Adrien Silva: «Dei tudo e mais alguma coisa»

Após ter colocado um ponto final na carreira, aos 36 anos, Adrien Silva voltou à casa de partida: a Academia de Alcochete, onde chegou em 2002.

Assim que entrou na ala da formação constatou a sua presença. Na parede a inscrição «liderança como exemplo» destaca 12 capitães com ADN verde e branco e noutra os dez campeões europeus por Portugal formados no Sporting e descobertos por Aurélio Pereira. Há ainda uma placa com o seu nome, tendo sido o 14.º jogador da cantera leonina a estrear-se na equipa principal.

«Grande parte do meu caráter enquanto homem formou-se aqui. Além das viagens que fiz e das culturas que conheci e aprendi, acho que se não tivesse as bases da minha família e, depois, o seguimento na Academia, não teria sido a pessoa que sou hoje. [O Sporting] significa grande parte da minha educação e formação, porque aqui estamos muito tempo no campo, mas também fora, na Academia, com outros jovens e profissionais que estão sempre presentes para dar o máximo de apoio quando estamos longe dos pais e, no meu caso, também do irmão», realçou, em entrevista ao Jornal Sporting.

Adrien fez questão de deixar palavras de agradecimento ao malogrado Aurélio Pereira: «Nunca vou esquecer tudo o que fez, tanto por mim como pelas outras crianças, uns que chegaram a profissionais e outros não, mas em todos teve impacto. Tinha sempre uma palavra amiga e de conselho ou piadas para nos animar quando os momentos não eram tão bons.»

«Foi-me buscar a Arcos de Valdevez e, depois, quando me mudaram de posição, de seis para um pouco mais à frente, foi um momento difícil porque não me estavam a sair bem as coisas e o senhor Aurélio teve, como sempre, as palavras certas para me levantar e fazer seguir em frente», contou.

Das oito temporadas de leão ao peito, em que chegou a envergar a braçadeira de capitão, só tem coisas boas a dizer: «Dei tudo e mais alguma coisa. Não deixei nada por dar no dia a dia, quer dentro como fora da Academia. Cheguei até onde não podia mais e foi nisso que me foquei durante todos estes anos. A entrega não podia faltar.»

«Ser capitão é uma questão de caráter e algo natural. É um privilégio estar naquele quadro ao lado de grandes capitães do nosso clube ao longo dos anos. Deixar esse legado e que os meus filhos o possam ver é um troféu muito grande», realçou, emocionado.

Sobre o atual momento do Sporting, Adrien Silva não esconde a satisfação: «Depois de tantos anos a lutar, finalmente conseguimos voltar ao nosso lugar e encontrar a estabilidade, seja em termos de plantel como de estrutura. Este é o caminho e esperto que possam continuar a escrever história ao fazer o tri. Nunca deixei de ser adepto, mesmo tendo saído. Estive sempre atento e a torcer e, agora, um pouco mais relaxado nas bancadas [risos].

Adrien Silva comentou ainda como foi a decisão de colocar um ponto final da carreira: «Não existe preparação possível para a página que se vira. Quando não temos as rotinas enquanto profissionais sentimos que realmente acaba e há que seguir em frente. Não deixa de ser complicado, mas estou em paz com isso. Tomei a minha decisão, não por razões físicas, mas sim porque tinha uma prioridade: estar junto da minha família, num contexto que fosse positivo para eles. Quando não houve propostas nesses sentido, optei por não ir para outro país.»

Ao serviço da equipa principal do Sporting Adrien fez 243 jogos oficiais, nos quais marcou 39 golos, participando na conquista de duas Taça de Portugal e uma Supertaça. Enquanto jogador dos leões, foi emprestado a Maccabi Haifa (onde foi campeão de Israel) e Académica (onde venceu uma Taça de Portugal, precisamente contra o Sporting.

Em 2017 deixou o Sporting e rumou ao Leicester, seguindo-se Mónaco, Sampdória, Al Wahda dos Emirados Árabes Unidos, Rio Ave e Dubai United, onde encerrou a carreira.

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