Chico Chen em duelo com Tomás Tavares no Cova da Piedade - Benfica, na temporada 2018/2019. Foto: A BOLA

Chico Chen: «Quando joguei contra o Benfica, eles apareciam de todos os lados!»

Pelos Caminhos do Futebol: terminado o percurso futebolístico, assente no Cova da Piedade, é treinador estagiário na formação do Sporting; recordação do jogo mais especial da carreira foi perante os encarnados, que defrontou pela Taça de Portugal

Pela equipa principal do Cova de Piedade, Chico Chen tem um jogo que jamais esquecerá. Foi contra o Benfica, para a Taça de Portugal, na época 2019/2020. Os encarnados, naturalmente, seguiram em frente, mas o resultado (0-4) aqui é o que menos interessa. Na memória ficaram os duelos com vários craques, como Pizzi, o adversário direto do lateral-esquerdo. 

«Na verdade, apareciam de todos os lados! Surgiam sempre muitos [risos], mas, sim, era especialmente o Pizzi e depois acabava também por levar com o Tomás Tavares, que fazia a superioridade na linha. Nós estávamos a jogar com uma linha de cinco defesas, mas nunca os conseguimos travar», recorda.

Aterrei na China no pós-Covid e tive de ficar duas semanas fechado num quarto de hotel.

- Quando rumou à China, a opção inicial era o Chengdu Hongcheng, que na altura disputava a Superliga chinesa, mas acabou por ficar sem clube. Como tudo se desenrolou?

— Houve um conflito de interesses e não houve acordo. Psicologicamente foi um grande choque, foi como me tirarem o tapete debaixo dos pés. Foram dois meses de grande sacrifício longe da família, dos amigos… Lembro-me de que viajei, se não me engano, a 19 de dezembro. Ou seja, pouco antes do Natal e como cresci em Portugal tenho o costume de juntar a família e amigos nas épocas festivas. Era uma altura pós-Covid e, claro, lembro-me muito bem, até porque aterrei na China e tive de ficar duas semanas fechado num quarto de hotel.

 — Um período que, certamente, deixou marcas?...

— Claro! Apenas pude partilhar aqueles momentos festivos por videochamada e tive de fazer diretas, dada a diferença do fuso horário. Apanhei o período de Natal e Ano Novo dentro de um quarto de hotel e isso foi um grande sacrifício. Obviamente, chorava algumas vezes, porque estava longe da família. A minha força sempre foi a motivação e o querer algo melhor para a minha vida, financeiramente, como é óbvio, e depois de ter acontecido aquilo caiu-me tudo e, confesso, fiquei um bocado perdido.

— O que sucedeu depois?

— Tentei falar com o meu empresário, que era o investidor do Cova da Piedade, para me ajudar naquela situação e o que ele arranjou foi o Hebei Fortune, uma equipa da Superliga que era muito forte e hoje em dia já não existe, onde ele tinha contactos.

 — Correu bem a experiência?

— Como estava na China, para não estar parado aceitei juntar-me ao plantel para poder treinar-me e manter a forma, até porque havia a possibilidade de, caso a equipa técnica e a Direção gostassem de mim, assinar contrato após seis meses com a equipa. Consegui deixar uma boa imagem, a Direção gostou de mim, adaptei-me cinco estrelas, porque, apesar de tudo, estavam lá jogadores brasileiros e podia falar português. Estava mais identificado, até porque tinha tradutor, e dei-me bem com todos os jogadores do plantel.

Chico Chen, pressionado por Ricardo Mangas... agora leão. Foto: D.R.

Mas quando fomos falar de acordos contratuais foi mais complicado. Estávamos na era pós-Covid, repito, e a situação financeira do mundo do futebol na China não era a melhor. Como estava sem ordenado, era como se estivesse à experiência e decidi abordar os responsáveis do clube, porque merecia ser recompensado pelo meu trabalho com um salário e eles disseram que não tinham dinheiro. Acho que até foi nesse mesmo ano que o clube acabou por declarar falência.

— Mais uma vez, viu-se obrigado a mudar de clube…

— Depois dessa situação fui para outra equipa, o Heilongjiang Ice City, da segunda Liga, e mais uma vez foi um sacrifício, mais um choque psicológico porque tive de aguentar muita porrada, digamos assim. Mais uma vez estava longe da família, dos amigos. Dei tudo, esforcei-me, impressionei os meus colegas, equipa técnica, Direção do clube… Inclusive, os jogadores da minha posição perguntavam-me o porquê de eu não ser convocado e porque não jogava.

 
— E não jogava porquê?

— Percebi, pouco depois, que a maior parte dos jogadores do onze inicial era agenciada pelo empresário que tinha entrado em conflito de interesses com o investidor da primeira equipa na qual estive.

 — Apesar de todas as incidências, guarda certamente algumas boas memórias desse período?

— Sim, tenho algumas boas recordações. Destaco as amizades que fiz e, claro, aquele período valeu sobretudo pela experiência. Foram tempos difíceis, mas que ajudaram a crescer.