Gyokeres escreve a primeira grande página no Arsenal
O Emirates estava cheio. Era a primeira tarde de futebol em Emirates na época 2025/26 e, apesar de ser apenas a segunda jornada da Premier League, havia no ar uma energia especial. O regresso da equipa a casa. O Arsenal de Mikel Arteta vinha de vencer o Manchester United em Old Trafford, numa exibição pouco convincente e tinha, finalmente, a oportunidade de mostrar-se em casa. Do outro lado, um Leeds rejuvenescido pelo alemão Daniel Farke, também com três pontos no bolso após um triunfo diante do Everton.
Mas a grande narrativa estava escrita antes de a bola rolar. Viktor Gyokeres, o sueco que incendiou Alvalade durante duas épocas, que fez tremer estádios com 'arranques de touro' e que lutou até ao último minuto pela Bota de Ouro europeia. No Emirates, a dúvida pairava: teria espaço num Arsenal que vive de paciência, posse e combinações curtas?
Primeiros minutos: o jogo procurou Gyökeres
O Arsenal começou como sempre. Dono da bola, a circular em largura, obrigando o Leeds a encolher-se no seu meio-campo. Gyokeres, no centro do ataque, parecia inquieto. Movia-se, procurava linhas de passe, mas encontrava sempre Joe Rodon pela frente, um defesa central muito forte em duelos físicos, que não o deixava rodar nem ganhar metros, como tantas vezes fez ao serviço do Sporting e ao serviço da seleção sueca.
Aos 15 minutos, surgiu a primeira grande oportunidade. Um erro da defesa do Leeds deixou o sueco isolado, cara a cara com Lucas Perri, mas Gyokeres tentou desviar de primeira para a baliza, mas falhou redondamente. Lance difícil para o avançado de 27 anos.
O erro, paradoxalmente, deu vida ao Leeds. A partir do minuto 15, a equipa de Farke subiu linhas, começou a acreditar. Struijk, num canto bem batido, ganhou nas alturas e obrigou Raya a voar para evitar o empate. Daniel James, elétrico na ala direita, aproveitava o espaço para desequilibrar e mostrava porque é ainda um dos extremos mais imprevisíveis do campeonato.
Os cantos do Arsenal são 'magia negra'
Mikel Arteta, no banco, pedia calma. E foi a calma que trouxe o golo. Aos 34 minutos, Declan Rice cobrou um canto com precisão milimétrica. 1-0 para o Arsenal, mais uma vez através da bola parada. Já são 32 golos de canto em duas épocas a juntar os dois jogos de 2025/2026.
O golo trouxe confiança, mas também uma má notícia. Odegaard caiu mal, ficou no chão, tentou continuar, mas acabou substituído pelo miúdo Ethan Nwaneri, apenas 18 anos. O Emirates aplaudiu de pé o capitão.
Ainda antes do intervalo, outro momento de magia. Timber, desta vez com os pés, descobriu Bukayo Saka no corredor direito. O internacional inglês, quase sem ângulo, disparou um míssil de pé direito. 2-0, e o jogo parecia encaminhado.
Gyokeres encontra-se com o Emirates
O regresso dos balneários trouxe a redenção que o sueco precisava. Aos 48 minutos, finalmente, espaço. Gyokeres recebeu a bola na esquerda, encarou o defesa, cortou para dentro e rematou cruzado, forte, seco, para o canto inferior. Um golo que parecia ter saído diretamente de Alvalade.
O Emirates explodiu. Gyokeres correu em direção aos adeptos e fez a famosa máscara. Era o golo que o apresentava oficialmente a Londres. O golo que mostrava porque o Arsenal investiu nele.
Com o jogo resolvido, Arteta lançou juventude. Max Downman, apenas 15 anos, entrou para se estrear na Premier League. Sem medo, procurou o remate de fora da área, tentou dribles, deu-se ao jogo com uma maturidade surpreendente. Num desses lances, foi travado em falta dentro da área. Penálti.
E aí, naturalmente, todos sabiam quem iria bater. Gyokeres, especialista na marca dos 11 metros, assumiu a responsabilidade aos 90+5’. O remate foi certeiro, frio, sem hipóteses para Lucas Perri. O segundo golo da conta pessoal, o quinto da equipa.
O apito final confirmou a vitória por 5-0. Três golos de bola parada, talento jovem a emergir, consistência defensiva e, acima de tudo, a estreia goleadora de Viktor Gyokeres. O avançado sueco não só marcou, como marcou à sua maneira. Com potência, verticalidade e instinto.
Muitos tinham previsto que o seu estilo chocaria com o Arsenal de posse. Mas, talvez, a questão não seja de incompatibilidade. Talvez seja de complementaridade. Gyokeres dá ao Arsenal uma dimensão que não tinha. A ameaça constante do espaço, a capacidade de castigar equipas que se atrevam a subir linhas.
O Emirates saiu satisfeito. O Arsenal soma seis pontos em duas jornadas, junta-se ao Tottenham na frente da tabela e olha para o futuro com ambição. Mas a história do dia não foi a vitória, nem sequer a goleada. Foi o grito de afirmação de um sueco que já incendiou Lisboa e que, ao que tudo indica, está pronto para incendiar Londres.