André Lacximicant tenta desarmar Zé Vitor, com Léo Santos a observar  - Foto: Rodrigo Antunes/LUSA
André Lacximicant tenta desarmar Zé Vitor, com Léo Santos a observar - Foto: Rodrigo Antunes/LUSA

Faltou aquele ventinho para dar um... empurrãozinho (crónica)

Um ponto para o Estoril e outro para o Nacional resultante de um jogo em que a definição das duas equipas no último terço deixou muito a desejar. Golos nasceram de lances

Autêntica tarde de verão na Amoreira (o jogo começou às 15h30), que levou quase três mil adeptos às bancadas, um relvado impecável, e pouca brisa, algo raro no Estádio António Coimbra da Mota, diga-se que tinha dado um jeitão para dar empurrãozinho a uma ou outra bola para o fundo das redes.

Os primeiros 45 minutos tiveram períodos de intensidade na disputa de bola, mas acabou por perder fulgor com muitas paragens — até o árbitro Miguel Fonseca teve de mudar de sistema de comunicação — e ambas as equipas com dificuldades na definição no último terço.

O Estoril teve sempre mais posse de bola, com os médios a terem papel preponderante na ajuda a atacar e, bloco, mas o Nacional, mais cínico, foi criando calafrios através de contra-ataque.

Contudo, foi na sequência de um pontapé de canto, eximiamente cobrado por Liziero, que os insulares chegaram à vantagem, numa recarga do central Zé Vitor com um pontapé sem dó nem piedade, com culpas para a defesa que apenas ficou a ver o desenrolar dos acontecimentos.

Reagiram bem os homens da casa, conseguiram um par de remates à baliza de Kaique, mas foram os visitantes a estar mais perto do segundo, com Paulinho Bóia ainda a fazer balançar as redes, mas o VAR não lhe deixou escapar posição irregular.

Ian Cathro foi o primeiro a mexer na equipa, mas os madeirenses continuavam mais atrevidos. Até que João Carvalho caiu na área num lance com José Gomes e o VAR voltou a ter intervenção, levando Miguel Fonseca a concordar com a chamada de atenção a apontou para a marca dos 11 metros: Begraoui, sereno, empatou.

O golo fez o Estoril crescer no jogo, é certo, mas nem sempre com as melhores decisões e, mais uma vez de bola parada, noutro pontapé de canto batido por Liziero, Léo Santos apareceu a rematar na passada, ao primeiro poste, e a entrar pela baliza dentro (ele, não a bola), levando depois as mãos à cabeça tal o falhanço.

A entrada de Peixinho, aos 71 minutos, foi um tónico para a equipa da casa, com o avançado de 21 anos a agitar as hostes. Aos 82' recuperou uma bola e rumou à área adversária, rematou, mas viu a bola ficar-se na muralha defensiva dos insulares, e já nos descontos, serviu Tiago Parente, em zona frontal, mas Kaique negou-lhe o golo com uma 'sapatada' de gabarito. Felix Bacher, também após canto, cabeceou com selo de golo, mas Kaique, mais uma vez agigantou-se entre os postes.

Um para cada equipa que, diga-se, pareceram contentar-se, não tanto como os adeptos do Estoril que, no final, voltaram a apupar Ian Cathro.

O melhor em campo: Begraoui (Estoril)
O avançado marroquino, de 24 anos, foi o mais ativo no ataque da equipa estorilista. Tem boa leitura de jogo e poder de antecipação. Logo aos 7 minutos pôs Kaique à prova, com um cabeceamento cheio de intenção, com o guardião a segurar o esférico. O camisola 14 procurou sempre o caminho da baliza, mas esteve algo desacompanhado, cabendo-lhe a marcação do penálti, ao que correspondeu com mestria. Colocou a bola na marca dos 11 metros, concentrou-se, respirou fundo e chutou para o lado direito. Kaique ainda adivinhou o lado, mas a bola ia muito puxada e não lhe conseguiu chegar. Valeum um ponto ao Estoril.
A figura: Kaique (Nacional)
Do alto do seu 1,93 m ganhou todos os lances nas alturas. Também pelo chão defendeu tudo o que foi à baliza, só não conseguiu travar o penálti, embora tenha acertado no lado para onde Begraoui atirou a bola (direito). O brasileiro, de 22 anos, claramente segurou o empate, principalmente naquele lance, aos 90+3', em que negou golo a Tiago Parente com uma estirada valorosa, afastando a bola com uma palmada.

As notas dos jogadores do Nacional:
Kaique (6), João Aurélio (5), Léo Santos (5), Vitor (6), José Gomes (4), Matheus Dias (5), Chiheb Labidi (4), Igor Liziero (6), Pablo Ruan (4), Jesús Ramírez (5), Paulinho Bóia (5), Filipe Soares (4), Witi (4), Lucas João (-) e Martim Watts (-).  

Reações dos treinadores

Ian Cathro (treinador do Estoril)

Sem sermos brilhantes, senti a equipa confortável no início do jogo, tivemos a bola e conseguimos estar no meio-campo deles. Talvez tenhamos falhado no último terço e criado poucas situações de perigo. Sofremos o golo e aí os jogadores demonstraram uma grande atitude. Já levaram com muita coisa esta época e podia ser fácil baixar e deixar a ansiedade crescer, mas tentar jogar na frustração não ajuda ninguém. Fizeram um bom trabalho e estivemos organizados. Na segunda parte, talvez com mais velocidade, conseguimos criar oportunidades suficientes para fazer um segundo golo e como não fizemos o jogo ficou 1-1. Não acredito muito em justiça de resultados, porque o discurso de quem perde é que foi uma derrota injusta e quem ganha é que foi uma vitória justa. Contestação? Não tenho nada a dizer aos adeptos.

Tiago Margarido (treinador do Nacional)

Sabíamos que íamos ter um jogo difícil pela frente, contra uma equipa recheada de talentos individuais e coletivos. Tivemos alguma dificuldade em entrar no jogo. O Estoril surpreendeu-nos ofensiva e defensivamente e tivemos de fazer constantes ajustes. Quando os fizemos, senti que tivemos algum ascendente e, de forma justa, marcámos, sendo que depois tivemos um golo anulado por centímetros. O golo do Estoril surge contra a corrente do jogo. Tivemos mais duas oportunidades para marcar e a haver um vencedor teria de ser o Nacional. Acho que foi um excelente jogo para quem assistiu. É importante para nós consolidarmos a nossa ideia e processo de jogo. Felizmente, isso tem sido acompanhado de pontos, sendo este o terceiro jogo seguido a pontuar, com a passagem na Taça pelo meio.