Lance entre Carlos Daniel e Teguia, com o jogador a Fafe a ser um dos que mais chegou à baliza dos cónegos
Lance entre Carlos Daniel e Teguia, com o jogador a Fafe a ser um dos que mais chegou à baliza dos cónegos - Foto: Hugo Delgado/ Lusa

Fafe-Moreirense: a sorte sorriu aos justiceiros audazes

Equipa da Liga 3 deixa cónegos primodivisionários pelo caminho e marca encontro com o Arouca, na 4.ª eliminatória da Taça de Portugal

É curta a distância entre Fafe e Moreira de Cónegos, cerca de 25 quilómetros, e foi também curta a diferença entre a equipa que compete na Liga 3 e a que joga no principal escalão português.

Fortis fortuna adiuvat, um dos adágios latinos mais famoso assenta que nem uma luva à prestação dos fafenses, que se apresentaram com um trio atacante que não é titular habitualmente - Tiago Veiga, Théo Fonseca e Carlos Daniel - numa opção tática de Mário Fonseca, treinador vitorioso desde que assumiu o comando técnico da equipa, com três vitórias e um empate.

O pontapé inicial, estudado por parte do Moreirense, a bater o esférico para a linha de fundo, mostrou que o Fafe tinha a lição bem estuda, com Leandro Teixeira a limpar o lance.

A intensidade dos da casa na saída de bola do Moreirense, mais o terreno pesado por conta da chuva que poucas tréguas deu, foi dando à equipa de Fafe alguns créditos perante um Moreirense que, sendo o favorito, teve muitas dificuldades em impor o seu jogo e, diga-se, foi poucochinho face ao que tem mostrado nos jogos da Liga.   

Vasco Botelho da Costa foi o primeiro a mexer no onze, retirando de campo o amarelado Benny, após duas entradas fora de tempo que lhe podiam ter valido expulsão, acautelando, assim, ficar em inferioridade numérica.  

Certo é que os primeiros 45 minutos foram pobres, com futebol de pouca qualidade, uma ocasião de golo para cada lado – aos 33 minutos num lance construído pela direita por Teguia, que lançou Lincon e este cruzou atrasado para a entrada de Benny, que, na passada, atirou muito por cima (podia ter feito bem melhor) e aos 40, Carlos Daniel concluiu uma jogada ofensiva bem desenhada levando a bola às malhas laterais -, muitas paragens para assistência a jogadores (João Vigário chocou com o seu guarda-redes, João Gonçalo, aos 27’, e teve de receber cuidados médicos por três vezes) e demasiadas faltas.

A segunda parte mantinha a toada, até às três alterações de uma assentada no Fafe. Com o avançado Ká Semedo, que, recorde-se, foi o melhor marcador da última edição da prova rainha, com cinco golos, a par de Gyokeres e Harder, a mexer com o ataque da equipa da casa.

Na primeira vez em que tocou na bola ganhou posição a Maracás e, sem pedir licença, almejou baliza à guarda de André Ferreira, gerando calafrios aos cónegos.

Até que surgiu o golo, aos 67 minutos, na cobrança de um livre direto, após falta de Mateja Stjepanovic, João Batista, nome de santo padroeiro, em posição frontal, de longa distância fez as redes balançarem (a bola ainda parece ter sofrido um leve desvio, que acabou por trair André Ferreira, mas foi um pontapé de categoria).

O golo foi um tónico de confiança e, diga-se, não mais o Moreirense se conseguiu impor (segue-se jogo com o FC Porto, para a Liga). Aliás, até foram os justiceiros que poderiam ter dilatado a vantagem, com um cabeceamento de  João Oliveira (79), a levar a bola a passar perto da baliza.

O Fafe é, assim, mais um tomba-gigantes nesta edição da Taça de Portugal e vai encontrar o Arouca na 4.ª eliminatória.

Declarações dos treinadores:

Mário Pereira: «Deveu-se muito ao acreditar»

«Não há nenhuma receita. Estes jogadores têm qualidade. Estávamos preparados para tudo. Sabíamos que o Moreirense ia apertar em termos ofensivos e de pressão, o que fez nos primeiros 20 minutos. Tivemos dificuldades em sair para o ataque. Na segunda parte, conseguimos mudar a mentalidade. Os jogadores têm de ter um pouco de orgulho e vontade de vencer. Temos dois caminhos a fazer ao voltar para casa: ou temos orgulho porque conseguimos a vitória ou temos orgulho pelo trabalho que fizemos nos 90 minutos. Focamo-nos muito no dia a dia, para formar um grupo forte, com vontade de vencer e muito compromisso.
Deveu-se muito ao acreditar. A meteorologia não ajudou a praticar um jogo muito agradável, mas acreditámos sempre que era possível. Com o passar do tempo, a nossa equipa foi crescendo no jogo. Conseguimos chegar à vantagem e gerir o jogo», foram as palavras de Mário Pereira após eliminar o Moreirense.

Vasco Botelho da Costa: «É um banho de humildade para todos nós»

«Foi um jogo muito equilibrado do princípio ao fim. Em nenhum momento conseguimos fazer a diferença. Foi um jogo disputado, decidido numa bola parada. Em nenhum momento deveríamos ter permitido que o jogo fosse equilibrado como foi, apesar de ser difícil jogar contra a organização defensiva do Fafe. Colocar a bola a rolar nestas condições [climatéricas] é difícil, mas isso não é desculpa. Ganhou a equipa mais competente. À medida que o jogo ia passando, parecia que mais confortáveis estávamos, à espera que a vantagem surgisse naturalmente. E o Fafe começou a acreditar mais. Se não tivermos a mentalidade certa, não vamos ter sucesso. Os jogadores estavam mais do que avisados. Tem a ver com a disponibilidade mental em função do que acontecia no jogo. Entrámos ligados, depois Acomodámo-nos um bocadinho à falsa ideia de que iríamos fazer um golo. Baixámos os índices de agressividade e de concentração. É um banho de humildade para todos nós, a começar pelo treinador», foram as declarações do técnico do Moreirense.

Notícia atualizada às 17h09.