Francesco Farioli na passagem pelo Ajax
Francesco Farioli é o treinador que se segue no FC Porto

FC Porto: os fracos e os mestres do caos

Não basta aos dragões mudar de treinador. É fundamental que, além da qualidade técnica, os reforços possuam um perfil humano completo: personalidade, postura na vida, historial disciplinar e compromisso em campo. 'Estádio do Bolhão' é o espaço de opinião semanal do jornalista Pascoal Sousa

Na resposta a uma época dececionante, o FC Porto tinha de começar por algum lado e, normalmente, são os treinadores que pagam a fatura. Aconteceu com Vítor Bruno, protegido por Villas-Boas até não haver mais margem para segurar o treinador que a esmagadora maioria dos portistas queria ver como sucessor de Sérgio Conceição. O líder portista justificou a saída de Vítor Bruno com a quebra de confiança entre jogadores e treinador.

Apesar de um início promissor com a conquista da Supertaça e uma boa entrada na temporada, os problemas surgiram em janeiro, com derrotas consecutivas frente ao Sporting (Taça da Liga), Nacional e Gil Vicente. Esta fase foi agravada por episódios disciplinares envolvendo jogadores como Tiago Djaló e Pepê, entre outros casos que possivelmente nem chegaram ao conhecimento público. O mesmo desafio enfrentou Martín Anselmi. Embora tenha cometido erros, a construção do plantel não foi, naturalmente, um deles. Anselmi herdou fragilidades e a perda de jogadores importantes como Nico e Galeno, persistindo num modelo que não se adequava nem aos recursos disponíveis, nem às necessidades do clube. O grupo, que claramente prevalece sobre o treinador e foi insensível aos múltiplos apelos feitos por Villas-Boas ao longo da época, manteve hábitos e comportamentos, no mínimo, desviantes, de que o aniversário noturno de Otávio foi o exemplo mais gritante.

Este cenário evidencia um problema estrutural no FC Porto que vai além do perfil do treinador. A chegada de Francesco Farioli não resolverá a situação se não forem tomadas medidas profundas. Uma remodelação na estrutura de futebol deve ser acompanhada por uma reformulação criteriosa do plantel. É necessário descartar os elementos mais fracos, sem a mínima qualidade para estar no FC Porto, e afastar os maus exemplos, reforçando a equipa com jogadores que tragam valor acrescentado. Gabri Veiga é um excelente exemplo de como o clube deve orientar-se no futuro, mas serão necessários mais cinco ou seis nomes deste calibre para alavancar a equipa.

À qualidade dos reforços é preciso aliar o lado humano do jogador, que abarca tudo: características como futebolista, a personalidade e forma de estar na vida, a sua folha disciplinar no passado e o seu compromisso em campo. E se algum destes atributos não existe em jogadores que já lá estão, e que se sentem protegidos pelo estatuto que ganharam, então será preciso coragem para ir mais a fundo e... dar um murro na mesa. Mas um murro na mesa planeado, com defendeu, e bem, Anselmi. Cabe agora a Farioli dar forma a essa nova dinâmica do FC Porto e recuperar traços de personalidade que se perderam na atribulada época 2024/2025.