Jorge Andrade fala de dois homens fanáticos pelo trabalho

Jorge Andrade fala do 'chato' Jorge Jesus e da Amadora, «o melhor sítio para ver futebol»

Antigo central recorda a relação, por vezes tensa, com o treinador que era picuinhas nos treinos e declara amor ao E. Amadora

— Falemos de Jorge Jesus. Foi treinado por ele no Estrela, é alguém que também não desiste de continuar a trabalhar.  Tem essa sensação?

— Sim, é um caso de estudo. Porque é uma pessoa que veio da Amadora, foi jogador, mas sem tanto protagonismo como quando passou a treinador. Ruben Amorim é igual, uma passagem para treinador espetacular, como o Abel Ferreira. Temos treinadores muito bons. O José Mourinho influenciou toda a forma de treino e de liderar através dos media. O Jorge Jesus não, é uma pessoa mais do terreno, mais do campo. E o jogador, quando é treinado por ele, percebe a diferença entre estar um metro para a frente ou um metro para trás. Quem está a ver um jogo na televisão, um metro para a frente não vai fazer a diferença. Mas faz. Se o futebol é rigoroso, hoje em dia, com o VAR, com as linhas de fora de jogo, mais sentido faz um metro para a frente ou um metro para trás.

— E ele era assim nos treinos há muito tempo.

— Era muito chato. Fazíamos situações de 11 contra 0 e ele estava a corrigir ao milímetro. ‘Tens de estar um metro mais para a frente ou mais para trás’. Na altura, que não havia VAR nem nada, fazia-nos confusão. ‘Mas porque é que este senhor está a chatear com um metro?’ Mas hoje em dia, com a tecnologia, vemos que por um metro se ganha e por um metro se perde. E ele via no terreno, é muito bom. E entra na cabeça do jogador. Consegue saber logo de manhã se estás bem disposto, pronto para trabalhar ou não. Porque ele faz questão de cumprimentar um por um e ele olha na cara. Há treinadores que não. Ele cumprimenta toda a gente para olhar e ver a condição em que o jogador está. É como os filhos. Se todos os dias vais acordar um filho, dá para ver como é que ele está pela cara. Agora se ele ‘pega no pé’ de alguém, meu Deus, vai ser o ano todo a ‘pegar no pé’.

Era muito chato. Fazíamos situações de 11 contra 0 e ele estava a corrigir ao milímetro. ‘Tens de estar um metro mais para a frente ou mais para trás’. Na altura, que não havia VAR nem nada, fazia-nos confusão. ‘Mas porque é que este senhor está a chatear com um metro?’

— Aconteceu consigo?

— Comigo não teve sorte. A primeira vez que ‘pegou no meu pé’, mandei-o passear. Pedi desculpa, mas teve de ser.

— E mesmo assim continuaram a dar-se bem.

— Sim, muito bem. Estive dois anos com ele. Dois anos também com o Fernando Santos. Tive um arranque de carreira espetacular com eles. E o Jorge Jesus é o mestre da tática. Campeão da Libertadores. Grande campeão. E agora está outra vez na Arábia com uma oportunidade espetacular com o Ronaldo para ver se o Al Nassr consegue ganhar a Liga. Que é o que ele tanto deseja. E espero que eles dois casem porque são duas pessoas com uma mentalidade muito forte, com o objetivo de ganhar. Perfeccionistas. Os dois não dormem, workaholics. Só a pensar no trabalho, trabalho, trabalho. E é muito giro porque são dois ‘cabeçudos’ e espero que eles se entendam, porque vai dar sucesso.

—E o ressurgimento do Estrela da Amadora?

— O Estrela é um clube que está perto de Lisboa e beneficiou de ter os jogadores que saíam de Sporting ou Benfica e não queriam sair da zona de Lisboa: ou iam para o Belenenses ou para o Estrela.

— E tem os seus adeptos.

— Sim, e tem os adeptos muito particulares. Somos muito aguerridos. Sou estrelista à morte. Por isso, uma das frases que eu gosto muito de dizer e daí a minha teimosia de ir da Amadora até à Juventus, ‘para quem veio da Amadora, não foi nada mau o meu trajeto’. E sim, é uma casa muito boa até para ver jogos. Eu aconselho a toda a gente, quem gosta de futebol ou mesmo quem não gosta, tem que ir ao Estádio do Estrela para sentir o ambiente. Porque na Reboleira consegue ver as movimentações de toda a gente, ver os jogadores a falarem entre eles, é espetacular. É um dos melhores sítios para ver futebol em Portugal. Nos grandes estádios, por vezes, perde-se tudo o que eles estão a fazer e ali não. Vê-se tudo. Até se vê, às vezes, coisas a mais (risos). Mas é giro, muito giro.

Eu aconselho a toda a gente, quem gosta de futebol ou mesmo quem não gosta, tem que ir ao Estádio do Estrela para sentir o ambiente. Porque na Reboleira consegue ver as movimentações de toda a gente, ver os jogadores a falarem entre eles, é espetacular