Rui Borges em conferência de imprensa - Foto: Miguel Nunes
Rui Borges em conferência de imprensa - Foto: Miguel Nunes

A juventude, a azia e as «dores de cabeça»: tudo o que disse Rui Borges

Treinador do Sporting lançou o reencontro frente ao Alverca, desta vez para a Liga, depois de os leões terem goleado os ribatejanos na passada terça-feira, nos quartos de final da Taça da Liga. Falou do regresso à normalidade da juventude, da escolha para a posição de ponta de lança... e de azia

— O que espera do Alverca, num jogo que certamente terá uma história diferente

— Sim, é um jogo totalmente diferente, com jogadores diferentes, características individuais e dinâmicas diferentes. O Alverca fez cinco ou seis mudanças, incluindo guarda-redes diferente. Não digo que sejam melhores ou piores, mas são realidades diferentes. O campeonato tem uma motivação diferente e o foco é outro. Acredito que será um jogo com dificuldade maior, mas estou confiante que a equipa entrará com a mesma energia do último jogo.  

— Dada a proximidade do jogo da Liga dos Campeões, a equipa frente ao Alverca será mais próxima do onze base ou vai apostar em jogadores que deram resposta no último encontro?

— Onze base? Todos eles já foram titulares. Não sei o que será o onze base. O jogo da Taça da Liga foi gerido de forma diferente devido ao curto tempo de descanso. Amanhã, será estratégico escolher quem está mais preparado, mas frisar que a malta que tem entrado tem dado resposta fantástica e tem trazido energia. Dentro as escolhas, estou tranquilo com quem jogar amanhã. Vão haver mudanças. Um ou outro jogador mais desgastado não irá entrar de início, mas poderá ser importante no decorrer do jogo. 

— Tem dois pontas-de-lança com qualidade para titular. Como decide entre Luis Suárez e Ioannidis

— Tem sido mais o Suaréz, porque o Fotis [Ioannidis] chegou mais tarde, já entrou numa fase que já estávamos nos inícios das competições. Tem a sua adaptação àquilo que é a equipa, aquilo que tem sido os seus colegas. Tem crescido imenso, é alguém que uniu muito bem com o grupo, o grupo também reconhece muita qualidade nele, tanto nele como no Luis [Suárez]. Apenas e só o Luis tem dado resposta. O Fotis também naquilo que tem sido os jogos dele, nos minutos que têm sido, e é importante, está super ligado, está superfeliz no Sporting e eu vejo isso diariamente. E o Luis sabe que tem alguém ali também para jogar, por mais que tenha sido o jogador que tem tido mais oportunidades para jogar de início. Naquilo que é dor de cabeça, são jogadores diferentes. O Fotis dá-nos mais alguma profundidade que o Luís. O Luís dá-nos o jogo de apoio, também nos dá alguma profundidade e tem melhorado também nesse aspeto e é algo que vamos trabalhando e vamos pedindo. Mas são dois grandes jogadores e felizmente temos os dois do nosso lado. 

— Falou em pôr os jovens com os pés na terra. Houve alguma atenção para o Salvador após os dois golos da estreia, e como foi o regresso dele à academia?

— O regresso foi para a equipa B. É onde eles pertencem. Claro, estou a brincar, estou a ser um bocadinho irónico, mas treinou na equipa B. É um jogador que tem um potencial enorme e que terá um futuro brilhante. Está no crescimento dele, tem conseguido crescer naquilo que é o patamar dele na equipa B, se calhar não estava à espera de ser solução na equipa B e, de repente, já é um titular da equipa B e já está a jogar na equipa principal. Aconteceu tudo muito depressa, mas a mim frisa-me sentir que olho para ele e vejo-o muito equilibrado, muito focado. Agora é continuar a dar resposta naquilo que é o seu principal escalão, para poder ter mais oportunidades na equipa A. Naquilo que foi a oportunidade, agarrou-a, correspondeu e muito, que eu acredito que ele nem achava que ia jogar. Tal como disse ao Simões quando jogamos na Champions, disse-lhe a ele igual: 'Estás cagado?'. E ele disse que estava bem. É a maneira de os deixar mais tranquilos E de sentir como é que eles estão. Agora, têm que chegar ali e têm que continuar a dar resposta. Por experiência daquilo que me tem dito o mundo do futebol, temos de os chamar à terra e, tal como eu faço com o meu. É puxá-los um bocadinho, que é para eles sentirem que o chegar ao topo custa muito e têm que trabalhar imenso.

— Com a janela de janeiro a aproximar-se e possíveis convocações para a CAN, já houve preocupação com o mercado de inverno? Já se sentou à mesa com o presidente?

— Sentei-me à mesa para comer [risos]. É algo que não me passa pela cabeça e a melhor resposta para essa pergunta é o jogo de terça-feira. Os miúdos estão aí para ajudar e dar resposta e não é por acaso que o Sporting é, se não for a melhor, claramente, é dos os três melhores clubes do mundo naquilo que é a formação. E temos de ter essa capacidade de continuar, porque só assim é que os clubes em Portugal conseguem crescer no futuro. Nem sequer pensei no mercado de janeiro.

— Porque é que os jovens entram bem e a equipa não tem grandes diferenças? Existe uma estrutura que permite isso?

— O contexto também é favorável. É importante que os miúdos, quando jogam e quando têm oportunidades, estarem sustentados com jogadores maduros, que já estão aqui há algum tempo, que vão conseguir dar essa resposta em jogo e que vão ajudar a que os miúdos consigam dar essa resposta. Nós, apesar de tudo, tínhamos na equipa jogadores internacionais. O Quenda é um miúdo, mas é um miúdo maduro, tem quase 60 jogos na época passada com a equipa principal. Os miúdos estavam ali numa bolha, rodeados de jogadores com maturidade, com algum estatuto a nível nacional e internacional, que vão ajudar nesse crescimento. Aquilo que é a formação, é algo que já vem desde trás, não é só agora comigo. É uma formação que tem dado esses frutos. Claro que, de repente, não vão sair daqui dez Cristianos Ronaldos. Nem sempre vamos ter fornadas boas. Temos é que detetar aqueles jogadores que têm essa capacidade de estar num maior patamar e conseguir desenvolvê-los e prepará-los o mais rapidamente possível para aquilo que é a exigência da equipa principal. Também é bom a equipa B estar a competir num contexto de maior dificuldade, onde tem dado essa resposta também. Antigamente, passava-se dos juniores para os seniores e a diferença era abismal e se calhar 'morreram' muitos jogadores, no sentido desportivo. Depois, é os clubes terem a coragem de dar as oportunidades e eles corresponderem. Se não correspondessem, estavam a chamar todos aqui que o treinador era maluco porque tinha metido os miúdos.

— Como faz a gestão dos jovens jogadores que, após jogarem contra o Alverca, podem ficar frustrados por não permanecerem nas escolhas?

— Azia vai haver sempre. A azia faz parte e quem não sente não é filho de boa gente. Agora, têm que transportar aquela azia e aquele desconforto de não jogar de início, para que, quando jogue, o demonstre e que o treinador pense coisas diferentes. Se levar a azia para a parte negativa, vai entrar e não vai corresponder e a seguir já nem entra. Eu tenho a sorte de ter um grupo que reconhece muita qualidade nuns para os outros. Não há egos, que por vezes existe, em grandes clubes. Não é que não existam estatutos, que existem, mas são estatutos onde se reveem uns nos outros e respeitam-se mutuamente. Ajuda-me muito a controlar as azias, porque percebem que o colega está melhor ou faz mais sentido para um certo jogo. e por mais que exista azia, nunca vai à, à azia negativa. Acho que o treinador também tem, por mais custe, perceber a rotação de um ou outro jogador e eles perceberem que é importante para o grupo. Porque ninguém está à espera de ser titularíssimo. Isso não existe. O Simões é um bom exemplo. Mudei em Nápoles e, ao início, diziam: 'Mas que é isto? Vai rodar jogadores em Nápoles, para a Champions?'. De repente, o Simões faz um jogaço do caraças, no jogo seguinte, o mister não mete o Simões e dizem que o Simões tem que ser titular. De repente, passo de maluco a maluco, mas ao contrário. Sou muito equilibrado e percebo que num momento ou outro, quando existe essa rotatividade, possa haver um jogador que sinta mais azia que outro. Mas, depois, vão percebendo que a equipa dá resposta e têm que se pôr à perna, porque senão não jogam mesmo. Para mim, treinador, é importante. Sentem-se todos úteis e isso é o melhor que pode existir num grupo. Sentem todos que têm possibilidades de jogar, seja o miúdo de 18 anos, seja o mais velho. E isso para mim é o que mais me ajuda a gerir essas azias. É estarem todos ligados. Espero que amanhã a malta que entre esteja ligada, porque os miúdos deram à perna e têm que que dar à perna, senão com a Juventus... out.

— Rayan Lucas foi destaque na pré-época, tem treinado com a equipa principal, acha que pode ter impacto num futuro próximo na equipa principal do Sporting? Quer contar com ele em definitivo?

— Essa decisão é mais para o final da época. Agora, a resposta que tem dado tem sido fantástica. Tanto é que é jogador da equipa B e treina connosco diariamente. É um miúdo que é internacional brasileiro sub-20, logo por aí dita bem aquilo que é a qualidade dele. Acho que tem umas condições muito boas para ser um grande jogador. Está numa adaptação também, ainda tem vícios de futebol brasileiro, mas tem um potencial enorme. Tem capacidade técnica, tem capacidade física e atlética, por isso, é um jogador que poderá ter um futuro muito bom, e acredito que possa passar pelo Sporting. É um bom menino, eu chamo-lhe o brasileiro malandro, mas é um miúdo muito humilde, gosta de ouvir, aceita, respeita muito os colegas e isso é bom. Se tiver a capacidade de se adaptar a pequenas coisinhas que vamos chamando a atenção, será um grande jogador.