Bojinov retrata-se 14 anos depois: «Errar é humano. Peço desculpa ao Sporting»
TURIM — Chegou com rótulo de craque fruto de passagens marcantes em clubes como o Man. City, Juventus ou Parma. Custou, em 2011, €2,6 milhões, assinou até 2016 e foi blindado com cláusula, então astronómica, de €25M. Expetativas que foram por água abaixo a 19 de janeiro de 2012, após um jogo para a Taça da Liga, em Alvalade, com o Moreirense. Jeffren ganhou um penálti que poderia dar a vitória aos leões nos descontos, o chileno Matias Fernandez preparava-se para marcar, mas o búlgaro não deixou e empurrou mesmo o colega, assumindo ele a marcação do penálti que acabaria por falhar. O avançado, já pouco amado em Alvalade, saiu como mau da fita e com um processo disciplinar. Hoje, em A BOLA, o ex-Sporting e Juventus, retratou-se e falou dos seus dois clubes especiais.
— Deixou o Sporting há quase 14 Anos. Que memórias guarda do curto tempo que conseguiu passar em Alvalade?
— Portugal é um país único para mim. Foi uma honra, um prazer, um privilégio e um respeito conhecer as tradições, as pessoas, mentalidade, a gastronomia e, sobretudo, a cultura. Lisboa é uma cidade incrível, o clima é maravilhoso, solarengo. Só tenho de agradecer pelos momentos maravilhosos em Portugal e, em especial, pelo incrível povo de Lisboa.
Sinceramente, quando cheguei a Lisboa, ao campeonato português, pensei que seria muito mais fácil, mas infelizmente não foi. Subestimei a situação e não a encarei com respeito e dignidade. Foi realmente difícil. Há muitos jogadores fortes em Portugal
— Somou apenas 16 jogos mas a passagem ficou marcada por um incidente que haveria de ditar a saída quando impediu Matías Fernández de bater um penálti. E depois falhou originando um processo disciplinar...
— Olhe... só posso agradecer ao Sporting por tudo. Foi uma honra jogar numa das equipas mais mediáticas de Portugal, com adeptos fantásticos. Depois só posso dizer uma coisa: somos humanos. Todos cometemos erros. O importante é compreendê-los e reconhecê-los. Se ofendi alguém, especialmente os adeptos, agora é o momento de pedir desculpa pela situação e pelo incidente. Peço desculpa. O Sporting é um grande clube, os adeptos são incríveis. Ao clube e adeptos desejo tudo de bom, com o meu coração e alma.
— Antes de chegar a Portugal, em 2011, trazia uma carreira sólida em Itália com passagens pelo Lecce, Fiorentina e Juventus. Sentiu dificuldades de adaptação?
— Joguei naquele que, na minha opinião, a Liga mais forte na sua vertente tática e física, o italiano. A jogar com jogadores enormes em clubes como a Juventus, Fiotentina, Lecce, mas também Manchester City e Parma. Mas, sinceramente, quando cheguei a Lisboa, ao campeonato português, pensei que seria muito mais fácil, mas infelizmente não foi. O futebol em Portugal é muito dinâmico, rápido, muito técnico, e foi difícil adaptar-me. Sinceramente subestimei a situação e não a encarei com respeito e dignidade. Foi realmente difícil. Há muitos jogadores fortes em Portugal. Hoje penso que foi uma honra jogar no Sporting pelos adeptos que tem. E inclino-me diante deles.
— Sporting e Juventus são clubes obrigados a ganhar todos os jogos. Sentiu essa pressão?
— Os adeptos obrigam-te a isso. A mentalidade vencedora está sempre presente. Só importam a vitória e os três pontos, nada mais. Obrigam-te a estar sempre no topo, ser campeão, de sermos vencedores em todos os momentos. É a história destes clubes e é por essa razão que adoro este jogo.
Sou uma pessoa com uma personalidade forte, dentro e fora do futebol. Sou temperamental e tenho um físico imponente. E o meu caráter desempenhou um papel fundamental na minha carreira futebolística
— Jogou em muitos clubes ao longo da sua carreira... e em quase todos foi marcado pela sua personalidade forte. Acha foi algo que o prejudicou neste percurso?
— Primeiro ponto: tenho orgulho em mim. Sou uma pessoa com uma personalidade forte, dentro e fora do futebol. Sou temperamental e tenho um físico imponente. E o meu caráter desempenhou um papel fundamental na minha carreira futebolística. Claro que, para o bem e para o mal, eu era o bad boy, mas era uma boa pessoa e tinha um coração enorme.
— Retirou-se em 2022/2023. Quais os planos para o futuro?
— Bem... honestamente estou a aguardar o desafio certo. Adoro este jogo, seja no papel de diretor, treinador, enfim, veremos... O que sei é que vou ficar ligado ao futebol daqui para a frente.
SABIA QUE BOJINOV...
Entrou na história em Itália com 15 anos
Bojinov cumpriu grande parte da sua formação em Itália, ao serviço do Lecce, clube onde se estreou em 2001/2002. O avançado búlgaro, de resto, no longuinquo dia 22 de janeiro de 2002, ainda com 15 anos, tornou-se o jogador estrangeiro mais jovem de sempre a disputar um jogo na Serie A, começando, de pronto, a destacar-se como uma das grandes promessas do futebol europeu.
Carreira longa com 19 clubes e 9 países
A curta passagem pelo Sporting, em 2011/2012, foi apenas uma das muitas etapas fugazes na longa carreira deste avançado que, contas feitas, vestiu 20 camisolas de clubes diferentes — Pietá (Malta), Lecce, Fiorentina, Juventus, Parma, Hellas Verona, Vicenza, Ternana e Pescara (Itália), Manchester City (Inglaterra), Meizou Hakka (China), Sporting (Portugal), Partizan (Sérvia), Lausanne (Suíça), Rijeka (Croácia), Botev Vratsa, Levski Sofia, Septemvri Sofia e Vitosha (Bulgária). Experiências cumpridas em nove países diferentes.
Foi em Portugal que ganhou afirmação
Entre várias polémicas à mistura, Bojinov nunca se afirmou ao serviço da seleção búlgara. O avançado soma apenas 1 internacionalização alcançada no Euro-2004 em... Portugal, numa partida contra a Itália (1-2). Após essa prova, porém, foi contratado pela Fiorentina ao Lecce por €14 milhões.
Lesões e... abandono do posto de trabalho
Bojinov, após uma época de bom nível no Parma (por empréstimo do Man. City), foi contratado pelos leões em 2011 por €2,6 milhões. Com contrato longo e salário elevado, o episódio com o penálti falhado ao Moreirense ditou a saída antecipada que não foi pacífica. As tentativas de colocação dos leões falharam e só em 2013, o clube leonino rescindiu unilateralmente com Bojinov, alegando abandono do posto de trabalho, depois de este ter treinado no Slávia de Sófia sem autorização. Após esta etapa a carreira começou a entrar em declínio fruto, também, de várias lesões sofridas.