O mérito da eficácia
Afalta de eficácia é um tema ao qual se recorre com frequência para justificar os jogos que não se ganham. Representa também uma defesa para a validade do que as equipas produzem em campo, mesmo não sendo conseguido o golo que ganha os jogos. A sorte e o guarda redes adversário são normalmente valorizados, quando o golo essencial não aparece. Mas também, mesmo quando se ganha, ainda temos que convencer, não importando considerar as dificuldades várias que, por vezes, os clubes, como neste caso o Benfica, enfrentam.
O Benfica consegue manter o seu caminho vitorioso — exceção a um empate em ambiente adverso — e a sua baliza ainda a zero. Uma verdadeira proeza, considerando o curto descanso e tempo de trabalho disponível. Os adversários candidatos sucedem-se, mas ainda está por vir quem vai interromper a onda positiva.
O trajeto tem sido feito com extrema eficácia, personalidade e mérito. Dados os condicionalismos, era difícil imaginar melhor começo de época. As novas peças encaixam e evoluem, passado que vem sendo o cenário inicial de dificuldade preocupante. A equipa cumpriu, entretanto, a necessidade de ganhar ao Tondela, em jogo nacional entalado entre o complicado duelo europeu.
Esperava-se como seria a reação ao desgaste de Istambul e também a eventual gestão neste jogo, que a receção ao Fenerbahçe poderia justificar, se o Tondela estivesse de acordo. Na Luz o Benfica entrou bem, disposto a encaminhar a vitória quanto antes. O Tondela, disposto a competir, posicionava-se bem para defender, mas não deixando de tentar atacar, subindo os seus setores. Até que surgiu uma das atrações principais que este mercado nos trouxe. Dedic acelerou e desbloqueou aquilo que parecia poder arrastar-se. Ivanovic, que confirma as boas indicações anteriores, abria o marcador, confirmando empenho e valor. Lage surpreendeu em Nice com a titularidade surpresa do atacante croata.
Voltou a apostar em Ivanovic, numa arrojada opção, em Istambul, substituindo o amarelado Enzo. Com o jogo empatado fora na Liga dos Campeões poucos seriam os treinadores a fazê-lo. Acredito que o Benfica ainda pense em algo mais do mercado, relativamente à muito falada criatividade atacante.
Se não for esse o caso, o ataque poderá depender da dinâmica da nova dupla atacante, mas também da força e crescente entendimento do seu meio campo. De regresso à Luz, foi dia de oportunidade para Samuel Soares e também para um ansiado regresso de Araújo e para a estreia de Obrador, que alargam as opções até agora disponíveis.
Voltando ao presente, hoje é uma noite importante onde num só jogo, muito se joga. O acesso à Champions é sempre um grande objetivo. Qual será a opção de Lage para este complicado duelo? A utilização inicial de três médios ou a dupla atacante cuja influência cresce? Se a aposta for na dupla ofensiva, por certo Lage pedirá o controle do terceiro médio adversário a um dos avançados ou aos dois alternadamente. As duas opções serão aceitáveis, como sempre, desde que resultem.
Guarda-redes
Samuel Soares foi o guarda redes escolhido para o primeiro jogo de campeonato na Luz. A rotação de jogadores respondendo à densidade competitiva é um tema muito frequente e interessante.
Se olharmos para o desgaste físico a que um guarda redes está obrigado, os dados numéricos não impressionam, considerando-se que talvez não justifiquem o descanso a que os seus colegas de campo, por vezes, têm direito. Mas mentalmente falando as coisas mudam completamente.
O pobre do defensor da baliza sofre de solidão frequente e de pouca bola. A concentração, essa sim, deve ser total e dela depende, muitas vezes, o sucesso da sua prestação. O desgaste psicológico é evidente também em função da responsabilidade que é dada ao último obstáculo às pretensões ofensivas do adversário. A esta realidade junta-se a conveniência de ter um substituto preparado para responder quando necessário. Neste caso, as aparições de Samuel Soares, mesmo pontuais, têm mostrado alguém pronto para o cargo.
VAR beijado
O VAR tem sido frequentemente um tema de discussão, à escala mundial. Considerado um apoio útil para a complexa atividade arbitral, mas envolto em polémica frequente, que parece não acabar. Nesta realidade, multiplicaram-se os penaltis, quer por toques quase impercetíveis, que dão palco à arte dos supostamente derrubados, quer por toques de mão muitas vezes involuntários. Um exagero.
Discute-se a geometria das linhas do fora de jogo e duvida-se de quem as coloca. A verdade é que, esta nova fase, também trouxe momentos de dúvida, emoção e expectativa anteriormente inexistentes.
Agora conseguimos festejar a dobrar, o que é bom, mas também a celebração pode tornar-se frustração em poucos segundos. O recente erro de Trubin em Istambul que levou a bola da barra à baliza, teve isso tudo. O terror inicial, na ótica benfiquista, deu um forte suspiro de alívio pouco depois.
Serve esta descrição da realidade atual, para introduzir um recente e pitoresco episódio acontecido no CHAN, uma competição entre seleções africanas, exclusivamente para jogadores residentes nos próprios países. O Uganda eliminou a África do Sul, salvo pelo VAR, que anulou a marcação de um penálti que poderia dar a vitória ao adversário.
O festejo final foi bem original. Além da tradicional alegria e dança coletiva a caminho do balneário, a seleção ugandesa deslocou-se ao VAR, agradecendo com beijos no ecrã salvador, a generosidade do destino.