A insustentável leveza do FC Porto
Os números são arrebatadores: 14 vitórias e um empate em 15 jornadas, 33-4 em golos e uma regularidade exibicional muito acima da média fazem deste FC Porto não só um líder incontestado do campeonato como o favorito, mesmo tendo em conta o potencial do Sporting que pelo facto de ter o escudo de campeão na camisola lhe dá um estatuto que pode e deve ser tido em conta nas projeções a médio prazo.
Mas chegados a esta fase do ano já dá para perceber que o trabalho e as ideias de Francesco Farioli estão muito além do estado de graça que é típico dos treinadores novos que trazem frescura e enquadramento diferentes. À medida que o tempo passa o dragão está mais consistente, a ponto de quando não brilha do ponto de vista coletivo ou exibicional permite que as suas individualidades se excedam nas zonas onde tal deve ocorrer: junto à área contrária. É aí - e só aí - que os treinadores pedem aos seus homens que soltem a criatividade, desde que o processo anteceda a tal última pincelada: segurança nas transições, agressividade à perda da bola, tentar vencer o adversário pelo cansaço.
Quando assim é, golos como o de Borja Sainz não são um acaso, mas uma consequência. Porque por detrás do remate em arco do espanhol está uma evolução da equipa em muitos aspetos. Como, por exemplo, a forma como Samu agora joga de costas, algo que o torna num ponta de lança mais envolvido no conceito geral, desde o pressing à finalização, passando pelos movimentos de associação que todos os grandes n.º 9 na Europa devem ter.
Este FC Porto voa sem pesos nas pernas. Na véspera do jogo, na antevisão da visita a Alverca, Farioli disse que em Portugal se fala muito (demais, até) sobre arbitragens e menos sobre o futebol jogado. Tem razão no reparo, mas perde-a quando decide trazer para fora Calabotes e demais quejandos porque essa não é a sua cultura e nem faz a mínima ideia do que está a falar, apenas se torna caixa de ressonância, o que reduz a sua figura. Valha a verdade que a forma como os azuis e brancos jogam e ganham em 2025/26 está muito acima de polémicas e erros de arbitragem. Afirmou o italiano que esta situação em particular está a perder sustentabilidade, mas é justo dizer que a insustentável leveza do dragão ainda supera ciclones. O desafio maior será a continuidade. Porque é dos livros: mais difícil que chegar ao topo é manter-se lá, onde o ar é rarefeito. Milan Kundera podia tê-lo escrito.