Chico Chen: «Quando joguei contra o Benfica, eles apareciam de todos os lados!»
Pela equipa principal do Cova de Piedade, Chico Chen tem um jogo que jamais esquecerá. Foi contra o Benfica, para a Taça de Portugal, na época 2019/2020. Os encarnados, naturalmente, seguiram em frente, mas o resultado (0-4) aqui é o que menos interessa. Na memória ficaram os duelos com vários craques, como Pizzi, o adversário direto do lateral-esquerdo.
«Na verdade, apareciam de todos os lados! Surgiam sempre muitos [risos], mas, sim, era especialmente o Pizzi e depois acabava também por levar com o Tomás Tavares, que fazia a superioridade na linha. Nós estávamos a jogar com uma linha de cinco defesas, mas nunca os conseguimos travar», recorda.
Aterrei na China no pós-Covid e tive de ficar duas semanas fechado num quarto de hotel.
- Quando rumou à China, a opção inicial era o Chengdu Hongcheng, que na altura disputava a Superliga chinesa, mas acabou por ficar sem clube. Como tudo se desenrolou?
— Houve um conflito de interesses e não houve acordo. Psicologicamente foi um grande choque, foi como me tirarem o tapete debaixo dos pés. Foram dois meses de grande sacrifício longe da família, dos amigos… Lembro-me de que viajei, se não me engano, a 19 de dezembro. Ou seja, pouco antes do Natal e como cresci em Portugal tenho o costume de juntar a família e amigos nas épocas festivas. Era uma altura pós-Covid e, claro, lembro-me muito bem, até porque aterrei na China e tive de ficar duas semanas fechado num quarto de hotel.
— Um período que, certamente, deixou marcas?...
— Claro! Apenas pude partilhar aqueles momentos festivos por videochamada e tive de fazer diretas, dada a diferença do fuso horário. Apanhei o período de Natal e Ano Novo dentro de um quarto de hotel e isso foi um grande sacrifício. Obviamente, chorava algumas vezes, porque estava longe da família. A minha força sempre foi a motivação e o querer algo melhor para a minha vida, financeiramente, como é óbvio, e depois de ter acontecido aquilo caiu-me tudo e, confesso, fiquei um bocado perdido.
— O que sucedeu depois?
— Tentei falar com o meu empresário, que era o investidor do Cova da Piedade, para me ajudar naquela situação e o que ele arranjou foi o Hebei Fortune, uma equipa da Superliga que era muito forte e hoje em dia já não existe, onde ele tinha contactos.
— Correu bem a experiência?
— Como estava na China, para não estar parado aceitei juntar-me ao plantel para poder treinar-me e manter a forma, até porque havia a possibilidade de, caso a equipa técnica e a Direção gostassem de mim, assinar contrato após seis meses com a equipa. Consegui deixar uma boa imagem, a Direção gostou de mim, adaptei-me cinco estrelas, porque, apesar de tudo, estavam lá jogadores brasileiros e podia falar português. Estava mais identificado, até porque tinha tradutor, e dei-me bem com todos os jogadores do plantel.
Mas quando fomos falar de acordos contratuais foi mais complicado. Estávamos na era pós-Covid, repito, e a situação financeira do mundo do futebol na China não era a melhor. Como estava sem ordenado, era como se estivesse à experiência e decidi abordar os responsáveis do clube, porque merecia ser recompensado pelo meu trabalho com um salário e eles disseram que não tinham dinheiro. Acho que até foi nesse mesmo ano que o clube acabou por declarar falência.
— Mais uma vez, viu-se obrigado a mudar de clube…
— Depois dessa situação fui para outra equipa, o Heilongjiang Ice City, da segunda Liga, e mais uma vez foi um sacrifício, mais um choque psicológico porque tive de aguentar muita porrada, digamos assim. Mais uma vez estava longe da família, dos amigos. Dei tudo, esforcei-me, impressionei os meus colegas, equipa técnica, Direção do clube… Inclusive, os jogadores da minha posição perguntavam-me o porquê de eu não ser convocado e porque não jogava.
— E não jogava porquê?
— Percebi, pouco depois, que a maior parte dos jogadores do onze inicial era agenciada pelo empresário que tinha entrado em conflito de interesses com o investidor da primeira equipa na qual estive.
— Apesar de todas as incidências, guarda certamente algumas boas memórias desse período?
— Sim, tenho algumas boas recordações. Destaco as amizades que fiz e, claro, aquele período valeu sobretudo pela experiência. Foram tempos difíceis, mas que ajudaram a crescer.