Bola de Ouro? Vitinha, Nuno Mendes e… Pedri mereciam mais
Vitinha terminou em terceiro. O vencedor, Dembélé, teve uma temporada enorme, marcou golos, fez a diferença em jogos grandes e conquistou troféus, critérios que pesam muito num prémio individual. Mas Vitinha também protagonizou uma época extraordinária. Conquistou os mesmos troféus que Dembélé a nível de clubes e superou-o no palmarés ao vencer a Liga das Nações por Portugal. Ainda assim, foi subvalorizado. Foi peça central do meio-campo do PSG num sistema que ganhou praticamente tudo: Ligue 1, taças nacionais e Champions. A sua qualidade técnica, consistência, capacidade de controlar o ritmo de jogo, de esconder arestas defensivas e de manter um nível elevado mesmo nos encontros mais exigentes são inegáveis. Se os critérios para a Bola de Ouro incluem influência no clube, sucesso coletivo, consistência e desempenho em momentos decisivos, Vitinha tinha argumentos sólidos para disputar o primeiro lugar de forma mais próxima.
E aqui surge a pergunta inevitável: o que precisava Vitinha de fazer mais para vencer? Não bastou ser campeão francês, vencedor da Champions, peça-chave do PSG e ainda campeão da Liga das Nações com Portugal? Olhando para 2024, Rodri conquistou o prémio com menos títulos e impacto. Por que, então, o mesmo não foi suficiente para Vitinha?
Lamine Yamal, segundo classificado, é sem dúvida um talento excecional, destinado a vencer a Bola de Ouro num futuro próximo. Mas, para já, em 2024-25, o que ganhou além da Liga Espanhola? Na Champions, foi o PSG de Vitinha e Nuno Mendes que festejou. E na Liga das Nações, Portugal derrotou a Espanha de Yamal na final, com exibição superior e títulos que validam o desempenho. Como justificar, então, que Yamal esteja à frente de Vitinha?
O mesmo se aplica à classificação de Nuno Mendes. Décimo lugar é honroso, mas injusto. Achraf Hakimi ficou em sexto; o que fez ele a mais do que Nuno Mendes para justificar quatro lugares de diferença? A influência no PSG foi praticamente idêntica, partilharam títulos lado a lado, fizeram assistências, marcaram golos, foram decisivos mas o português ainda acrescentou um troféu de seleções, a Liga das Nações. E não foi apenas mais um título: venceu sendo eleito Homem do Jogo após uma exibição de luxo. Na minha opinião, a diferença de quatro posições deveria existir, mas a favor de Nuno Mendes.
É aqui que a Bola de Ouro revela as suas fragilidades. Falta clareza nos critérios. Num ano privilegia-se quem ganhou a Champions; noutro, a narrativa do jovem prodígio. Às vezes basta um Mundial ou um Europeu; noutras, números ofensivos ditam tudo. Mas onde fica o reconhecimento da regularidade, da influência tática, da capacidade de carregar equipas sem marcar golos? Onde está a valorização de laterais completos, modernos e decisivos?
Respeito Dembélé, merece o troféu. Mas Vitinha e Nuno Mendes foram subestimados. Talvez não fosse realista esperar que um médio vencesse dois anos consecutivos, mas Vitinha mostrou que tinha tudo para conseguir. O décimo lugar de Mendes é redutor e injusto. E, acima de tudo, deixa a sensação de que a Bola de Ouro continua condicionada por narrativas, popularidade e estatísticas ofensivas, mais do que por uma avaliação real do impacto e da qualidade de cada jogador. Enquanto assim for, continuarão a surgir dúvidas e críticas legítimas.
Cristiano Ronaldo e Iker Casillas, já há algum tempo atrás, juntaram-se ao coro de críticas. Ambos sublinharam que o prémio se transformou mais numa questão de marketing e narrativas mediáticas do que numa avaliação justa do rendimento em campo. Ronaldo destacou que a regularidade e a constância de alto nível muitas vezes ficam em segundo plano perante momentos pontuais ou campanhas de popularidade, enquanto Casillas reforçou que o galardão perdeu parte da sua credibilidade, por não premiar necessariamente o jogador mais decisivo ou completo da época.
Vitinha no pódio, Hakimi em sexto e Nuno Mendes apenas em décimo, separados por quatro posições inexplicáveis, já seriam motivos suficientes para questionar a coerência da Bola de Ouro 2025. Mas a lista vai ainda mais longe no absurdo: a ausência de Pedri do top 10 é surreal, uma injustiça atroz para um dos médios mais completos e influentes do futebol mundial. Espera-se critério, rigor e reconhecimento dos verdadeiros protagonistas, não classificações que parecem obedecer mais a narrativas externas do que ao mérito desportivo.
Apesar destas incongruências, mantenho a esperança de que o The Best FIFA Football Awards 2025 venha, ainda que parcialmente, corrigir esta injustiça. É uma oportunidade de valorizar jogadores como Pedri, cuja influência, consistência e impacto vão muito além de golos e estatísticas visíveis, oferecendo equilíbrio e justiça num cenário que, este ano, parece ter perdido critérios claros.
O The Best envolve votos de quatro grupos, capitães de seleções, treinadores de seleções, jornalistas especializados e fãs, cada um representando 25% do total da votação. Cada votante escolhe três jogadores, atribuindo pontos decrescentes. Este sistema permite uma avaliação mais equilibrada, combinando opinião profissional e popular, evitando decisões dominadas por narrativas mediáticas ou marketing.
Em contraste, a Bola de Ouro, organizada pela France Football, é decidida exclusivamente por jornalistas, sem incluir treinadores ou capitães. O processo não divulga detalhadamente critérios nem pesos de voto, deixando espaço para subjetividade e influência de campanhas mediáticas, popularidade ou performances em grandes palcos. Essa diferença explica, em parte, as controvérsias sobre a coerência e justiça da Bola de Ouro, enquanto o The Best tende a refletir melhor o impacto real dos jogadores dentro de campo.
«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach» e «Organizar para Ganhar» e ainda speaker.