OPINIÃO Quarta Registada: E depois do adeus
Sérgio Conceição nas nuvens com a conquista da Taça de Portugal. FPF

OPINIÃO Quarta Registada: E depois do adeus

OPINIÃO29.05.202409:00

Nas últimas sete temporadas, o FC Porto foi mais de Sérgio Conceição do que de Pinto da Costa. Foi o treinador que conseguiu manter a equipa no topo mesmo quando os recursos eram substancialmente menos do que no passado rico e esbanjador. Conceição fez muito com muito menos

E depois do adeus, o ficarmos sós, neste caso sem futebol. Não fosse ano de Campeonato da Europa (e a Copa América), que nos ameniza a falta que ele nos faz no mês de junho – sobretudo enquanto a Seleção Nacional por lá andar, e todos esperamos que ande até ao fim –, e começaríamos a ressaca depois de nos embriagarmos com mais uma temporada de emoções, desta vez a imperar o verde e branco. Foi no entanto a azul e branco que se fez a última festa do ano, da Taça de Portugal, num jogo que marcou não apenas o fim da época de clubes mas também adeus em dose dupla: Pinto da Costa, já todos sabíamos; Sérgio Conceição, já todos imaginávamos.

Foram quarenta anos disto e sete anos daquilo. Quarenta anos em que o presidente se eternizou devido aos títulos ganhos – tudo a nível nacional e também internacional; sete anos em que o treinador deixou a sua marca nos 11 troféus conquistados. É que nas últimas sete temporadas, o FC Porto foi mais de Sérgio Conceição do que de Pinto da Costa. Foi o treinador que conseguiu manter a equipa no topo mesmo quando os recursos eram substancialmente menos do que no passado rico e esbanjador. Conceição fez muito com muito menos e se já confessou pura admiração e gratidão a Pinto da Costa, o antigo presidente deve-lhe o contrapeso para amenizar, em campo, as asneiras que os administradores da SAD fizeram fora dele. E Pinto da Costa não pode sacudir a água desse capote, ou não era ele o presidente?

Sérgio Conceição também fez mal. O comportamento que insistentemente teve no banco não pode ser uma imagem de marca. É que querer ganhar sempre é normal, a todo o custo já não pode ser. E não é só Conceição, são muitos outros que fizeram disso escola, ou que a continuaram… O legado de Pinto da Costa é vitorioso mas também é sombrio. E é isso que Villas-Boas herda. O desafio é enorme e as surpresas que vai encontrar não serão menores. Bastará deixar correr os dias… Cortar com o passado, com o que de mau esse passado teve, ficava-lhe bem, resta saber se o vai querer mesmo fazer, sabendo que à primeira bola que bater no poste o ricochete terá nele o alvo…

Como teve em Frederico Varandas em 2018 e até 2020. Foram precisos dois anos a cometer muitos erros e a levar com muitas balas para descobrir a arma que deu a volta à situação: Rúben Amorim. O treinador foi também escudo na hora da crítica e teimoso na hora de construir alguns plantéis – tome-se o último como exemplo: porque campeão, até nos esquecemos das vezes que o considerámos curto. A final da Taça veio lembrá-lo e a SAD já está no terreno para o equilibrar, se o trabalho for tão cirúrgico como no passado verão e acautelar também as saídas mais dilapidadoras, então os sportinguistas podem encarar a nova época com a esperança de nova era no futebol português. Até porque além do que se passa a Norte, também no rival de Lisboa a primeira bola a bater na barra poderá fazer mais ricochete em Rui Costa do que no próprio Roger Schmidt…

SELO DE GOLO

Ora então... e vão 11. A Taça de Portugal conquistada no domingo na final com o Sporting foi o 11.º e último troféu da era Conceição no FC Porto, o que faz dele o treinador com mais títulos em Portugal num só clube. Ouro sobre azul na despedida.