Açorianos fizeram a festa no Algarve. Foto: Luís Forra/LUSA

Europa Santa e Clara na desilusão algarvia (crónica)

Açorianos conquistam o 5.º lugar com uma vitória no São Luís e relegaram os algarvios para a Liga 2. Apuramento europeu com estilo. Um jogo que espelhou a temporada dos dois emblemas

Um golo. Faltou um golo ao Farense para evitar a descida. Um golo a mais para o Santa Clara, que assim carimbou com estilo uma temporada de ouro. E, para o seu objetivo, nem precisava dele, bastava o empate para assegurar o 5.º lugar e o apuramento para a 2.ª pré-eliminatória da Liga Europa. Mas fê-lo com requinte. E no final houve festa açoriana e (muita) desilusão algarvia que não conseguiu aproveitar os deslizes do Aves Sad e do Estrela da Amadora. Os algarvios vão jogar na Liga 2 na próxima temporada.

Apesar da energia dos intervenientes em busca dos seus objetivos, até ao descanso só houve frisson e emoção nas bancadas no início, com os golos do Estoril e do Moreirense, diante do Estrela da Amadora e Aves Sad, respetivamente, e com os golos que surgiram na reta final.

Marcou primeiro o Santa Clara, por Gabriel Silva de livre direto, com a igualdade a surgir nos descontos, depois de Rui Costa ter desperdiçado quando estava em situação privilegiada para finalizar. O tiro saiu por cima, mas Cláudio Pereira foi alertado pelo VAR para uma irregularidade, com o árbitro a validar a mão de Gui Ramos na cara do avançado. Tozé Marreco, que já estava a caminho dos balneários, travou à entrada do túnel de acesso e viu Ângelo Neto atirar fora do alcance de Gabriel Batista – que adivinhou o lado – para empatar.

O golo de Ângelo Neto:

Melhor recomeço não poderia desejar o Santa Clara, que marcou na primeira investida que fez à baliza do Farense, por Serginho, que gozou de alguma liberdade para receber a bola de Wendel e com sorte no ressalto com Cláudio Falcão, finalizou só com Kaique pela frente. Um golo que afetou o Farense, que, por via dos resultados nos outros campos, sabia que estava a um golo (empate) de evitar a descida e jogar o play-off com o Vizela. Houve mais coração que cabeça e raras foram as oportunidades de visar com êxito a baliza açoriana.

O golo de Serginho:

Os minutos diminuíam, a ansiedade aumentava e os açorianos controlavam a seu bel-prazer a vantagem rumo à Europa. Sem correrem sobressaltos, e até tiveram as melhores oportunidades para adornar o marcador quando aproveitaram o adiantamento territorial do Farense com uma transição rápida conduzida por Matheusinho, que colocou Matheus Pereira só com Kaique pela frente, com o guardião a evitar o golo.

O resultado traduz o que os dois conjuntos fizeram ao longo da época, com o Farense a falhar nos momentos decisivos e o Santa Clara com um percurso certinho que o levou à melhor classificação de sempre na Liga.

A figura do Farense: Rui Costa (6)
O avançado não fez o gosto ao pé, mas foi sempre o mais perigoso dos algarvios. Esteve no lance da grande penalidade que deu origem ao golo do Farense, quando Gui Ramos tocou com mão na sua cara na área, impedindo que a finalização em boa posição saísse muito por cima. Na 2.ª parte as melhores tentativas da sua equipa foram suas (64’ e 70’)

As notas dos jogadores do Farense: Kaique (6), Pastor (6), Marco Moreno (5), Cláudio Falcão (5), Paulo Victor (6), Rony Lopes (5), Ângelo Neto (6), Samuel Justo (5), Rui Costa (6), Darío Poveda (5), Marco Matias (5), Filipe Soares (5), Yusupha Njie (5), Álex Bermejo (5), Tomané (-) e Raul Silva (-)

O melhor em campo: Gabriel Silva (7)
Esteve sempre ligado à corrente e com uma energia inesgotável, desbravou caminho ao triunfo açoriano apontando o primeiro golo de livre direto, num um remate rasteiro com a bola a entrar junto ao poste esquerdo da baliza. Antes (12’) já tinha tentado num tiro que passou a rasar os ferros e num remate cruzado quase sem ângulo que passou perto do poste.
Gabriel Silva, o melhor em campo no Farense-Santa Clara. Foto: Luís Forra/LUSA

As notas dos jogadores do Santa Clara: Gabriel Batista (6), Gui Ramos (5), Adriano (6), Frederico Venâncio (6), Lucas Soares (6), Pedro Ferreira (6), Serginho (7), Matheus Pereira (6), Vinícius (6), Wendel (6), Gabriel Silva (7), Matheusinho (5), Daniel (5), João Costa (-) e Edney (-)

O que disseram os treinadores:

Tozé Marreco, treinador do Farense:

«O jogo foi um bocadinho o reflexo do que se passou na época. Uma entrada na segunda parte em que nada fazia prever [o golo do Santa Clara], depois de termos chegado ao empate num momento importante. Frente a um adversário forte nas transições, que tentou ao máximo explorar, faltou aquilo que faltou em muitos momentos da época, que foi golo. E na parte final, discernimento. Treinámos na Academia a possibilidade de ter ir atrás do resultado, de ter de atacar com mais gente e chegar lá com cruzamentos, mas não tivemos o discernimento que devíamos ter tido. O empate era o mais justo, tendo em conta o que se passou.»

«Disse aos jogadores que cada um deve assumir as suas responsabilidades, as suas falhas. Fizemos estes pontos, que não foram suficientes. Tendo em conta como encontrámos isto à sétima jornada, foi duríssimo. Lutámos até ao fim, mas não foi possível. Mas não corrigi outros sem antes pensar onde podia ter melhorado. Assumi as responsabilidades que eram minhas. Encontrámos uma equipa sem ideias, com oito lesionados, e trabalhámos sobre isso, sobre os zero pontos, tentando dar uma ideia de jogo e tornar o plantel mais forte a partir de janeiro, com os reforços.»

«Tenho uma coisa certa: a consciência tranquila de que tudo fizemos. A justiça do futebol podia ter-nos dado mais pontos e merecíamos mais, por aquilo que jogámos e que fizemos. Mas tivemos uma debilidade, que foi não marcar golos, o que nos prejudicou muito. Futuro? Como deve imaginar, temos todos de respirar fundo, cada um fazer a sua análise, fazer o luto à sua forma. Vão ser dias duríssimos, mas que hão de passar. E custa-me ainda mais por ser um clube com esta história, com esta abrangência, merecia mais pontos do que teve e merecia ficar na Liga. Mas o futebol é assim, é a única profissão em que podemos fazer 90% das coisas bem e não ganhar.»

Vasco Matos, treinador do Santa Clara:

«É dia muito marcante para todos nós. Vai ficar na história. Trabalhámos muito, há muita gente aqui dentro cujo trabalho não é visível, mas não nos deixam faltar nada. Não consigo com palavras descrever o que sinto. Extremamente emocionado e muito feliz por aquilo que todos conquistámos hoje aqui em Faro.»

«Isto vem desde o ano passado, quando chegámos aqui, juntamente com a administração. Uma palavra para a administração, para o Klauss [Câmara, presidente da SAD], que partilha todos os dias connosco.»

«Segredo? É fruto da nossa união, da nossa capacidade de trabalho, da nossa resiliência. Mesmo com todas as dificuldades que temos. Disse isso aos jogadores ao intervalo, que não se esquecessem de como treinamos, que isto ia dar para nós. Eles acreditaram. Somos uma família. O segredo é esse.»

«Continuidade nos Açores? Neste momento, sinceramente, não faz muito sentido falar sobre isto. É um momento histórico para desfrutar, porque o mérito foi de muita gente. O rosto mais visível é sempre o treinador, mas estou muito feliz nos Açores. Tenho contrato, acabei de renovar. Deixa-me muito orgulhoso levar o Santa Clara e os Açores à Europa. Quero agradecer aos açorianos, aos nossos adeptos, incansáveis no apoio à equipa. Estamos muito contentes, os jogadores estão de parabéns, todos estão de parabéns e agora é desfrutar deste momento histórico.»