João Simões: «Fiquei pasmado, os meus colegas têm qualidade absurda»

Chegou à equipa principal na época passada e logo analisou o que esperava

João Simões integrou o plantel principal do Sporting em finais de 2024, ano em que conquistou o prémio Stromp relativo à categoria 'Academia' e não demorou muito a impor-se. O crescimento de quem ainda está a crescer faz-se passo a passo, sabendo que tem de dar tudo o que e se calhar um pouco mais para chegar ao sucesso.

— Qual  o companheiro que mais o impressionou pela positiva no plantel principal?

— Ahhh, há muitos. Como jogo no meio-campo, pessoalmente gosto muito do Morten [Hjulmand]. Além de capitão da referência no nosso clube é um jogador com muita qualidade. Depois há o Pote, o Trincão... Qualquer um que eu vá dizer que tem uma qualidade absurda. Eu fiquei muito pasmado com a qualidade e com a forma como eles jogam.

— Sofreu uma lesão grave na época passada. Como deu a volta à situação?

— Acho que no futebol as lesões são muito normais de acontecer.

— Mas era e é muito jovem e estava num plano ascensional e teve uma quebra…

— Sou agradecido por tudo o que me aconteceu, porque acho que são coisas que têm que acontecer e eu acho que é um processo e tive que passar por esse momento. Já olho para trás e digo: ainda bem que isso aconteceu porque houve aspetos que o que eu tinha que melhorar e tenho de melhorar e consegui crescer nesses aspetos. Tudo tem evoluído.

— Que aspetos tem de melhorar?

— Muita coisa.

— Mas os aspetos mais relevantes..

— São muitos, não consigo dizer. Há muita coisa que eu sinto que tenho que melhorar tanto como pessoa, com como atleta. E eu como disse, eu tento pegar num bocado de cada um que está aqui e é mais experiente, mais velho que eu, que já chegaram a um nível que eu sempre ambicionei chegar e que tem que pegar em cada um e tentar melhorar.

— Muita gente ainda não percebeu: canhoto, destro ou ambidestro?

— Sou esquerdino, o meu pé direito é um bocadinho fraco, muito fraco…Essa é uma das coisas que tenho de melhorar, o pé direito, por exemplo.

— Seis, oito ou dez, onde é se sente melhor?

— Sinceramente, eu quero é jogar seja a seis a oito ou a dez. Eu quero é ajudar a equipa. Ir lá para dentro e jogar.

— Na época passada jogavam em 3x4x3, agora atuam em 4x2x3x1. Em que sistema se sente mais à-vontade?

— O  mister Rui Borges utiliza os dois. Agora tem recorrido mais ao 4x2x3x1, mas em qualquer dos sistemas sinto-me muito bem porque o mister, depois, dá-nos opções,  dá-nos formas de conseguir, dependendo do jogo, utilizar o sistema que o mister quer.

— Como vai esse jogo de cabeça?

— É a melhorar também,  é  para melhorar [sorrisos].

— Nos treinos insiste nestes aspetos. Ou seja, fazer mais passes com o pé direito, aparecer mais para cabecear na área, por exemplo?

— Uso o treino para tentar melhorar. Mas com os colegas que tenho, só estar a treinar com eles, já ajuda muito.

— Muitos analistas consideram que se sente mais à-vontade em jogos mais disputados, frente a equipas mais estendidas e tem mais dificuldades diante de conjuntos mais fechados, com um bloco mais baixo. É mesmo assim ou apenas uma sensação?

— Não sei,  talvez. Depende das características do jogo.

— Estou a dizer isto porque por exemplo em Nápoles e em Munique, campos muito complicados, fez grandes exibições…

— Eu ainda percebo muito pouco de futebol. Acho que daqui a cinco anos vou olhar para o futebol de uma forma completamente diferente. E também por experiência dos mais velhos me têm transmitido. Mas não sei… As decisões que o mister toma serão sempre as melhores para a equipa. Dependendo do jogo que for, seja a Champions, seja Taça ou Campeonato, eu vou tentar fazer o meu melhor e vou tentar ajudar a equipa.

— Muita gente diz que vai ser um jogo de elite mundial. Acha que vai conseguir chegar a esse patamar?

— Vamos ver. Se Deus quiser trabalhar muito e viver muito, dia a dia, com calma, com os pés assentes na terra e fazer o meu percurso.

— A 22 de Novembro de 2024 estreou-se pela equipa principal num jogo diante do Amarante. O que sentiu naquele momento?

— Uma alegria e um orgulho por ter conseguido chegar ao um dos meus maiores sonhos desde criança. Foi mesmo inexplicável. Fiquei mesmo muito feliz.

— Chegou a trabalhar com Ruben Amorim. Tem alguma memória especial do convívio com ele?

— O jogo com o Man. City e o último dele, com o SC Braga

— Estava na bancada?

— Não, estava no banco. Foram os últimos jogos do mister que ficaram marcados com aquela história.

— No final do jogo de Braga, em que ele se despediu, o discurso foi muito marcante...

— Como toda  gente viu, foi emocionante. O mister esteve cá cinco anos. Eu na altura era muito recente na equipa principal. Foram os anos que eu vi o meu clube a voltar a ganhar títulos com mais consistência, por isso acho que foi muito bom enquanto o mister esteve cá. Depois veio o mister João Pereira, agora está cá o mister Rui Borges e com a mesma ambição vamos conseguir chegar aos objetivos.

— É sportinguista de coração ? Já o era antes de vir para a Academia?

—Sou. Mesmo antes de vir para o clube já era do Sporting.

— Que imagens mais guarda da festa no Marquês de Pombal?

— Estava muito cansado. Fiquei lá um bocado, mas depois fui me sentar ali no cantinho porque eu estava com muito sono, estava cansado, tinha treinado de manhã porque eu estava a recuperar da lesão. Mas lembro-me daquela multidão toda e quando nós estamos a passar no Saldanha a chegar ao Marquês. Depois no Marquês fomos todos para o palco. Fiquei lá um pouco, mas depois fui me sentar. Fiquei a falar com o pessoal, mas foi muito bom. Foi ver a alegria do Sporting e dos sportinguistas, toda a gente, todos em Lisboa. E foi muito bom. Foi sem dúvida uma memória que vai ficar.

— Qual é o seu maior sonho?

— Um deles já concretizei que era jogar pela equipa principal do Sporting. E tenho muitos, mas acho que chegar à Seleção principal, jogar por Portugal, representar o nosso país.

— Acha que vai lá chegar brevemente?

— Se é brevemente ou não… Os que estão lá têm muita, muita qualidade. Estão muito, muito longe de mim no que diz respeito à qualidade. Eu tenho que trabalhar muito e aprender muito ainda, mas sem dúvida tenho esse sonho. Mas como disse, se é  brevemente, se é daqui a uns anos… vou trabalhar para isso.

— Não há aí uma esperançazinha de estar no Campeonato do Mundo?

— Sinceramente, não penso no daqui a um ano, daqui a uns meses Eu gosto de pensar um bocado, dia a dia, semana a semana. Depois se esse momento chegar, vamos ver e desfrutar.

— Custou-lhe muito quando veio para a Academia para se tornar residente?

— Não, porque foi sempre algo que eu sempre quis. Aliás, dizia muitas vezes aos meus pais que queria vir para a Academia porque era uma coisa que queria muito e concretizar o meu sonho que era estar onde estou hoje. Então acho que essas dificuldades ficaram um bocado abafadas pelo sonho, porque me levava todos os dias a querer trabalhar e querer chegar onde estou hoje.

João Simões, João Neves, Gonçalo Ramos. O que se passa no Algarve para estar a produzir tantos talentos?

— Há mais. O Mateus Fernandes, por exemplo…

— Sim, o Mateus Fernandes é de Olhão. O João Moutinho, que é mais velho…

— Felizmente, o Algarve tem muito bons jogadores. Eu não me considero ainda desse lote porque se em que não estou ainda no nível deles, mas um dia, se Deus quiser poderei lá chegar e acho que é muito bom. É bom ver também jogadores de alto nível que são na mesma zona que eu no que diz respeito à zona do país que é o Algarve. Dá um ênfase maior na terra ao pessoal que quer ir lá e é o reflexo também dos clubes do Algarve. Também tem muita qualidade, têm jogadores de muita qualidade.

 — Foi sempre capitão nas equipas de formação. Agora no conjunto principal tem esse objetivo?

— Um dia, quem sabe. Para já, a braçadeira está muito bem entregue aos capitães, nomeadamente ao Morten [Hjulmand], ao Gonçalo Inácio, ao Daniel [Bragança] está muito bem entregue. São pessoas e jogadores que representam muito o que é o Sporting É o nosso ADN. Por isso, um dia poderei lá chegar que um dia e ter esse objetivo de vir a ser. Se acontecer vai ser com naturalidade. Mas neste momento está muito bem entregue.

Se um dia acontecer chegar a capitão será com naturalidade. De momento, a braçadeira está muito bem entregue

— Como analisa a liderança de Hjulmand, por exemplo?

— Um exemplo, sem dúvida. Acho que, como já disse, é o nosso ADN, a raça, o querer e a forma como vai todos os lances, como entra em campo. E fora de campo a maneira como representa o que é ser um jogador do Sporting, acho que é um exemplo. E, como disse, a braçadeira está muito bem entregue porque representa muito bem o que me foi incutido na Academia enquanto era residente e enquanto cresci no Sporting, os valores dum atleta e dum jogador do Sporting.

— Isso torna-o quase intocável numa equipa, ou não?

— Não. cada jogador tem a sua maneira de ser, tem suas características. Somos todos iguais. Cada um tem a sua forma de ser, como já disse e somos todos iguais.

— Como é que conviveu com a lesão do seu enorme amigo Geovany Quenda?

— Fiquei triste, obviamente, é como um irmão para mim. Cresci muito com ele no Sporting… Mas ele vai conseguir ultrapassar facilmente. É um rapaz, um jovem com muita ambição, também, focado, que está a viver o sonho dele. É alguém que veio de baixo, que está a conseguir ter sucesso, graças a Deus. E ele vai conseguir sem dúvida melhorar e chegar ao nível que já demonstrou.

— Confia que ele vai ter sucesso no Chelsea?

— Espero que sim. Depois vai depender do trabalho dele, mas sei que ele vai trabalhar e, se Deus quiser, vai correr tudo bem.

— Ainda lhe falta outro grande amigo, o Gabriel Silva, chegar à equipa principal. Ele conseguirá alcançar esse patamar?

— Vamos ver um dia, um dia, se Deus quiser. Um dia vai conseguir chegar. É um miúdo com muita qualidade, uma qualidade técnica muito grande mesmo; faz muitos golos. Está a fazer o processo dele. Cada um tem o seu processo. Um dia pode vir a chegar e acredito que vai conseguir.

— Como é que olha para o atual sucesso da equipa B, que está nos primeiros lugares da Liga 2?

— Fico muito contente porque joguei com muitos deles noutros escalões, nas camadas mais jovens e isso só mostra a qualidade da nossa formação, da nossa Academia.