Paulo Fonseca, treinador do Lyon
Paulo Fonseca, treinador do Lyon

Depois da tempestade, Paulo Fonseca tem o Lyon em estado de graça

Arranque fulgurante de temporada depois de meses muito conturbados

Aqui, no Lyon, não há estrelas. A estrela é a equipa e todos os jogadores entendem a importância de trabalhar em conjunto

A frase é de Paulo Fonseca, na antevisão ao jogo da Liga Europa com o Salzburgo, e poderá muito bem explicar o início arrasador de temporada do conjunto francês. Na noite de quinta-feira, o Lyon impôs-se aos austríacos (2-0), com o ex-Casa Pia Ruben Kluivert a marcar um dois golos, e deu seguimento a um arranque de 2025/26 quase irrepreensível. Em oito jogos, a equipa de Paulo Fonseca venceu sete - a única foi exceção foi a derrota em casa do Rennes, 1-3 - e, ainda mais impressionante do que isso, será a consistência defensiva tremenda que a equipa tem demonstrado, já que esse encontro com o Rennes foi mesmo o único em que sofreu golos.

A festa do Lyon frente ao Salzburgo - Foto: IMAGO

«O nosso estado psicológico é excecional. Todos correm, todos defendem. A equipa ficou mais fraca em alguns setores, mas ficou mais forte noutros e ainda temos espaço para melhorar», analisou, ao Canal Plus, Corentin Tolisso, a figura mais emblemática da equipa após as recentes saídas de Cherki ou Lacazette.

E a campanha do Lyon é ainda mais notável se olharmos para aquilo que foram os últimos meses do clube e também de Paulo Fonseca. No início de março, um encosto de cabeça ao árbitro Benoît Millot, nos instantes finais do encontro com o Brest, valeu-lhe um pesadíssimo castigo que ainda agora cumpre e o impedirá, na Ligue 1, de se sentar no banco de suplentes até 30 de novembro. O castigo não foi extensível à Liga Europa e, por isso, o técnico luso já pôde estar no 'seu' local nos jogos com Utrecht e Salzburgo, se bem que, para o campeonato, Fonseca já está autorizado a ter acesso ao balneário da equipa no intervalo e final dos jogos.

Se o último meio ano foi uma montanha-russa para o treinador, o Lyon pode dizer o mesmo. Em junho, o histórico clube francês foi condenado pelo DNCG, órgão de controlo financeiro da Ligue 1, à descida de divisão por tropelias financeiras cometidas pelo empresário norte-americano John Textor, antigo dono do clube, acumulando dívidas de 175 milhões de euros. Para se tentar salvar, Textor desfez-se das grandes estrelas da equipa e vendeu, por exemplo, Rayan Cherki para o Manchester City, por €36,5 milhões, Benrahma para o NEOM (Arábia Saudita) por 12 e também abriu mão dos salários mais pesados do plantel, casos de Alexandre Lacazette ou do guarda-redes português Anthony Lopes. Não foi suficiente.

Valeu ao Lyon, campeão sete vezes seguidas entre 2002 e 2008, uma espécie de milagreira chamada Michele Kang. A empresária e filantropa norte-americana, nascida na Coreia do Sul, dona das Washington Spirit, nem sequer era um novo nome no universo do clube, já que era a proprietária da equipa feminina e foi ela quem assumiu a presidência após a demissão de Textor.

Em poucos dias, operou uma verdadeira revolução e a DNCG aceitou, depois de um encontro de mais de três horas com a nova presidente, o recurso, sendo sensível aos argumentos por Kang apresentados e à reestruturação financeira que tinha posto em marcha. No imediato, houve uma injeção de 100 milhões de euros, vital para saldar dívidas, e foram apresentadas garantias de outros €100 milhões para ara o cumprimento de obrigações durante a temporada 2025/26.

A descida à Ligue 2 foi, então, suspensa e Paulo Fonseca respirou de alívio.

Com tanto trabalho burocrático para impedir a queda de um histórico, o mercado de transferências ficou, naturalmente, para trás e o Lyon fez um curto investimento, gastando 'apenas' 37 milhões de euros em contratações. Muito pouco, sobretudo quando olhamos para os 111 milhões de euros investidos pelo Estrasburgo, os 103 milhões gastos pelo PSG ou os 97 investidos pelo Marselha. O gasto mais avultado num jogador foi de €10 milhões no médio-defensivo inglês Tyler Morton, junto do Liverpool, numa janela de transferências em que os les gones foram também buscar Afonso Moreira ao Sporting.

2025/26 ainda vai no adro, mas o arranque do Lyon é inspirador e deixará, certamente, Paulo Fonseca de sorriso na cara. Segue-se a receção ao Toulouse, no domingo (14h00).