Fonseca, Conceição e Allegri: unidos pela falta de paciência com Rafael Leão
A frase foi captada pelas câmaras televisivas, durante o Juventus-Milan: «Rafa, torna.» «Volta, Rafa» era uma ordem de Massimiliano Allegri dirigida ao internacional português para recuperar a posição defensiva, mas representa simbolicamente um pedido já feito pelos antecessores e que caíram de certa forma em saco roto: para que Rafael Leão volte a ser o jogador decisivo, desequilibrador e constante que mostrou ser na época do scudetto em 2022/23, com Stefano Pioli, época em que foi também considerado o jogador do ano.
Desde a saída do agora treinador da Fiorentina, em 2019, a carreira do jogador formado no Sporting entrou em modo oscilação, combinando boas exibições com partidas inconsequentes, sem dar garantias de estabilidade aos treinadores. O primeiro técnico a bater de frente foi o compatriota Paulo Fonseca, que por várias vezes acusou Leão de falta de compromisso, o que lhe valeu muitos jogos no banco.
Fonseca aguentou apenas seis meses e meio no cargo e a chegada de Sérgio Conceição antevia uma mudança. «É um fenómeno, conheço-o há muito tempo. É um tipo descontraído, não é como eu. Pode ser o melhor do mundo porque tem tudo, mas ainda tem de perceber duas ou três coisas que tem de fazer em campo. Tem muito potencial e, se o colocar à disposição da equipa, vai tornar-se ainda mais forte», afirmou Conceição após a conquista da Supertaça, diante do Inter, para a qual o avançado foi decisivo.
Mas a lua de mel durou pouco. Depois de cinco jogos a titular, Leão voltou para o banco. O problema identificado (e com mão dura) por Fonseca levava o também português Conceição a perder alguma paciência para um jogador que «tem tudo», mas dá menos do que devia para a qualidade que possui, na ótica dos seus treinadores. Seis golos e seis assistências foram o pecúlio na era Sérgio Conceição, pouco para as expectativas criadas pelo agora técnico do Al Ittihad.
Do mais ou menos... outra vez
A chegada de Massimiliano Allegri ao clube (um regresso 11 anos depois) fez Rafael Leão voltar ao centro das atenções. Manteve a camisola 10 apesar de chegada de Modric e durante a pré-época foram muitas as notícias que davam o português como o eleito de Max para ser, de novo, a estrela da equipa. Isso percebia-se nos treinos através das conversas particulares que mantinha com o jogador, inclusive nas sessões presenciadas pelos repórteres, como que passando uma imagem também para o público. A boa energia era bidirecional. «Tudo mudou em relação ao ano passado», disse o português, em julho, apontando a «experiência» do novo técnico como uma arma importante para o Milan realizar «uma grande temporada».
O início foi prometedor. A 17 de agosto, um golo de cabeça (uma raridade) e boa exibição na vitória frente ao Bari, em casa, para a Taça de Itália. Atuando como avançado em 3x5x2 (abandonando a linha), dava continuidade aos bons indícios da pré-época. Mas nesse mesmo jogo sofre uma lesão no gémeo. Volta mais de um mês depois, saindo do banco, com o Nápoles (triunfo por 2-1) e mais recentemente no empate a zero em casa da Juventus, outra vez na condição de suplente utilizado e desta vez revelando uma displicência que fez estalar o verniz.
Segundo La Gazzetta dello Sport, no final do jogo, já em pleno balneário, Allegri repreendeu Rafael Leão à frente dos colegas, lançando-lhe um ultimato: ou aumenta os níveis de intensidade e comprometimento ou continuará atrás de Giménez e Nkunku na hierarquia dos avançados. Por outras palavras: aos 26 anos tem de mesmo de «voltar».