porto, fora). Ou seja, os encarnados têm piorado na construção de oportunidades de golo, embora os dois últimos adversários tenham sido de topo europeu.
Relativamente à defesa da baliza de Trubin, os números são mais oscilantes, como se vê: 0,9 na Vila das Aves, 0,2 na receção ao Rio Ave, 1,2 em casa com o Gil Vicente e 0,7 nas deslocações aos terrenos de Chelsea e FC Porto.
Ou seja, José Mourinho está a estancar as duas balizas: a sua e a do adversário. Os cinco xG, ofensivos e defensivos, somam apenas 10,7. Números redondos: 10 golos esperados em cinco jogos — o que daria, em rigor, qualquer coisa como cinco empates a uma bola, ou vitórias/derrotas sempre tangenciais.
Os de Lage, nos primeiros cinco jogos da época, atingiram 14,4 golos esperados, entre sofridos e marcados.
Não há dúvida: Mourinho está a fechar ambas as balizas.