Amorim, Conceição e Schmidt: as diferenças
Roger Schmidt, treinador do Benfica (IMAGO / ZUMA Wire)

Amorim, Conceição e Schmidt: as diferenças

OPINIÃO05.11.202309:27

Roger Schmidt demonstra indiferença pelo comportamento dos adeptos

Este período é marcado por uma grande carga de jogos. Se os resultados aparecem, o trabalho do treinador fica facilitado. A avaliação é diferente quando as coisas não correm bem e é nesses momentos que os treinadores demonstram a sua mais valia, na forma como seguram o barco e definem o caminho a seguir por todos.

Rúben Amorim: todos contam

No ano passado o Sporting ficou em quarto lugar, abaixo das expetativas iniciais. Perdeu o acesso à Liga dos Campeões, mas manteve-se coeso. Economicamente, está mais estável, com um maior controlo dos custos operacionais e com vendas consideráveis de jogadores. Estes dois fatores permitiram à SAD leonina não só ter a capacidade de estar tranquila num ano sem Champions como, em simultâneo, efetuar um investimento considerável na contratação de alvos definidos. Outro ponto importante prende-se com a capacidade de resistir à pressão dos resultados negativos, e aqui temos de realçar dois aspetos cruciais. Por um lado, a administração nunca deixou o seu treinador sozinho, pelo contrário, por diversas vezes reforçou a confiança no seu timoneiro, por outro, o próprio treinador foi determinante para essa blindagem. Apesar de muitas coisas não correrem bem, Rúben Amorim teve sempre a capacidade de assumir os seus erros e convicções, de dar a cara, de comunicar para dentro e para fora e de nunca se ter virado contra os seus, apesar de terem existido oportunidades de sair para clubes de maior dimensão. Num momento da época em que existe pouco tempo para preparar os jogos, a comunicação ganha importância adicional. O treinador do Sporting tem uma capacidade de comunicação invulgar, nos bons e nos maus momentos. Reforça a confiança nos jogadores, assume o erro mas não os deixa cair (que o diga Adán), reforça a importância do coletivo e aponta o caminho. Se, há três anos, o lema era jogo a jogo, este ano o objetivo é ser campeão e vencer as competições em que está inserido. Qual o motivo desta mudança de discurso? O crescimento da sua equipa, em termos individuais e coletivos (muito mais dominadora do que há três anos), e a experiência que adquiriu com os maus momentos que atravessou no último ano. Inteligente e perspicaz, não só passa esta confiança à sua equipa como envia uma mensagem aos adeptos, tornando-os mais exigentes e, em simultâneo, mais motivados e crentes no sucesso da sua equipa. Rúben sabe tão bem como nós que quando as equipas conseguem criar momentos positivos as coisas dentro do relvado tornam-se mais simples. Em resumo, Rúben é uma mais-valia no balneário (todos contam, como se viu no jogo com o Farense), no trabalho das dinâmicas coletivas, na abordagem a cada jogo, na forma como mexe dentro do próprio jogo e também na forma positiva e clara como comunica com adeptos e jogadores.

S. Conceição: exigente com todos

Muitas vezes, Sérgio Conceição dá-nos a ideia de que tem duas caras: uma quando ganha e outra quando perde. Como já referiu por diversas vezes, fica com muita azia quando as coisas não lhe correm de feição. Essa azia reflete-se em alguns comportamentos que não são corretos e que não beneficiam em nada a sua imagem. No entanto, se há uma coisa que ninguém lhe pode apontar é falta de exigência. Não só com os jogadores e consigo próprio, mas com todos aqueles que fazem parte do seu dia a dia. Quando a equipa não consegue atingir os objetivos, Conceição cobra dos seus jogadores, de uma forma coletiva e internamente. Gera revolta, mostra insatisfação, cria reação e mexe com o seu balneário. É um treinador exigente e que coloca muita pressão nos seus atletas (e em si próprio), incutindo-lhes uma enorme competitividade em cada momento da época. Independentemente de ter equipas com menor investimento que os rivais (em função das dificuldades financeiras da SAD azul e branca), nunca arranja desculpas e assume sempre o objetivo de vencer as competições internas. Nunca está satisfeito e quer sempre mais. Em função da menor capacidade para ir ao mercado, adapta a sua forma de jogar às características dos atletas. Não perde ADN, mas altera dinâmicas. Tenta criar condições para potenciar as capacidades dos ativos que tem à disposição, como é o caso de Galeno, a quem muitas vezes são criadas situações de 1x1. Estrategicamente é perspicaz, estuda e analisa bem os adversários e trabalha nesse sentido. Não desvaloriza ninguém e demonstra-o constantemente nas suas intervenções (como foi o exemplo da conferência antes do jogo com o Estoril). É exigente com os seus atletas, mas não os deixa cair. David Carmo é o melhor exemplo, mas há outros, como Diogo Costa quando teve um jogo menos conseguido com o Liverpool e no banco de suplentes estava Marchesín. Nos momentos menos bons não espalha sorrisos, mas reage e obriga a reagir. Implementa o ADN Porto, que é caracterizado por nunca desistir ou baixar os braços. A sua liderança passa pela criação de um balneário unido, onde o coletivo se sobrepõe ao individual, e por uma organização coletiva trabalhada ao pormenor.

R. Schmidt: não vê, não ouve e não percebe

A chegada de Roger Schmidt transformou, de uma forma rápida, o Benfica. A sua ideia passou rapidamente para os jogadores, que conseguiram pôr em prática a pressão asfixiante que caracteriza as equipas de RS. Conseguiu acrescentar uma qualidade ofensiva que não víamos há muito nos encarnados. O impacto das suas ideias foi notório e fez sonhar os adeptos. Apesar de toda esta onda que foi criada, nos momentos decisivos da época a equipa baixou o rendimento e somente na última jornada é que conseguiu vencer o campeonato. Na Liga dos Campeões caiu aos pés do Inter, apesar de muitos entregarem o favoritismo aos encarnados. Um dos aspetos apontados para um menor rendimento no final do ano desportivo foi a ausência de soluções que complementassem o onze mais utlizado. No início deste ano, tudo mudou. Foram contratados jogadores que trouxeram mais opções a Roger Schmidt e foi criada a ilusão de que não só se podia repetir a qualidade apresentada no último ano como esta até podia ser mais duradoura, tendo em conta a qualidade que foi colocada à disposição do treinador. Esta expectativa não tem sido justificada. Estranhamente, a equipa perdeu qualidade de jogo e a característica típica das equipas de Schmidt (pressão constante) desapareceu. O momento não é o melhor, com muita desconfiança à mistura. A comunicação, as opções e a gestão do plantel tornaram-se confusas, refletindo-se no comportamento dentro do relvado. O treinador encarnado está a tentar corrigir um problema coletivo pela via individual, como é exemplo a utilização de um sistema de três centrais, que não está rotinado e que aposta na qualidade dos jogadores para resolver os problemas. Outra questão que salta à vista é a incapacidade de RS conseguir comunicar para fora, seja a explicar as suas opções ou a mexer com os adeptos. O facto de não assumir responsabilidades, na planificação, nos resultados, nas exibições e até na organização dentro do relvado, desvalorizando o mau momento que a equipa atravessa, demonstra alguma falta de conhecimento da dimensão do clube que representa. No futebol, todos os pormenores são importantes. Por fim, há aqui um ponto que tenho de realçar. Roger Schmidt faz questão de sublinhar que não vai aprender a falar português, que é muito difícil. As perguntas na conferência de imprensa são feitas em inglês. O treinador alemão tem três anos de contrato. Sendo um dos assalariados mais bem pagos de Portugal deveria haver algum compromisso por parte do técnico neste sentido, aliás, na Alemanha, para se poder treinar, uma das condições é saber falar alemão! Mas pior do que desvalorizar constantemente a aprendizagem da língua portuguesa é utilizar esse facto para referir que não tem noção de alguma contestação e que não falar português é uma vantagem neste ponto. Além da falta de compromisso, demonstra também indiferença pelo comportamento dos adeptos e não reconhece ou percebe a importância de saber comunicar com o balneário e com o exterior na língua do país, o que lhe podia trazer outros benefícios. A realidade é que, ao contrário do último ano, Roger Schmidt não está a conseguir acrescentar valor em qualquer uma das áreas que domina: organização dentro do relvado, liderança, união e comunicação. A forma como vai gerir este momento menos positivo será determinante para o sucesso ou insucesso da época encarnada.

A valorizar

Abel Ferreira 

Uma reviravolta histórica num jogo épico (3-4) frente ao líder do campeonato brasileiro, o Botafogo. Um dos pontos fortes de Abel é saber mexer com a cabeça e sentimentos dos jogadores. Mais uma vez teve essa influência e ajudou o Palmeiras a vencer um jogo que ao intervalo perdia por 3-0.

A desvalorizar

FC Porto

Na sua melhor fase da época e a uma semana do dérbi lisboeta, perde três pontos que podem ter muita influência na luta pelo título.